14 Fevereiro 2014
O arcebispo de Canterbury irá convocar a comunidade anglicana para abraçar uma “mudança cultural na vida da Igreja” e abandonar velhos medos, desconfianças e preconceitos na medida em que a introdução de episcopisas se aproxima.
A reportagem é de Sam Jones, publicada pelo The Guardian, 12-02-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Em seu discurso ao Sínodo Geral, em Londres na quarta-feira (12-02-2014), Justin Welby refletirá sobre o amor e o medo na esteira de suas recentes viagens ao Sudão, Burundi, Ruanda e à República Democrática do Congo e pedirá aos fiéis para encontrarem novas formas de trabalho conjunto.
Seu apelo vem um dia após o Sínodo ter aprovado planos para acelerar a legislação que poderá permitir a escolha de uma primeira episcopisa até o final deste ano.
“Nós concordamos – e se Deus quiser iremos seguir neste caminho durante os próximos meses até que isso constitua parte de uma medida acordada – que ordenaremos episcopisas”, dirá o líder religioso.
“Ao mesmo tempo, concordamos que queremos, ao proceder asism, fazer com que todas as partes da Igreja floresçam. Se quisermos desafiar o medo, precisamos encontrar uma mudança cultural na vida da Igreja, na forma como nossos grupos e partidos trabalham para construir o amor e confiança. Na prática, isso vai significar maneiras diferentes de se trabalhar em todos os níveis da Igreja, na forma como nossos encontros são estruturados, apresentados e vividos.
Welby dirá ser vital que uma “enorme disciplina” seja exercida ao se fazer novas nomeações, dando a entender que ele faz questão de garantir que aqueles que se opõem à criação de episcopisas não acabem se sentido alienados ou preteridos.
Na terça-feira, membros do corpo diretivo da Igreja Anglicana votaram para remover a Lei do Ministério Episcopal, do Sínodo de 1993, o que ajudou a manter a Igreja unida ao fornecer os assim chamados “flying bishops” [literalmente, “bispos voadores”] para cuidar de paróquias que rejeitaram a ordenação de mulheres.
Por uma margem de 358 a 39, os membros votaram a favor de se ter um período de seis meses para consulta sobre a nova legislação, de forma que as respostas das dioceses estariam prontas para serem levadas em consideração no próximo encontro do Sínodo, a ocorrer no mês de julho. Nove membros do Sínodo se abstiveram.
No âmbito das medidas – que ganhou apoio esmagador no último encontro do Sínodo, ocorrido há três meses –, às episcopisas seria apresentado um “manifesto” da Câmara dos Bispos com orientações para as paróquias em que as congregações as rejeitarem.
Os planos incluirão a criação de um ombudsman, nomeado pelos arcebispos e com o apoio de representantes leigos e do clero no Sínodo, que decidiriam sobre as disputas um vez que as episcopisas estiverem instaladas. O sacerdote que não cooperar com o ombudsman poderá estar sujeito a um processo disciplinar.
Agora que o pacote abriu a fase de revisão – e se lhe for dada a aprovação final quando o Sínodo estiver reunido em julho –, a nova legislação poderá entrar em vigor em novembro, e uma episcopisa poderia ser escolhida no mês seguinte, dezembro.
Em seu discurso, Welby também dirá: “Todos sabemos que o amor perfeito expulsa os medos (...) Sabemos disso, embora nem sempre o coloquemos em prática. Nós sabemos, principalmente, que o medo perfeito expulsa o amor. Em qualquer instituição ou organização, o momento em que reina a suspeita e que a suposição segundo a qual nada é válido torna-se dominante – quer dizer, quando o ganho alheio deve significar perda de minha parte; que não é possível nós dois florescermos –, neste momento a instituição encontra-se cada vez mais dominada pelo medo”.
Apesar de reconhecer que a Igreja Anglicana não está “arrumada nem é eficientemente hierárquica”, os arcebispos sublinharão a necessidade pela unidade, a cooperação e cautela, uma vez que se aproxima o fim do impasse de duas décadas sobre trazer as mulheres para dentro do episcopado.
O bispo de Rochester, Dom James Langstaff, que presidiu o comitê que apresentou o novo pacote de mudanças, afirmou esperar que o novo acordo vá ao encontro da aprovação final em julho, mas que não está “pondo a carroça na frente dos bois”, especialmente após a votação desastrosa de novembro de 2012, que assistiu a movimentos para a introdução de episcopisas serem derrotados por apenas 6 votos.
“Esperamos que o formato diferente do processo que estamos realizando leve à aprovação final, caso contrário não estaríamos levando-o até esta fase”, afirmou.
“Mas até que os votos sejam, de fato, contados seria prematuro supor que as mudanças estão aprovadas.”
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Justin Welby aos fiéis anglicanos: abandonem velhos medos e deem boas-vindas às episcopisas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU