13 Fevereiro 2014
O processo de canonização é um processo longo, tecnicamente complicado e, finalmente, requer a aprovação do papa, mas é algo, primordialmente, conduzido pelos católicos nos bancos das Igrejas e, principalmente, por aqueles que se colocam de joelhos.
A reportagem é de Cindy Wooden, publicada no National Catholic Reporter, 08-02-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A Congregação para as Causas dos Santos e os promotores oficiais das causas - conhecidos como postuladores - fazem a "papelada", mas, se não há nenhuma evidência de devoção generalizada a um candidato, nenhuma visita ao túmulo da pessoa, nenhum relato de favores e milagres recebidos através da intercessão do santo em potencial, a causa fica onde está. Muitas vezes, por séculos.
O padre jesuíta Marc Lindeijer, postulador assistente das causas dos santos para a Companhia de Jesus, diz que não vê nenhum problema na espera.
Pelo contrário, na opinião do padre holandês, quanto mais o tempo passa, mais certeza a Igreja pode ter da importância duradoura do testemunho de um candidato a santo.
"Acho que o processo tem que ser longo e complicado", disse. A declaração solene de que uma determinada pessoa está no céu com Deus e é digna de devoção católica global "tem que ser tratada com cuidado".
"Não é o Vaticano que pede uma canonização, é o povo", disse ele. Nada acontece sem pressão popular no início.
Isso ajuda a explicar o porquê de os membros de ordens religiosas ocuparem a maioria dos lugares no calendário da Igreja e por que os santos leigos são tão poucos.
"Pode-se dizer que uma ordem religiosa é um lobby mais forte por uma causa", encorajando os seus membros e as pessoas às quais ela serve a rezarem para o santo e informarem quaisquer favores recebidos, disse Lindeijer.
Geralmente, para a canonização, a Igreja exige uma demonstração de que a devoção popular a um candidato se estendeu por um longo período de tempo. A canonização, disse Lindeijer, "não é um selo de aprovação" de como alguém viveu a sua vida, mas é uma maneira para que a Igreja proponha essa pessoa como um exemplo para os católicos de hoje e de amanhã.
Por exemplo, a diocese de Macerata, na Itália, concluiu recentemente a fase preliminar da causa de santidade de seu filho nativo, o padre jesuíta Matteo Ricci, o missionário do século XVI à China. A causa também recebeu um forte apoio de bispos chineses, disse Lindeijer.
No entanto, ele teme que, fora de Macerata e da China, Ricci seja admirado por sua erudição e abordagem culturalmente sensível ao trabalho missionário, mas não necessariamente venerado como santo. Para promover sua causa com sucesso, Lindeijer terá que responder a pergunta: "As pessoas estão rezando para Matteo Ricci?"
"Uma devoção popular maciça" é ainda mais importante do que os milagres verificados para decidir se se deve ou não canonizar alguém, disse Lindeijer. Quando "o culto é claro e muitas pessoas recebem muitas graças rezando para eles", o papa pode dispensar a exigência de um milagre atribuído à intercessão do candidato.
Por exemplo, o Papa Francisco vai canonizar o Bem-aventurado João XXIII no dia 27 de abril, embora não haja nenhum decreto papal reconhecendo um milagre específico. Ele fará o mesmo, ainda este ano, com o Bem-aventurado José de Anchieta, missionário do final do século XVI no Brasil, e os beatos Marie de l'Inncarnation e François de Laval, que eram missionários no Canadá em 1600.
Lindeijer disse que deixar de lado a exigência de um milagre é uma exceção menos grave do que a redução do período de espera após a morte de um candidato.
O Código de Direito Canônico de 1917 estipulou que uma causa à santidade não poderia se aberta menos de 50 anos após a morte do candidato. O Papa João Paulo II encurtou o período para cinco anos, mas deixou até mesmo isso de lado para Madre Teresa de Calcutá. Um mês após a morte do Papa João Paulo II, o Papa Bento XVI anunciou que tinha deixado de lado o período de espera para a causa do seu predecessor.
"Eu nunca acreditei em 'santo subito'", disse Lindeijer, referindo-se aos pedidos de canonização do Papa João Paulo II, imediatamente após a sua morte.
"A fama vai e vem, e fama de santidade, como o Papa Bento XVI disse, com razão, é algo que deveria estar sempre crescendo", disse ele. "Quando esse fenômeno pode ser comprovado, isso mostra que o Espírito Santo está em ação."
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Devoção popular, um fator-chave para o processo de canonização - Instituto Humanitas Unisinos - IHU