Por: Jonas | 20 Setembro 2013
"Deixemos Francisco ser homem. Não o mitifiquemos muito, pois, então, cairemos na tentação de colocar em primeiro lugar nossa própria ilusão particular e acreditar que a Igreja terá se renovado, caso cumpra o que eu desejo", considera o teólogo José González Faus, em artigo publicado em seu blog Miradas Cristianas, 18-09-2013. A tradução é do Cepat.
Fonte: http://goo.gl/ymfrcE |
Eis o artigo.
Às vezes, a história dá algumas voltas incríveis e temo que dentro de pouco tempo vejamos toda a esquerda eclesial gritando “totus tuus”, com o mesmo fervor no qual, nos tempos de Wojtyla, outros setores eclesiais gritavam. Inclusive, possivelmente, no lugar de “João Paulo II, todo o mundo te quer”, agora, as ruas se encham de progressistas que gritem algo assim como “Francisco, Francisco, está provocando um alvoroço”... Por outro lado, os editoriais estão todos convertendo o novo papa em sua fábula de ouro, onde vão buscar grandes benefícios, nestes tempos de crise e com IVAs [imposto] de 21%....
Pessoalmente, e ainda compreendendo o respiro que Francisco possa ter significado para muitos membros do povo de Deus, sentir-me-ia mais cômodo se as temperaturas papais se moderassem um pouco. Em primeiro lugar, em razão de que “existem amores que matam” e não acredito que esses fervores façam bem ao próprio Papa. E, depois, porque nunca está completamente excluída a possibilidade do título daquele filme: “mais dura será a queda”.
Deixemos Francisco ser homem. Não o mitifiquemos muito, pois, então, cairemos na tentação de colocar em primeiro lugar nossa própria ilusão particular e acreditar que a Igreja terá se renovado, caso cumpra o que eu desejo: o teólogo condenado, que seja reabilitado pelo papa; o padre casado, que o celibato seja suprimido; a freira impaciente, que o ministério lhe seja concedido... E mais de dois de nós na tentação de não saber perdoar, e deleitando-se em colocar no pelourinho aqueles que nos maltrataram, querendo ou sem querer. Mau caminho.
Deixemos Francisco ser homem. Nesse momento, há algo para agradecer: seus primeiros seis meses são parecidos com o título da primeira obra de Urs von Balthasar, que se chamava “Schleifung der Bastionen” (derrubada dos bastiões), quando Balthasar era um teólogo jovem, muito mais aberto do que foi depois. Francisco soube derrubar discretamente uma série de trincheiras e muros de contenção que o fez ganhar o carinho de um povo de Deus que se afogava nas paredes eclesiais. Entretanto, está recebendo também a hostilidade de setores eclesiásticos que, como Caifás, temem que agora venham os romanos “e que fiquem com nosso lugar e nossa casa”, embora, nesse momento, não parecem saber como reagir.
Não será fácil para ele, e seria importante que nós não o dificultemos mais ainda as coisas com nossas impaciências radicais. Agora, que está vivo o aniversário do 11 de setembro no Chile, é bom lembrar que tanto as direitas intolerantes, como os radicalismos do MIR, dificultaram tanto as coisas para Allende, que acreditavam que havia chegado a hora de pedir a lua ou cada um a sua lua.
Não o conheço pessoalmente. Porém, não tenho a sensação de que o irmão Francisco tenha uma teologia de primeira linha. Sim, parece-me que tem uma experiência evangélica muito profunda, que até quase me aventuraria a dizer que é fruto de alguma conversão ou alguma graça especial, dada a tranquila segurança com que se move nela.
As coisas de palácio vão lentamente e as da Igreja costumam ir mais devagar. Diante da imensa tarefa que tem adiante, não restam muitos anos para. Se, no momento, a Igreja se orientasse a ser de verdade Igreja “dos pobres”, de um modo decisivo e sem retorno, e se, além disso, o bom estrategista que parece ser Francisco conseguisse uma profunda e radical reforma da Cúria Romana, já teria que se entoar vários Te Deum(s).
O que acredito que todos nós deveríamos tentar é colaborar ao máximo nesta direção, sem querer marcar cada um a agenda papal. Muitos desejos pessoais terão que esperar. Contudo, recordemos que é próprio de quase todos os Moisés olharem a terra prometida, sem chegar a entrar nela...
Recordemos o sábio refrão: o bem não faz barulho e o ruído não faz bem. Temo, sinceramente, que Francisco esteja fazendo (ou melhor, nós o estejamos fazendo realizar) muito.
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Moderação papal. Artigo de José González Faus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU