17 Junho 2013
A nomeação desse sábado do bispo Battista Mario Salvatore Ricca como prelado da IOR é apenas o primeiro ato de uma revolução que, até o fim do ano, levará a Cúria Romana a mudar completamente de pele. O dia 29 de junho, em particular, festa dos santos Pedro e Paulo, é uma data considerada importante.
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada no jornal La Repubblica, 16-06-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Neste dia, podem ser anunciados as substituições de alguns chefes de dicastério, "promoções" úteis para redesenhar a governança vaticana. Ao mesmo tempo, deslocamentos que permitirão ao papa transmitir aos postos que importam energias novas e principalmente pessoas da sua estreita confiança.
Sobre o nome do novo secretário de Estado, ao contrário, há a máxima reserva. Assim como sobre a data do anúncio. Até o momento, na pole position, está o atual presidente do Governatorato da Cidade do Vaticano, Giuseppe Bertello, que, no rastro do que desejava a Pastor Bonus de Paulo VI (a constituição apostólica dedicada justamente à Cúria Romana), se nomeado, manteria ambos os cargos.
Alternativamente, outro nome muito considerado por Bergoglio é o do atual núncio na Venezuela, Pietro Parolin, ex-número três da própria Secretaria de Estado. Certamente, o "nó Bertone" ainda não foi completamente desfeito: o secretário de Estado quase octogenário, de fato, parece apontar para uma clamorosa, embora improvável, prorrogação de um ano.
O "dossiê IOR" preocupa muito o papa. Sobre a mesa, não está apenas a notícia da investigação aberta pela procuradoria da República de Salerno sobre Dom Nunzio Scarano, responsável pelo serviço de contabilidade analítica da Administração do Patrimônio da Sé Apostólica (Apsa) – o dicastério que gerencia os bens do Vaticano – pela hipótese de lavagem de dinheiro.
Há também rumores cada vez mais insistentes segundo os quais, em breve, a magistratura italiana poderia intervir com um procedimento diretamente sobre a cúpula do instituto bancário vaticano. Uma ação que nocautearia definitivamente a imagem de uma instituição que, para Francisco, continua sendo "necessária até um certo ponto".
Por isso, ele decidiu, como primeira medida, trazer Dom Ricca para dentro do IOR, que poderá controlar todas as cartas, as contas e relatar a ele mesmo. Assim como em 2006, pouco antes da renúncia, quando o então secretário de Estado vaticano, Angelo Sodano, nomeou como prelado o seu secretário Piero Pioppo, que de fato pôde monitorar as operações dentro do IOR de Bertone, sucedido, nesse meio tempo, pelo próprio Sodano, assim também a medida desse sábado do papa parece ser uma operação de controle de um instituto cuja cúpula ele ainda não recebeu.
O cargo de Ricca é ad interim, até porque, no futuro, toda a estrutura do IOR deverá mudar completamente de modo que, com toda a probabilidade, não haverá mais a necessidade de um prelado. De instituição bancária, onde, com os justos conhecimentos e recomendações, até mesmo cidadãos fora do Vaticano podem abrir contas e fazer depósitos em dinheiro sobre cuja origem ninguém faz perguntas, o IOR será transformado em uma sociedade encarregada de gerir autonomamente os investimentos respondendo sobre a sua operação exclusivamente ao papa.
O modelo é o Instituto Toniolo, caixa-forte da Universidade Católica de Milão, que, dentre outras coisas, se ocupa de "trabalhar pelo progresso e pelo desenvolvimento das atividades" da própria universidade. Além disso, não foi por acaso que, apenas dois dias antes da eleição de Bergoglio, aquele que foi presidente do IOR antes de Ettore Gotti Tedeschi, o ambrosiano Angelo Caloia, pessoa ainda muito ouvida do outro lado do Tibre, declarou a necessidade de um "retorno às origens" do próprio IOR, um órgão de assistência às instituições católicas e aos seus investimentos, e nada mais.
O novo prelado Ricca é diretor da Domus Sanctae Marthae, a casa onde o papa mora. Ao mesmo tempo, ele dirige outros "hotéis" eclesiásticos, inclusive a Domus Internationalis Paulus VI, na Via della Scrofa, em Roma. Lá, ele alojou Bergoglio antes do conclave. O papa fechou a conta com Ricca no dia depois que foi eleito papa. Ricca esteve muito perto de Bergoglio nesses meses. Diz-se até que o novo papa o confessou várias vezes. Entre os dois, enfim, nasceu uma amizade. E, acima de tudo, entre os dois existe uma grande confiança.
"A nomeação de Ricca tem efeito imediato", diz um comunicado da Sala de Imprensa vaticana, sinal de que Francisco não quis perder tempo: o instituto tem sua sede dentro dos muros leoninos deve ser monitorado.
Pouco antes do conclave, gerou muita discussão entre os cardeais reunidos em Roma a decisão repentina de Bertone de nomear, quando Ratzinger já havia anunciado a sua renúncia, como presidente do IOR, o advogado alemão Ernst von Freyberg. Uma nomeação que o Colégio Cardinalício digeriu mal, assim como Bergoglio. E as coisas pioraram ainda mais quando, no dia seguinte à própria nomeação, soube-se que a indústria da qual von Freyberg é presidente desde 2012 é um gigante da construção naval que também produz material militar.
Quando os jesuítas recebem um novo cargo, tomam três meses de tempo para terem uma ideia da situação antes de agir. Os três meses de Bergoglio no sólio de Pedro expiraram há três dias. Agora, para o papa, é hora de agir. Não por acaso, para apoiá-lo neste momento, chegou a Roma um dos cardeais do chamado Conselho da Coroa, o cardeal George Pell, arcebispo de Sydney.
Ao mesmo tempo, em alguns dias chegará o cardeal Claudio Hummes, emérito de São Paulo, que sugeriu a Bergoglio no conclave o nome de Francisco.
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Começa a revolução da Cúria, do IOR à Secretaria de Estado - Instituto Humanitas Unisinos - IHU