Por: Jonas | 10 Mai 2013
Cerca de 80.000 estudantes marcharam, em Santiago do Chile, exigindo do governo uma educação pública gratuita e de qualidade. “Se não pressionarmos, as mudanças não chegarão e a segregação que existe na educação continuará”, disse o presidente da Federação de Estudantes da Universidade Católica, Diego Vela. Os máximos representantes da Confederação de Estudantes do Chile (Confech) e outras associações de estudantes e docentes exigiram que o presidente chileno, Sebastián Piñera, cumpra seus compromissos, destacando a perda de bolsas de cerca de 3.000 alunos, nas últimas semanas. “É pouco provável que o governo mude sua maneira de abordar as demandas do movimento estudantil”, reconheceu Andrés Fielbaum, presidente da Federação de Estudantes da Universidade do Chile.
A reportagem é publicada no jornal Página/12, 09-05-2013. A tradução é do Cepat.
Pelas ruas de Santiago, os jovens fantasiados, agitando-se com banners, avançaram abaixo de um férreo controle policial, desdobrado em dezenas de quadras, desde a Estação Central até o Parque de los Reyes. Centenas de jovens, incluindo alguns de 12 anos, foram submetidos a revistas policiais, antes da marcha começar, o que originou enfrentamentos isolados com as forças da ordem.
De sua parte, Piñera admitiu que foi difícil assumir a presidência e criticou os milhares de protestos ocorridos sob o seu mandato. Ao enfrentar uma nova marcha estudantil, reiterou sua distância em relação às propostas de centro-esquerda e os movimentos sociais. “É seu direito, podem marchar todos os dias se quiserem, mas queremos que isso não acabe em violência”, disse Piñera, que conta com um apoio em baixa, de 34%, segundo pesquisas recentes. O presidente descartou aceitar as solicitações dos jovens. “Acredito que o Estado não tem direito de monopolizar a educação, o dinheiro de todos os chilenos não deve ir para a educação dos mais ricos”, acrescentou. O presidente chileno disse, além disso, que não é partidário de reformar a Constituição para acomodar a demanda dos estudantes.
No Chile, em razão das reformas impulsionadas na ditadura militar (1973-1990), o Estado perdeu progressivamente seu lugar na educação e, inclusive, as universidades públicas começaram a cobrar de seus estudantes. Na atualidade, apenas 36% da educação escolar é pública e um número semelhante em nível universitário, segundo números oficiais. Portanto, as famílias devem pagar até 900 dólares mensais nas universidades públicas para que seus filhos estudem, o que as obrigam a se endividar ou pedir bolsas, quando pertencem aos segmentos mais pobres da população. Nos lares mais pobres, apenas 65% dos jovens conseguem terminar o colegial antes dos 24 anos. Ao contrário, nos lares mais ricos, os jovens desse grupo de idade possuem de um a dois anos de estudos superiores, nessa mesma idade.
O Chile, que é membro da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e que conta com uma renda per capita que se aproxima dos 20.000 dólares, apresenta uma desigual distribuição dos rendimentos. Por exemplo, as 300 famílias mais ricas concentram 11% da renda do país, onde praticamente existe pleno emprego. Além disso, os 20% dos lares mais ricos obtêm mais rendimentos mensais do que todos os outros 80% de seus compatriotas.
Em contraposição a Piñera, o candidato presidencial do Partido Progressista, Marco Enríquez Ominami, retrucou que a gratuidade e a integração educacional deve ser o horizonte da política no futuro. Mesmo assim, a ex-presidente e candidata socialista Michelle Bachelet sustentou que é preciso avançar na gratuidade, descartando que esta beneficie os ricos.
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Estudantes chilenos pressionam Sebastián Piñera - Instituto Humanitas Unisinos - IHU