Por: Jonas | 24 Abril 2013
Eleazar Díaz Rangel dirige o jornal Ultimas Noticias, o de maior circulação na Venezuela. Vende 180 mil exemplares de segunda até sábado e 320 mil aos domingos. O jornal foi fundado em 1941 e é considerado um tabloide popular, que trata de ter uma linha editorial equidistante, embora seja certo que na rua alguns leitores o percebem como próximo da situação. Díaz Rangel, presidente fundador da Federação Latino-Americana de Jornalistas, disse ao jornal Página/12 que a oposição comete um erro ao desconhecer a posse de Maduro e que no país houve clima de golpe de Estado.
A entrevista é de Mercedes López San Miguel, publicada no jornal Página/12, 23-04-2013. A tradução é do Cepat.
Eis a entrevista.
Como você avalia o papel dos meios de comunicação nesta campanha?
O papel da maioria dos meios de comunicação foi em favor do candidato da oposição, mas assim tem sido a conduta dos últimos dez anos. Boa parte da força da oposição está mais na mensagem midiática do que na estrutura de partidos. Os meios de comunicação são sua peça fundamental.
Desde 2002, o governo incentivou uma rede de meios de comunicação públicos, não neutralizam os privados?
Eu acredito que fracassaram. Por exemplo, há 200 emissoras de rádio comunitárias no país e ninguém sabe sua eficiência, nem até onde chegam com as audiências. Algumas competem com as rádios privadas, mas é um espaço desaproveitado. A maioria das emissoras são antigovernamentais e comentam as opiniões da imprensa antichavista. Há um desequilíbrio em consequência da falta de capacidade dos meios de comunicação do Estado, que não tem nada a ver com os recursos, nem com o técnico.
Também o canal “Telesur”?
A “Telesur” cumpre um papel importante para saber o que ocorre na América Latina. Em relação à informação nacional, não compete com outros canais. “Venevisión” e “Televen” são os canais mais vistos, concentram 70% da audiência. Antes eram antigoverno, depois do referendo de 2004 foram mais equilibrados e agora voltaram a ter um viés favorável à oposição, possivelmente porque viram na ausência de Chávez a possibilidade para que Capriles vencesse.
O canal “Globovisión” é marcadamente opositor e seu presidente, Guillermo Zuloeaga, afirmou que vendeu o canal porque, segundo disse, “tornou-se inviável econômica e politicamente”. Possui uma audiência de 8%, a mesma da “Venezolana de Televisión” (VTV), que é um canal do Estado. Um é totalmente a favor da oposição e a outro a favor do Estado. O canal “Globovisión” tem muita entrada nos setores da classe média. Zuloaga vendeu uma parte significativa das ações, cerca de 50%, para um grupo de uma companhia de seguros. Os novos donos não anunciaram como será o canal, nem foram vistas mudanças, imagino que seja pela forma convulsionada como está agora toda a situação no país. Para mim disseram que não vão mudar a política editorial, serão críticos, mas sem cair em excessos.
Você apoiou a recontagem de votos e, ao mesmo tempo, disse que o resultado é irreversível. Não vê nisto uma contradição?
Mesmo que os resultados serão confirmados, e não há motivo para duvidar de um sistema que realiza 14 auditorias antes da eleição e uma posteriormente, dos 54% do sufrágio. Penso que é o melhor diante da reação que a oposição gerou, ao denunciar uma fraude, e diante dos oito mortos do chavismo. Parece-me que é o melhor por razões políticas.
Que consequências podem ser acarretadas a oposição não reconhecer a legitimidade de Maduro?
É um erro, pois a oposição, ao se obstinar em desconhecer Maduro, poderia colocar em jogo sua própria legitimidade e boa parte do êxito desta eleição e daquela de outubro, quando Chávez superou Capriles com seis milhões de votos.
Fala-se de tentativa de golpe de Estado. Vocês acredita que é possível diante desta circunstância?
Maduro disse que tinha derrotado o golpe e isto é importante. Os dois últimos golpes que foram dados na região não prosseguiram com a norma da intervenção militar. Em Honduras, Zelaya foi tirado do poder por via, entre aspas, constitucional, avalizada pelo Tribunal Supremo e o Congresso. Para Lugo, no Paraguai, fizeram um golpe parlamentar. Maduro alertou sobre o clima de deslegitimação que estava sendo criado, que apontava para isolá-lo. Há elementos parecidos ao golpe de 2002: a grande manifestação, convocada por Capriles para ir ao CNE – e que depois suspendeu –, poderia ter gerado uma situação imprevisível. Junto a isto se soma a pressão dos Estados Unidos e a campanha dos meios de comunicação. Eu acredito que se estava às portas deste novo tipo de golpismo disfarçado.
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“Não há razões para duvidar” do resultado na Venezuela - Instituto Humanitas Unisinos - IHU