Por: Cesar Sanson | 19 Fevereiro 2013
A não ser os extremamente próximos – o pai e a mãe, três filhas, o irmão Adan, médicos e enfermeiros que o atenderam em Cuba – ninguém viu Hugo Chávez desde seu retorno à Venezuela na madrugada da segunda feira, 18. Um dia depois, não se tem nem mesmo imagens do Presidente da República, ainda não empossado em seu novo mandato. Chávez está internado no Hospital Carlos Arvelo, em tratamento de um câncer na região pélvica. A ausência, mesmo imposta por evidente e incontornável motivação, basta para atiçar a batalha política.
A reportagem é de Bob Fernandes e publicada pelo sítio Terra Magazine, 19-02-2013.
No primeiro dia pós regresso, euforia ou silêncio. Em praças e ruas por todo o país, euforia dos que, mais do que apoiar, idolatram Hugo Chávez. E, até que viessem a noite e os programas na televisão, silêncio quase absoluto da oposição. Henrique Capriles, governador de Miranda e candidato derrotado por Chávez na última eleição presidencial, foi dos únicos a se manifestar nas primeiras horas.
Pelo Twitter, assim como fizera Chávez ao comunicar seu regresso, Capriles desejou "boas vindas" ao presidente e, em seguida, cobrou “trabalho e cordura” ao presidente em exercício, Nicolas Maduro. À noite, numa tradicional trincheira da oposição, o silêncio foi rompido estrepitosamente.
No programa "Buenas Noches", exibido por mais de uma hora pela emissora de TV Globovisión, dois apresentadores/comentaristas, sempre em pé atrás de uma bancada, partiram para o ataque. Ternos em azul marinho, camisas num tom azul claro e gravatas idem, entre gargalhadas e a simulação de semblantes sérios, Kiko Bautista e Rolan Carreño simularam longo duelo:
- Onde está Chávez?
- Ninguém sabe, ninguém viu…
- Chegou, chegou, chegou… Mas mesmo o ministro disse que não viu.
- E aí? Ele vai tomar posse? Vai governar? E ninguém vai ver ele tomar posse? Vai ser no hospital, assim, assim…
- Eu prefiro mil Chávez a (Nicolas) Maduro e companhia. Deixaram-nos mais pobres com a desvalorização.
- É. Mas um dia, ele teria que regressar…
Pausa. Até que Carreño, um dos apresentadores, deixa seu lado da bancada, aproxima-se do outro apresentador e, numa paródia do que fizeram manifestantes chavistas ao longo do dia, grita, berra:
- Volvió, Volvió, volvió… (Chegou, chegou, chegou…)
Pausa. E recomeço do "Buenas Noches".
- Bem, queria dizer que nós não somos responsáveis pela doença do presidente.
- Pelo contrário, estamos muito contentes com sua volta.
- E as Viviendas? (350 mil casas e apartamentos de 72 m² prontos e mobiliados e distribuidos pelo governo, com outros 350 mil anunciados)
- As Viviendas? Há um déficit. Os que precisam são mais de dois milhões de pobres. Ainda falta muito…
- E ele vai tomar posse no hospital militar? – Pergunta Carreño. Kiko, responde cantando:
- Dúvidas, dúvidas, dúvidas há dentro de mim…
Na segunda parte do programa, Kiko e Carreño entrevistam Vladimir Villegas, ex-integrante do governo Chávez. Villegas ataca a desvalorização e critica “um governo que cultua o secreto”. Em um rasgo de sinceridade, Villegas diz:
- Todos nós sabemos que as campanhas políticas são financiadas com dinheiro público? Quem não sabe?
Sempre pontuado pelos apresentadores, Kiko e Carreño, que incluem com o momento e seus personagens:
-Diosdado (Cabello, presidente da Assembleia Nacional, militar, vice-presidente quando do golpe contra Chávez, em Abril de 2002) …Diosdado me assusta, o combustível dele é a confrontação…
Villegas, indaga:
- Por quê não anistiar? Por quê o governo não anistia Pedro Carmona Estanga?
Carmona Estanga entrou para história como “Pedro, El Breve”. Líder empresarial, foi ele o presidente empossado em Abril de 2002, depois do golpe. Dissolveu os poderes e foi presidente por menos de 30 horas. Hoje está exilado na Colômbia.
Durante o longo programa, referências à “opressão” e à “falta de liberdade" na Venezuela.
Zap. À mesma Globovision, Leopoldo Castillo, apresentador do “Alô Ciudadano” é entrevistado por uma repórter no telejornal. Ao que tudo indica, ele estará de volta às atividades depois de um tratamento contra um câncer. A repórter indaga:
-Você acredita na medicina venezuelana?
-Sim, claro. Acredito na medicina venezuelana. Eu e minha mulher acreditamos na medicina venezuelana, nas enfermeiras, nos médicos venezuelanos, acreditamos acima de tudo…
(Dos 100 mil médicos do país, 30 mil são cubanos. Há 6 anos, para fazer saltar de 18 para 58 o número de médicos a cada 100 mil habitantes, Hugo Chávez implantou uma "Missão" que espalhou médicos e dentistas cubanos pelo país.)
No canal 8, Tv estatal, por todo o dia e noite imagens, estado por estado, da euforia com a volta de Chávez. Euforia que desconhece, e mal menciona, a gravidade da doença e o estágio em que se encontra o tratamento.
Rádio 104.9, claramente pró-Chávez. Final da tarde. Por longa hora, além de mensagens de todo o país, apenas exaltando Chávez, um debate marcado por uma certeza:
- Chávez foi envenenado pelo Império… Fidel sofreu mais de 300 atentados, com Chávez não seria diferente… O império quer matar Chávez…
Terça feira, 19. Os jornais e as manchetes nas bancas.
- Queremos ver-lo – cobra o oposicionista La Verdad. Com o subtítulo:
- Regresso do presidente Chávez, de surpresa, desata reações de euforia, respaldo e incerteza.
O El Universal titula:
- Presidente Chávez retorna sem equipe médica – e, em seguida, elenca:
- Tribunal de Justiça considera que não cessaram os motivos que obriguem a juramentação do presidente a curto prazo.
- A oposição exige que depois da volta do mandatário a Caracas “se dedique a governar”.
- Fidel Castro manifestou sua satisfação pela chegada de Chávez a Caracas.
O El Nacional vale-se de entrevista do governador de Anzoátegui, Aristóbulo Istúriz, chavista, e manchetou:
- Chávez se juramentará (NR: tomará posse) quanto estiver bom e são.
O "2001" grita na manchete:
- "Habemus Chávez!"
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“Queremos ver Chávez” cobra oposição; ‘Habemus Chávez”, festejam chavistas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU