11 Setembro 2012
Meu amigo jesuíta Thomas J. Fitzpatrick SJ me contou esta maravilhosa história há alguns anos sobre o falecido cardeal Carlo Martini SJ, e me permitiu compartilhá-la com vocês. Ela é engraçada, provocativa e comovente ao mesmo tempo, e fala muito sobre a humildade. Normalmente ouvimos esse tipo de histórias contadas e recontadas, e descritas como "apócrifas", mas esta não é.
A nota é do jesuíta norte-americano James Martin, em artigo publicado no sítio da revista America, 01-09-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Quando eu era superior do Pontifício Instituto Bíblico em Jerusalém, eu regularmente levava o cardeal Martini, que era membro da nossa comunidade jesuíta, de carro até o aeroporto, quando ele viajava. Antes do conclave papal de 2005, o núncio papal da Terra Santa, o arcebispo Pietro Sambi, persuadiu o cardeal a usar os serviços exclusivos no aeroporto de Tel Aviv. Assim, no dia antes de eu o levar até o aeroporto para o conclave, eu informei a segurança do aeroporto que eu estaria chegando com o cardeal Martini. Chegamos na manhã seguinte perto das 4h da madrugada e fomos escoltados até uma sala privada em um prédio escondido do resto do aeroporto.
As viagens até o aeroporto com o cardeal Martini eram ocasiões para uma conversa descontraída entre nós, mas essa manhã em particular tinha uma aura diferente para ele. Eu estava um pouco temeroso de que um membro da minha comunidade, da qual eu era superior, não só estaria participando do conclave, mas também havia rumores de que ele era um dos principais favoritos. Eu sabia que o cardeal Martini não queria ser papa.
Então, em parte brincando, mas também muito a sério, quando ele foi chamado a embarcar no avião, eu lhe disse: "Carlo, eu sei que você não quer ser papa. Eu sou o seu superior religioso e, como jesuítas, devemos obedecer aos superiores. Deixe-me dizer-lhe que, se você for eleito papa, por favor, aceite". Nós rimos. Eu o abracei, e ele partiu para o conclave.
Quando o cardeal Martini voltou do conclave, eu novamente dirigi até o local especial para recebê-lo em sua chegada. Depois de passarmos por todos os controles do aeroporto e estarmos a caminho de Jerusalém, eu lhe disse que eu estava um pouco zangado com ele. Eu tinha visto muitas coisas sobre ele nas reportagens da televisão sobre o conclave e eu vi que ele estava usando a sua bengala.
Então eu disse a ele: "Eu sei que você não tem que usar a sua bengala, e eu acho que você apareceu com ela para demonstrar às pessoas como você está doente. Estou certo?".
"Sim", disse ele.
Depois disso, na casa em Jerusalém, eu apontaria para a bengala do cardeal e diria: "Aqui está o pedaço de madeira que mudou o rumo da Igreja Católica".
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A bengala que mudou os rumos da Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU