Por: André | 25 Abril 2012
Mario Toso, secretário do Pontifício Conselho Justiça e Paz, prepara as reflexões da Santa Sé sobre a energia em vista da Conferência Rio+20.
A reportagem é de Alessandro Speciale e está publicada no sítio Vatican Insider, 23-04-2012. A tradução é do Cepat.
Ex-professor universitário, salesiano, aprazível de acordo com o carisma de sua ordem religiosa, dom Mario Toso não fugiu das controvérsias quando se encontrou no meio delas. Como, por exemplo, há um ano, quando – com o governo de Berlusconi ainda em pleno vigor, mas já perseguido pelos escândalos e pela crise galopante – convidou os católicos a buscar novos caminhos para o seu compromisso na política e, por que não?, a pensar na criação de um novo partido, não confessional, mas de inspiração cristã. Ou no mês de outubro passado, quando o Pontifício Conselho Justiça e Paz, do qual é o secretário, publicou algumas Reflexões sobre a reforma dos atuais sistemas financeiros e monetários, texto que propunha, entre outras coisas, uma “autoridade pública de competência universal” – proposta que provocou a ira de muitos, inclusive entre os católicos.
Dom Toso, sem dar muita importância a esses incidentes, segue seu caminho, que – explica – não é outro que aquele traçado pelo Papa Bento XVI na Encíclica Caritas in Veritate.
Em uma entrevista concedida ao Vatican Insider, renova o convite para a criação de “novas realidades políticas”, visto que são precisamente os setores ou os presidentes dos atuais partidos os primeiros a denunciarem de que modo “nossos partidos têm que ser reconstruídos, embora não pareçam ser facilmente reformáveis”; e informa que seu dicastério está trabalhando na preparação das reflexões sobre a energia relacionadas com a Conferência Rio+20 que – junto com o documento sobre a água, publicado em março – serão introduzidos no quadro fixado pelo discutido documento sobre as finanças globais, para fixar as condições essenciais do bem comum em nível mundial.
O secretário da Justiça e Paz defende com convicção as Reflexões sobre a reforma dos sistemas financeiros e monetários da acusação feita inclusive por católicos de renome, de “não representar a linha da Santa Sé”. Reações que não surpreendem Toso: “Algumas categorias propostas neste documento já não são de domínio público nem sequer no mundo católico. O conceito de autoridade política mundial, por exemplo, foi compreendido mal porque alguns confundiram a palavra ‘autoridade’ com ‘poder’, poder absoluto, poder arbitrário; porque para não poucos a autoridade política não tem uma função de orientação da economia e das finanças para a realização do bem comum”.
A autoridade mundial da qual o documento fala, explica, “tem que ser constituída pela via democrática e tem que ser entendida sobretudo como uma força moral, relacionada ao direito”; não tem que aniquilar a autonomia dos Estados, mas “reforçá-la” na base da “subsidiariedade”.
Para o prelado salesiano, o fato de que o documento tenha sido criticado com tanta aspereza demonstra antes que “não se trata de um assunto irrelevante, ao contrário, toca alguns pontos fracos”. E a maior parte das críticas, segundo dom Toso, demonstrava que quem as fazia “não havia lido com atenção nem a Caritas in Veritate, nem as Reflexões. O documento, destaca, queria fazer refletir sobre uma situação grave, que não parece que já tenha sido resolvida, e não tinha a intenção de impor soluções “dogmáticas”.
Voltando à Itália, dom Toso considera o atual governo técnico “uma solução imposta pela necessidade – pela necessidade de uma política que demonstrou ser insuficiente para enfrentar os problemas”. E o fato é que é uma solução “anômala” que não pode durar por tempo indeterminado: os técnicos têm funções limitadas e não se pode esperar que resolvam “todos os problemas de uma sociedade política. Os fins do desenvolvimento econômico não atingem os fins do bem comum político”.
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As “receitas” do secretário do Pontifício Conselho Justiça e Paz para a política e a economia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU