03 Novembro 2011
As hierarquias eclesiásticas tinham-na sob observação já há algum tempo. Não houve nada que fazer para a Irmã Elizabeth Johnson – seu livro não é aceitável: censurada. Mas ela não fica em silêncio e continua em seu caminho, convencida de que "a teologia, se for tal, deve aprofundar as normas, os dogmas, e não contentar-se com o que já adquiriu". E agora protesta: "Sou responsável pelo que disse e escrevi, razão pela qual estou disposta a corrigir o que for necessário, mas não aceito que minhas teses sejam tergiversadas".
A reportagem é de Giacomo Galeazzi e está publicada no sítio Vatican Insider, 30-10-2011. A tradução é do Cepat.
O obstáculo no caminho é sólido. E, não obstante, em 2008, o livro "proibido" da Ir. Elizabeth havia ganhado nos Estados Unidos o primeiro prêmio da Catholic Press Association, na categoria de obras de teologia. A Dominus Jesus, declaração de Joseph Ratzinger de 2000, estabeleceu de uma vez por todas que é "herético" negar que o caminho para a salvação do homem passa unicamente por Jesus Cristo. De nada serviu a defesa por parte da universidade jesuíta onde a religiosa ensina, nem a da prestigiosa revista America. E tampouco bastou a carta que a teóloga censurada enviou aos bispos: "A minha é uma obra teológica e não deseja ser o catecismo da Igreja católica; é uma busca de Deus e, como tal, contribui para o desenvolvimento da ciência teológica, a conduzi-la para novas terras". Os nove membros da comissão doutrinária da Igreja dos Estados Unidos (dirigida pelo cardeal Donald W. Wuerl, arcebispo de Washington) tachou de "seriamente inadequada para a concepção católica de Deus" a obra da teóloga da Fordham University. Sob numerosos aspectos, na opinião do episcopado dos Estados Unidos, a teologia da Ir. Elizabeth se afasta da doutrina da Igreja. Em sua obra, os dogmas da trindade de Deus e da criação são penalizados a favor de uma ideia do divino imanente ao mundo.
No limite do ceticismo iluminista. Mas, sobretudo, Jesus Cristo não é o único salvador de todos, porque só uma mistura de cristianismo, hinduísmo, budismo, islamismo permitiria conhecer a verdade de Deus. O veredicto do episcopado norte-americano é duríssimo para com a religiosa, "seguidora" do bispo egípcio Atanásio, aquele que – uma vez derrotados os arianos em Niceia – pediu à Igreja que nos os considerasse verdadeiros inimigos nem adversários, mas como irmãos. Em defesa de sua "liberdade de teóloga", Elizabeth Johnson havia citado a mensagem que Karol Wojtyla havia transmitido ao diretor do L’Osservatore Romano para pedir aos teólogos que fossem corajosos em suas pesquisas sem ter medo de posições de fechamento e incompreensão. "Também os teólogos mais afastados do núcleo da fé, como foram os arianos, devem ser considerados e escutados, porque isto é fazer teologia, buscar a Deus para além dos medos", teria respondido a estudiosa. Sua defensa (38 páginas) foi rechaçada, contudo, pela Comissão de Doutrina da Conferência Episcopal dos Estados Unidos que, com um veredicto inapelável de 11 páginas, ratificou a censura. Seu livro Em busca do Deus vivo, em vários pontos "está em desacordo com a doutrina". A favor de Elizabeth já se havia expressado James Martin na America, a prestigiosa revista nova-iorquina dos jesuítas.
Martin conta ter aconselhado os livros de Johnson "a dezenas de amigos, paroquianos e diretores espirituais" porque ela "é uma teóloga excepcional". Elizabeth fala de Deus no feminino, diz que Deus enquanto infinito mistério se compreende cada vez mais com o passar do tempo, mas explica que não se deve negar que na revelação de Cristo é Deus que se mostra. Simplesmente que Deus é mistério e, como tal, é inacessível, sempre para além dos dogmas e das classificações humanas. Escreve a teóloga "herege": "O Concílio Vaticano II nos deu a constituição dogmática sobre a revelação divina, a Dei Verbum, que auspicia um processo dinâmico do conhecimento". A teóloga está convencida de ir além das fórmulas doutrinais: "Há cristãos que conquistam albores de verdade sem partir necessariamente do núcleo originário da fé. Isto não significa que estejam descobrindo um novo Deus, mas simplesmente que estão indo às profundezas daquela "beleza sempre nova e sempre antiga’ de agostiniana memória".
O "caso Johnson", de qualquer modo, demonstra a vivacidade do debate dentro da Igreja católica norte-americana. A Comissão de Doutrina da Conferência Episcopal do país leu seu livro e o julgou em desacordo com a doutrina. Uma censura completa que, não obstante, contribuirá para fazer aumentar as vendas. Os jesuítas que desde há algum tempo permitem a Johnson ensinar Teologia Sistemática em sua universidade pensam que é uma grande teóloga, e que todos, não obstante a censura, deveriam continuar se aproximando de seus textos. E ela, a Irmã "censurada", define como "decepcionante" a resposta da Comissão Episcopal para a Doutrina, porque "ignora a respiração e a profundidade da revelação divina e da resposta de fé dos homens".
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O "caso Johnson" e a vivacidade teológica da Igreja dos EUA - Instituto Humanitas Unisinos - IHU