01 Outubro 2011
Muitas eram as expectativas da visita do Papa à Alemanha no que se refere ao capítulo do ecumenismo. Num lugar simbólico, o convento dos agostinianos de Erfurt, onde o jovem Martinho Lutero foi monge e padre da Igreja católica, e diante das autoridades da potente igreja evangélica alemã, Bento XVI redefiniu ao seu modo a colocação em jogo do diálogo ecumênico.
O comentário é de Philippe Clanché e publicado pela revista Temoignage Chrétien, 28-09-2011. A tradução é de Benno Dischinger.
Podem ler-se as grandes linhas de sua posição, a qual diverge em parte daquela de seu predecessor, no ataque inesperado contra outros cristãos.
Evocando "uma forma nova de cristianismo, que se difunde com imenso dinamismo missionário" – no qual se podem reconhecer as correntes evangélicas pentecostais -, o Papa opera uma requisitória feroz.
Esta corrente é taxada de "cristianismo de débil densidade institucional, com pouca consistência racional e ainda menos consistência dogmática e ainda com pouca estabilidade". Colocar-nos-ia, afirma o papa, "novamente ante a questão de saber o que permanece sempre válido, e o que pode e deve ser mudado".
Critérios
Por trás da exigência institucional exposta por Bento XVI aparece o imperativo de situar-se numa história e, sobretudo, numa tradição, coisa que de sólito falta a comunidades que despontam como fungos em torno ao carisma de um só homem e que reivindicam sua independência.
Não se pode aqui esquecer o texto Dominus Jesus de 2001, no qual o cardeal Ratzinger considerava a sucessão apostólica (a transmissão ininterrupta de bispos a bispos) como condição necessária para ser uma verdadeira igreja.
Também se os luteranos respondem somente em parte a este exigente critério, o papa, em Erfurt, preferiu não retornar àquele texto, na época muito mal acolhido em ambiente protestante.
A segunda crítica – a debilidade da consistência racional – faz eco a uma afirmação habitual de Bento XVI que não cessa de martelar sobre o fato de que a fé cristã deve ser edificada sobre a razão, a qual conduz naturalmente a Cristo e a Deus. A forte presença da emoção no rito, com práticas nas quais o corpo parece prevalecer sobre o espírito, é, sob este ponto de vista, muito suspeita ao bispo de Roma.
Em terceiro lugar, os pentecostais careceriam de estrutura dogmática. É incontestável, mas é também a razão do seu sucesso. O relevo se aplica igualmente a todos aqueles que quereriam libertar-se de regras julgadas secundárias ou demasiado repressivas nas atuais sociedades ocidentais.
Vividas timidamente no catolicismo ou exibidas abertamente junto aos reformados mais liberais, as veleidades modernistas dos grupos mais atentos aos valores cristãos que não às exigências eclesiais, são aqui tomadas em mira. Fora de um estrito enquadramento não há salvação, diz o papa.
Instabilidade
O último relevo endereçado às correntes cristãs pentecostais se refere à sua instabilidade. Na tradição protestante, qualquer divergência pode ser pretexto para uma saída e para a criação de uma nova igreja.
No contexto católico, a insistência do Papa sobre este ponto é um sinal ante os protestos declarados de independência, na Áustria e alhures, e ante os promotores de evoluções internas.
Mas, a exigência pela estabilidade também põe em discussão os percursos de aproximação e de pequenos passos que ritmaram longamente o caminho ecumênico. Assim, Bento XVI qualifica o "dom ecumênico do hóspede", por trás do qual se pode ver a hospitalidade eucarística (acolhida à comunhão de fiéis luteranos-reformados) como "má compreensão política da fé e do ecumenismo".
Ante "a ausência de Deus nas nossas sociedades (que) se torna pesada, a "tarefa ecumênica central"
consistiria atualmente em repensar a fé, não edulcorando-a, mas vivendo-a "integralmente no nosso hoje".
O que seguirá a este discurso fundador dir-nos-á se os novos binários ecumênicos, nos quais os ortodoxos se encaixarão sem dificuldade, encontrarão o favor de toda a galáxia dos fiéis.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
O ecumenismo segundo Bento XVI - Instituto Humanitas Unisinos - IHU