26 Setembro 2011
Nenhum "anúncio", nenhum "dom", nenhuma "tratativa", mas sim um símbolo de "porte histórico". A visita da sexta-feira, 23 de setembro, do Papa Bento XVI ao Mosteiro de Santo Agostinho de Erfurt, um importante centro do protestantismo, foi um "sinal forte" para o ecumenismo, reconheceram os responsáveis protestantes alemães. Mas essa satisfação de fachada não lhes impediu de destacar a ausência de respostas aos seus pedidos de aproximação entre as duas confissões.
A reportagem é de Stéphanie Le Bars, publicada no jornal Le Monde, 25-09-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A visita do papa alemão aos lugares onde Martinho Lutero estudou, o monge à origem da Reforma e que provocou um cisma na Igreja Católica do século XVI, foi apresentada por Bento XVI como o "ponto culminante" dessa viagem, que termina no domingo em território católico, em Friburgo. Quanto à forma, portanto, todos puderam se alegrar com um passo significativo no difícil caminho do diálogo entre as duas Igrejas que lutaram duramente ao longo dos últimos cinco séculos.
Quanto ao conteúdo, o papa elogiou, como raramente aconteceu, a profundidade dos estudos teológicos de Lutero e a sua busca de Deus, retomando em primeira pessoas as perguntas do monge sobre a misericórdia, a salvação e o pecado, perguntas que a nossa época não se faz mais, lamentou: "As nossas culpas são verdadeiramente tão pequenas? O mundo não é talvez devastado por causa da corrupção dos grandes, mas também por causa da dos pequenos?". Lançando uma repreensão aos fiéis, tanto protestantes quanto católicos, ele declarou: "Não, o mal não é uma inépcia, e não poderia ser tão poderoso se colocássemos Deus no centro da nossa vida".
Com relação ao diálogo ecumênico, o papa escolheu colocar-se em um plano mais geral e teórico. Diante de um problema concreto – a possibilidade para os católicos e os protestantes de compartilhar a comunhão –, problema central para os cristãos alemães, muitas vezes provenientes de famílias mistas, Bento XVI não anunciou nenhuma abertura. Porém, o presidente do Conselho das Igrejas Evangélicas da Alemanha, Nikolaus Schaneider, tivera o cuidado de lembrar-lhe desse pedido recorrente durante o seu encontro. "Partir da experiência das pessoas deveria se tornar uma verdadeira categoria teológica", afirmou o responsável protestante diante da imprensa. Uma forma de adaptação à sociedade que não agrada muito em Roma.
Assim, em vez de se focar "naquilo que nos separa", Bento XVI convidou ambos os lados a recordar o que eles têm em comum: orações, cantos, um "ethos cristão diante do mundo". E, em um período em que "a ausência de Deus na nossa sociedade se torna mais pesada", convidou-os a uma aliança contra a "secularização".
Isso é ainda mais urgente pelo fato de o ecumenismo e as Igrejas cristãs se encontrarem, de acordo com o papa, diante de dois perigos. Em uma crítica velada à evolução de certas Igrejas protestantes da Europa, consideradas muito liberais pelo Vaticano, o papa advertiu contra aqueles que cedem "à pressão da secularização" e se tornam "modernos mediante uma diluição da fé". Como um aspecto típico do seu pontificado, o papa defendeu, ao contrário, "um modo mais profundo e mais vivo de acreditar". "Não serão as táticas que nos salvarão, que salvarão o cristianismo, mas sim uma fé repensada e revivida de um modo novo", insistiu.
O outro perigo reside em uma "nova forma de cristianismo", ou seja, na proliferação de Igrejas "evangelicais" em várias partes do mundo, com um "dinamismo missionário preocupante nas formas". Este "cristianismo de baixa densidade institucional, com pouca bagagem racional e ainda menos bagagem dogmática e também com pouca estabilidade", força as "Igrejas históricas" a realizar "uma reflexão comum sobre o que permanece sempre válido e o que pode ser mudado". É nessas direções de pesquisa que reside, para Bento XVI, o verdadeiro ecumenismo.
No fim desse dia, e como ele faz em quase todas as suas viagens ao exterior, o papa se encontrou com vítimas de padres pedófilos.
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Bento XVI convida os cristãos a uma aliança contra a secularização - Instituto Humanitas Unisinos - IHU