15 Setembro 2011
Uma prelazia pessoal, no estilo do Opus Dei. Essa é a "solução canônica" que a Santa Sé ofereceu à Fraternidade São Pio X (lefebvrianos) como "prêmio" para o seu retorno à Igreja Católica, desde que reconheçam a plena validade do Concílio Vaticano II.
A reportagem é de Jesús Bastante, publicada pela agência Efe, 14-09-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Assim se afirmou no decorrer de uma reunião entre a Congregação para a Doutrina da Fé e responsáveis da Fraternidade, que ocorreu na manhã de hoje (dia 14) no Vaticano. À frente de ambas as instituições, o prefeito William Levada, e o líder da Fraternidade, Bernard Fellay (foto).
A separação de Roma dos lefebvrianos se deu em 1988, quando o arcebispo Marcel Lefebvre nomeou quatro bispos sem a permissão de João Paulo II, que os excomungou. Bento XVI levantou há dois anos essa excomunhão, em um gesto que foi considerado como um passo evidente para acabar com o último cisma na Igreja Católica, assim como em direção ao retorno das missas em latim. O levantamento das excomunhões foi marcado, no entanto, pelas declarações de um dos bispos, o britânico Richard Williamson, que negou o Holocausto judeu, pondo em pé de guerra a comunidade judaica internacional.
Depois do encontro desta manhã, a Santa Sé, que não forneceu o conteúdo específico de suas conclusões, informou que foram propostos aos membros da Fraternidade São Pio X "alguns elementos para uma solução canônica" para alcançar "uma possível e desejada reconciliação".
"A Congregação para a Doutrina da Fé considera como base fundamental para a obtenção da plena reconciliação com a Sé Apostólica a aceitação do texto do preâmbulo doutrinal que lhes foi entregue (aos representantes da Fraternidade) durante a reunião de hoje", diz o comunicado da Santa Sé.
"Esse preâmbulo enuncia alguns princípios doutrinais e critérios de interpretação da doutrina católica necessários para garantir a fidelidade ao Magistério da Igreja (...), deixando, ao mesmo tempo, à legítima discussão o estudo e a explicação teológica de expressões individuais ou formulações presentes nos documentos do Concílio Vaticano II e do Magistério posterior", continua.
O porta-voz vaticano, Federico Lombardi, foi além, reconhecendo que a "solução jurídica" manifestada no comunicado poderia ser uma prelazia pessoal internacional, o que agora é uma "possibilidade que só poderia se concretizar sob determinadas condições".
A negativa em reconhecer o Concílio Vaticano II e a defesa radical do rito pré-conciliar foram as razões que levaram Marcel Lefebvre (1905-1991) ao cisma, que qualificou como "destrutivas" as reformas que surgiram desse Concílio.
Os lefebvrianos contam com quatro bispos e cerca de 500 sacerdotes e 200 mil fiéis em todo o mundo, especialmente na Suíça, França, Argentina, EUA, Alemanha, Chile e Colômbia.
Eis o comunicado oficial.
No dia 14 de setembro de 2011, encontraram-se na sede da Congregação para a Doutrina da Fé, Sua Eminência Reverendíssima, o cardeal William Levada, prefeito desta Congregação e presidente da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei, Sua Excelência Mons. Luis Ladaria, SJ, secretário desta Congregação, Mons. Guido Pozzo, secretário da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei, Sua Excelência Dom Bernard Fellay, Superior-Geral da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, e os Reverendos Niklaus Pfluger e Alain-Marc Nély, respectivamente primeiro e segundo Assistentes-Gerais desta Fraternidade.
Após a súplica dirigida pelo Superior-Geral da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, no dia 15 de dezembro de 2008, à Sua Santidade Papa Bento XVI, o Santo Padre decidiu remover a excomunhão aos quatro Bispos consagrados pelo Arcebispo Lefebvre e, ao mesmo tempo, abrir colóquios doutrinais com tal Fraternidade, a fim de esclarecer os problemas de ordem doutrinal e chegar à superação da ruptura existente.
Em conformidade com as disposições do Santo Padre, uma comissão mista de estudo, composta por especialistas da Fraternidade Sacerdotal São Pio X e por especialistas da Congregação para a Doutrina da Fé, reuniu-se em oito encontros, que ocorreram em Roma entre o mês de outubro de 2009 e o mês abril de 2011. Esses colóquios, que tinham como objetivo expor e aprofundar as dificuldades doutrinais essenciais sobre temas controversos, alcançaram o objetivo de esclarecer as respectivas posições e relativas motivações.
Mesmo levando em conta as preocupações e as instâncias apresentadas pela Fraternidade Sacerdotal São Pio X no que diz respeito à guarda da integridade da fé católica diante da "hermenêutica da ruptura" do Vaticano II com relação à Tradição, a qual o Papa Bento XVI fez menção no Discurso à Cúria Romana (22-12-2005), a Congregação para a Doutrina da Fé considera como base fundamental para a obtenção da plena reconciliação com a Sé Apostólica a aceitação do texto do Preâmbulo Doutrinal que foi entregue durante o encontro do dia 14 de setembro de 2011.
Tal preâmbulo enuncia alguns princípios doutrinais e critérios de interpretação da doutrina católica, necessários para garantir a fidelidade ao Magistério da Igreja e o "sentire cum Ecclesia", deixando, ao mesmo tempo, à legítima discussão o estudo e a explicação teológica de expressões individuais ou formulações presentes nos documentos do Concílio Vaticano II e do Magistério posterior.
Na mesma reunião, foram propostos alguns elementos de uma solução canônica para a Fraternidade Sacerdotal São Pio X, depois da eventual e desejada reconciliação.
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Roma concederá uma prelazia pessoal aos lefebvrianos se eles aceitarem o Concílio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU