30 Junho 2011
Vestido com requinte papal, o papa Bento XVI apertou o botão de "enviar" do seu iPad, e entrou para os livros de história como o primeiro pontífice a mandar um "tweet" com o lançamento formal, nesta semana, do portal de notícias do Vaticano.
"Eu deveria na verdade dizer `tablet`, já que o Vaticano não faz propaganda de marcas", brinca o arcebispo Claudio Maria Celli, o jovial ministro de Mensagens da Igreja, ou, como o seu título mais formal o descreve, presidente do Conselho Pontifício de Comunicações Sociais.
A reportagem é de Guy Dinmore, publicada pelo Financial Times e reproduzida pelo Portal Uol, 01-07-2011.
De fato, a ausência de propagandas comerciais e de uma função de busca no www.news.va é talvez a principal característica que o diferencia de outros sites de notícias, neste momento em que o Vaticano adota modernas ferramentas de mídia – com links para o YouTube, Twitter e Flickr – para disseminar a sua mensagem para uma plateia maior.
"Bento XVI encara as novas tecnologias de forma bastante positiva", afirma o monsenhor Celli, referindo-se a um papa que gosta de redigir à mão os seus discursos, mas que concordou em usar um iPad, em vez de um "computador velho", para inaugurar o portal.
"Comparado ao seu predecessor, Bento XVI não é um papa midiático", admite o arcebispo de 70 anos de idade. "João Paulo II era um mestre das comunicações, mas Bento XVI presta também muita atenção à necessidade de estabelecer um diálogo com o público atual".
O fato de a instituição mais antiga da Europa adotar aquilo que existe de mais recente em tecnologia de mídia talvez seja mais um exemplo daquilo que o monsenhor Celli considera um mundo moderno cheio de contradições. "O mundo possui instrumentos sofisticados de comunicação, mas o ser humano nunca esteve tão só como atualmente. O maior sofrimento dos dias de hoje é a solidão", argumenta ele. "O aumento acelerado da secularização e de um relativismo rígido está fragmentando a vida... Com este portal, a Igreja deseja oferecer a possibilidade de um diálogo respeitoso".
Mas haveria potenciais problemas para esta interação de alta tecnologia ao se levar em conta os recentes escândalos relativos a padres pedófilos e que negam a existência do Holocausto que têm infernizado o papado de Bento XVI? E poderia também haver o perigo de que o Vaticano fosse considerado uma instituição que cultiva o sigilo e que é lenta para responder a desafios? A igreja está pronta para enfrentar críticas, responde ele. "Sim, existem os riscos de sermos ofendidos, atacados, criticados, mas nós precisamos confrontar tudo isso... Toda face possui as suas rugas. A igreja tem as suas limitações, mas ela não usa maquiagem".
Quando a reportagem pede para dar uma espiada na sala de notícias onde são tomadas as decisões sobre os principais artigos do dia, ele desconversa e diz que isso não é possível.
Conforme explica Thaddeus Jones, o jovem norte-americano coordenador de projetos, a ideia é que o portal de notícias "não seja muito movimentado, conte com bastante multimídia, proporcione acesso a mídias sociais e tenha uma aparência que denote facilidade de uso". Ele foi desenvolvido por uma companhia de mídia de Madri, a 101, e funciona como um agregador de notícias da extensa rede do Vaticano, incluindo a Rádio Vaticano, a agência de notícias Fides, o jornal "Osservatore Romano", e imagens e arquivos da rede de televisão do Vaticano.
No seu primeiro dia de operação integral após o tweet papal - "Queridos amigos, eu acabei de inaugurar o News.va. Bendito seja Nosso Senhor Jesus Cristo! Com as minhas orações e bênçãos, Bento XVI" - o site registrou cerca de 250 mil visitas. Encabeçando a lista dos "mais lidos" estavam as reflexões de Bento XVI sobre "o momento mais importante" da sua vida, quando ele recebeu a sua ordenação, 60 anos atrás.
Apesar da estreia de sucesso, Andrea Gagliarducci, um jornalista católico freelance, manifesta ceticismo em relação à ideia de que uma nova era de transparência esteja despontando. "Essa é uma geração velha que tenta ser jovem", critica Gagliarducci.
O monsenhor Celli admite que a nova tecnologia nem sempre se traduzirá em rapidez de comunicação. "Às vezes é verdade que nós somos lentos, mas nós não estamos vendendo produtos comerciais", diz ele. "O que estamos oferecendo é uma reflexão profunda sobre os problemas que afligem as pessoas. Muitas vezes essas questões não têm uma resposta imediata. Eu confesso que teria medo de uma igreja que contasse com uma resposta instantânea para tudo".
E, com isso, o arcebispo pede desculpas por ter que se retirar, já que precisa trocar de indumentária para uma cerimônia offline de natureza mais tradicional.
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Vaticano entra na era digital - Instituto Humanitas Unisinos - IHU