CNS culpa governo por assassinato de líderes extrativistas no Pará

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25 Mai 2011

O diretor do Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), Atanagildo de Deus Matos, responsabilizou o governo federal pelo assassinato do casal de líderes extrativistas José Claúdio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva.  Ambos foram vítimas de uma emboscada na manhã desta terça-feira (24), a 50 Km do município de Nova Ipixuna, no sudeste do Pará, na comunidade Maçaranduba.

A reportagem é de Altino Machado e publicada por Terra Magazine, 25-05-2011.

- São mais duas vidas ceifadas pela conivência do serviço público com a morosidade em resolver os problemas de desflorestamento e da luta pela terra na Amazônia.  Este crime tem a conivência da fiscalização do Ibama - afirmou em Brasília, por telefone, Atanagildo de Deus Matos.

O ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência da República, recebeu pela manhã a denúncia do assassinato dos dois líderes do CNS.  Carvalho informou o ocorrido à presidente Dilma Rousseff, que determinou ao Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o acionamento da Polícia Federal para investigar o caso.

O CNS é uma ONG fundada pelo líder sindical e ecologista Chico Mendes, que foi assassinado em dezembro de 1988 em Xapuri (AC).  Segundo Atanagildo Matos, o casal foi assassinato numa estrada vicinal que leva ao Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAEX) Praialta Piranheira.

- Eram duas lideranças firmes do CNS naquela região.  Militavam no PAEX, que foi criado em 1998.  Zé Cláudio e Maria sofriam a pressão permanente dos madeireiros que derrubam a floresta para transformá-la em carvão.  Era um casal decente, que vivia do extrativismo e do manejo de sementes, óleos e resinas da floresta.

Atanagildo Matos disse que o casal deixa como lição o ideal dos extrativistas da Amazônia, de permitir que o povo da floresta possa viver com qualidade, de forma sustentável com o meio ambiente.

- Já estamos em contato com o Ministério Público Federal, Polícia Federal e outras instituições.  Apoiaremos fortemente as investigações, para que esse crime não fique impune .

Boka Barbosa, que foi secretário-geral do CNS até março, disse em Rio Branco (AC), que José Claúdio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva lutavam contra a exploração madeireira e a grilagem de terras em Nova Ipixuna.

- A última vez que estivemos juntos foi de 15 a 17 de março, em Belém, durante um encontro de mulheres extrativistas da Amazônia, que coincidiu com um encontro do Conselho Deliberativo do CNS.

Barbosa disse que o casal estava muito empenhado em proteger as florestas da região onde vivia.  Eles militavam no Sindicato de Trabalhadores Rurais e no CNS.

- A luta deles era permanente contra a exploração madeireira e a grilagem de terra.  Eram muito comprometidos com essa causa.  Zé Cláudio não cedia, bem como a Maria, mulher dele.  Na verdade todas as lideranças daquela região estão ameaçadas de morte.

As ameaças contra a vida do casal de extrativistas começaram por volta de 2008.  Familiares relataram ao CNS que desconhecidos rondavam a casa de José Cláudio e Maria, geralmente à noite, disparando tiros para o alto.

Algumas vezes, chegaram a alvejar animais da propriedade do casal.  O momento das intimidações coincidiu com a denúncia dos líderes extrativistas contra madeireiros da região, que constantemente avançam na área do PAEX, para extrair espécies madeireiras como castanheira, angelim e jatobá.

Maria e José Cláudio viviam há 24 anos em Nova Ipixuna.

- O terreno deles tinha aproximadamente 20 hectares, mas 80% era área verde preservada.  Eles extraíam principalmente óleos de andiroba e castanha, além de outros produtos da floresta para sua subsistência.  Graças à iniciativa dos meus tios, atualmente o PAEX tem um convênio com Laboratório Sócio-Agronômico do Tocantins, para produção sustentável de óleos vegetais, para que os moradores possam sustentar-se sem agredir a floresta - relatou ao CNS, Clara Santos, sobrinha de José Cláudio Silva.