24 Mai 2011
Foto: Claudio Santana/AFP
Envolto em uma bandeira chilena, o féretro do ex-presidente foi transladado à unidade de antropologia do Serviço Médico Legal, onde seus restos mortais passarão por uma perícia realizada por uma equipe multidisciplinar composta de peritos locais e estrangeiros.
A reportagem é de Christian Palma e está publicada no jornal argentino Página/12, 24-05-2011. A tradução é do Cepat.
A imagem foi emotiva. O ataúde do presidente socialista chileno Salvador Allende foi tirado envolto em uma grande bandeira chilena, que dava solenidade a um momento doloroso, mas necessário. Seus restos mortais foram exumados na primeira hora desta segunda-feira no mausoléu que a família mantém no Cemitério Geral de Santiago e depois transladados à unidade de antropologia do Serviço Médico Legal (SML), onde passarão por uma perícia realizada por uma equipe multidisciplinar integrada por peritos locais e estrangeiros.
A diligência foi encabeçada pelo juiz Mario Carroza, encarregado da investigação que pretende determinar se o ex-chefe de Estado se suicidou no dia 11 de setembro de 1973 ou se morreu em decorrência de outras causas.
Ao local acorreram, além de alguns membros da família Allende, o perito ad hoc que a representa, observadores internacionais, parlamentares e a imprensa. Uma vez aí, a multi-equipe verificou que a urna de redução utilizada em uma exumação anterior, realizada em 1990 – bem no começo da volta à democracia –, estivera no interior do féretro, depois disso, os ossos de Allende ingressaram no SML.
Ato contínuo, foi aberta a urna na presença do ministro Carroza e dos especialistas, para depois [os ossos] serem submetidos à análise de raio X. O trabalho continuará com a determinação das características biológicas mais gerais dos ossos e que sirvam para avaliar possíveis traumas, oferecendo elementos que permitam aproximar-se da determinação da causa da morte.
Visivelmente emocionada, a senadora do Partido Socialista e filha do ex-presidente, Isabel Allende, reiterou que espera que, com a exumação dos restos de seu pai, se dissipem as dúvidas sobre sua morte no dia em que os militares tomaram o poder. Tanto ela como os mais próximos colaboradores de Allende que estiveram no dia 11 de setembro de 1973, quando o Palácio La Moneda foi bombardeado, garantiram que o "companheiro presidente" se tirou a vida.
Elegantemente vestida, com um longo abrigo e uma sóbria sombrinha preta, Isabel Allende expressou a satisfação da família "pelos avanços conseguidos neste transcendental processo judicial para estabelecer a verdade sobre o trágico acontecimento de 11 de setembro de 1973 e em especial as circunstâncias que cercaram a morte do presidente Allende".
Acrescentou que "reafirmando o que temos dito ao longo de todos estes anos: nossa convicção de que o presidente Allende tomou a decisão de morrer como um gesto de coerência política em defesa do mandato que lhe fora dado pelo povo, não devemos esquecer que sua morte ocorreu no contexto de bombardeio e assalto ao Palácio Presidencial de La Moneda em uma situação de extrema violência, que afetou também a milhares de partidários e simpatizantes do governo constitucional".
Recordou, além disso, que "fizemos parte do processo e decidimos estar presentes nesta importante diligência com a esperança de que seus resultados permitam tirar qualquer dúvida e, ao mesmo tempo, sirvam para determinar judicialmente a circunstância em que esta de deu, assim como os crimes cometidos".
Mario Carroza, por sua vez, disse que "tudo correu bem". Nos próximos dias o SML enviará ao Laboratório GMI, de Innsbruck, na Áustria, mostras de ossos do ex-presidente e mostras de sangue de duas filhas e uma neta do ex-presidente, para realizar a confirmação da identidade por meio do DNA. Informou-se, além disso, que todos os procedimentos estão sendo levados a cabo com a estrita cadeia de custódia e em um laboratório de antropologia exclusivamente destinado à análise do caso, que conta com altas medidas de segurança e com condições ambientais adequadas para a preservação dos restos.
O ministro de Justiça, Felipe Bulnes, afirmou que é necessário que se esclareçam as causas da morte de Salvador Allende. "Como governo estamos comprometidos e apoiando os trabalhos forenses", assegurou.
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Solenidade na exumação de Allende - Instituto Humanitas Unisinos - IHU