09 Mai 2011
Durante anos, Youssef Sidhom denuncia de discriminação dos coptas na revista El Watani, o histórico jornal cristão-egípcio do qual ele é diretor. No dia seguinte à revolução, ele esperava se ocupar de outra coisa, mas a situação parece ter piorado.
A reportagem é de Francesca Paci, publicada no jornal La Stampa, 09-05-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
No dia 8 de março, 13 mortes no distrito copta de Al Moqattam; neste domingo, 12 mortos em Embaba. O que acontece com Cairo?
Há dois meses, tais incidentes se repetem. Os coptas estão aterrorizados e se perguntam onde está a polícia, onde está segurança, o que o Exército está fazendo. Neste domingo, pela primeira vez, alguns deles saíram às ruas gritando que, do seu ponto de vista, estava melhor sob o jugo de Mubarak.
É isso mesmo?
Com relação à segurança, sim. Durante o regime, extremistas e salafistas tinham bem pouca margem de manobra. Todos eram mantidos sob controle.
No entanto, na praça Tahrir, cristãos e muçulmanos empunhavam juntos a bandeira nacional. Tudo isso acabou?
A solidariedade que nasceu na praça Tahrir resiste. Pelo menos até agora. Depois do ataque, alguns muçulmanos formaram uma corrente humana ao redor da Igreja de Santa Mena. Insisto muito com os coptas para que não aceitem a provocação. A ofensiva salafista é uma novidade dos últimos dois meses. Eles querem semear o ódio sectário.
Na realidade, os coptas não estavam bem nem antes do dia 25 de janeiro. O massacre do final do ano em Alexandria foi só o último de uma longa lista. Nada mudou?
Os coptas eram socialmente marginalizadas e alvos de fanáticos antes também, é verdade. Mas, com a queda do regime, puseram de lado suas próprias recriminações, certos de que havia chegado o momento dos egípcios, um só povo. Todos esperavam qualquer coisa, menos que a sua condição pudesse piorar.
O que os salafistas querem?
São seguidores do Islã ancestral, infiltrados da Arábia Saudita, que difundem uma leitura obscurantista do Alcorão. Não têm uma agenda política. De fato, no início, consideravam o protesto haram, pecaminoso. Mas depois subiram no carro da democracia para conquistar um espaço próprio. Agora, dizem que querem fundar um partido. Até os Irmãos Muçulmanos mantêm no seu estatuto a proibição de que um copta se torne presidente, mas a sua hostilidade é política. A dos salafistas é militar violenta.
Os sabotadores conseguirão fazer com que se queira de volta o antigo regime?
Não acredito. Apesar do terror da comunidade copta, a condenação dos muçulmanos moderados se fez sentir fortemente. E, finalmente, neste domingo, o Conselho Militar expressou a firme vontade de combater os salafistas.
Desta vez, novamente, oque acendeu o rastilho de pólvora foi a suposta conversão ao Islã de uma mulher copta, que queria se casar com um muçulmano. As uniões mistas são um problema sério, não é verdade?
Mesmo que oficialmente as uniões mistas não sejam aceitas, elas existem. Os salafistas, no entanto, divulgam mentiras para atiçar os ânimo: Al Azhar negou ter recebido da mulher em questão um pedido de conversão. Era uma mentira.
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"Com a queda do regime, os salafistas estão mais fortes" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU