08 Mai 2011
A Carta Pastoral do Advento de 2006, citada como o início da polêmica que resultou na recente aposentadoria forçada do bispo australiano William Morris, tem a ver principalmente com os planos de oferecer uma liderança diocesana a um futuro com um acesso cada vez menor à Eucaristia e com cada vez menos sacerdotes.
Mapa das dioceses australiana, com destaque para a de Toowoomba |
A reportagem é de Tom Roberts e Joshua J. McElwee, publicada no sítio National Catholic Reporter, 05-05-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Na carta, Morris informou aos católicos locais que, da forma como estavam as coisas na época, a sua diocese rural de Toowoomba, em 2014, teria apenas seis padres com 65 anos ou menos no ministério paroquial de base, três com 61-65 anos e oito com 66-70 anos.
Para o ministério diocesano em 2014, Morris projetou dois sacerdotes de 65 anos ou menos; dois sacerdotes com 66-70 anos e um bispo na faixa etária de 71-75 anos.
Morris, que era bispo de Toowoomba há 18 anos, foi forçado a se retirar no dia 1º de maio.
Tendo afirmado esse pano de fundo, ele escreveu os parágrafos que, aparentemente, o levaram a perder o seu emprego:
"Dada a nossa profunda e sustentada crença no primado da Eucaristia para a identidade, a continuidade e a vida de cada comunidade paroquial, podemos também precisar ser muito mais abertos a outras opções para garantir que a Eucaristia possa ser celebrada. Como já têm sido discutidas internacional, nacional e localmente, as ideias são:
"Continuamos comprometidos a promover ativamente as vocações ao atual sacerdócio celibatário masculino e abertos a convidar sacerdotes do exterior".
Enquanto isso, Morris admitiu que poderia ter pisado em "muitos dedos" ao ter sugerido, na carta pastoral de 2006, que essa sua diocese rural poderia se beneficiar se o Vaticano considerasse a ordenação de mulheres e de homens casados .
Mas o bispo – cuja diocese possui 68 mil católicos em 35 paróquias, com 16 padres ativos – continua: "Você tem que permanecer na sua verdade".
Os comentários do bispo foram divulgados durante duas reportagens de TV transmitidas pelo canal australiano ABC News, que foram publicados em seu site no dia 4 de maio.
Em uma das notícias do ABC, Morris é visto caminhando em seu escritório diocesano, pegando livros de sua estante e colocando-os em caixas.
Respondendo a uma pergunta sobre se haverá um processo para que ele possa apelar pela sua aposentadoria forçada, o bispo diz: "Só agora é que a maioria de nós, bispos, descobriu que não existe nenhum processo para bispos. Nós não sabíamos disso antes".
Morris também disse que teve uma reunião privada com o Papa Bento XVI sobre a questão, que não foi proveitosa: "Você não tem muito debate. Ele tem uma visão e você tem uma visão, e você meio que se distancia desses pontos de vista".
Também entrevistado em uma reportagem de TV, o arcebispo de Brisbane, John Bathersby, disse que desejava a expulsão "não tivesse acontecido".
O arcebispo, visivelmente abalado, disse reconhecer uma tensão entre o seu amor pela Igreja e a confusão acerca da medida. "A Igreja comete erros, cometeu erros, mas eu amo a Igreja. É simples assim".
Em uma entrevista do dia 3 de maio ao jornal Brisbane Times , Morris disse a um repórter que o Vaticano o investigou por ser "muito aberto" e "muito inclusivo" em sua abordagem. Ele disse que não estava defendendo nenhuma das alternativas listadas em sua carta, mas sim apontando para o debate que estava acontecendo em toda a Igreja.
A expulsão de Morris despertou o apoio público para o bispo por parte de uma ampla gama de organizações, incluindo o Conselho Nacional dos Presbíteros da Austrália, da província vicentina do país, do Brisbane Times, da Women’s Ordination Conference dos EUA.
O texto completo da carta pastoral pode ser encontrada aqui, em inglês.
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Carta Pastoral de William Morris, bispo australiano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU