02 Março 2011
Esse é o resultado de um estudo realizado no Departamento de Economia da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade da República, do Uruguai.
A reportagem está publicada no jornal uruguaio El Observador, 25-02-2011. A tradução é do Cepat.
Na hora de escolher entre continuar ou não seus estudos, todo adolescente se perguntou alguma vez: "vale a pena o esforço?". No Uruguai, a resposta a essa pergunta depende da situação econômica do jovem em questão. Paradoxalmente, apenas aquele que se encontra em um contexto favorável terá os incentivos econômicos suficientes para continuar estudando. O adolescente de classe baixa que cursa o liceu em situação de pobreza está fazendo, em termos gerais, um mau investimento.
Segundo um estudo realizado pelo Departamento de Economia da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade da República, a diferença na qualidade do ensino e a probabilidade de repetição fazem com que "a educação secundária seja um investimento inconveniente para os estudantes em situação desvantajosa".
O estudo, ao qual o El Observador teve acesso, realizado pela pesquisadora Rossana Patrón, se intitula "Quando mais educação não vale o esforço: outro olhar sobre as decisões de deserção dos estudantes desfavorecidos no Uruguai", joga luz sobre os incentivos que os jovens têm para continuar seus estudos secundários, ao medir a relação entre o aumento do ingresso que lhes permitiria aceder o ciclo básico e o esforço que implica sua culminação.
De fato, do ponto de vista econômico, o estudo implica o destino de recursos escassos – o tempo, fundamentalmente – para obter um determinado resultado – um diferencial no ingresso. O tempo que o jovem utiliza no estudo produz uma perda equivalente ao dinheiro que deixa de ganhar por adiar sua entrada no mercado de trabalho.
O estudo realizado leva em conta que nos setores mais baixos os anos aprovados não só geram um retorno mais baixo – porque a qualidade da educação é menor que nos contextos mais favorecidos –, mas também que os custos são mais elevados devido à maior probabilidade de repetir de ano.
"Para os estudantes em situação desvantajosa, cursar estudos secundários tem um retorno negativo quando se considera a ocorrência de repetições, mas mesmo quando não se tem em conta o fenômeno, a taxa interna de retorno é muito baixa", explica o relatório.
Segundo os especialistas, a rentabilidade produzida pela aprovação do ciclo básico é de 5% nos setores mais abastados, quando não se considera o fator repetição. No mesmo cenário, um estudante de classe baixa teria um retorno de apenas 0,8%.
Ao incorporar a probabilidade empírica de que o estudante se atrase em seus estudos, a rentabilidade baixa para 2,6% nos setores acomodados, ao passo que nos estratos menos favorecidos se torna negativa. Ou seja, ao longo de sua vida, um jovem de classe baixa perceberia um volume maior de ingressos se entrasse no mercado de trabalho assim que terminasse a escola, do que se adiasse sua entrada no mundo do trabalho para cursar o ciclo básico.
Segundo assinala Patrón, os resultados da pesquisa contribuem para explicar "as altas taxas de deserção desse grupo de estudantes". De fato, no quintil mais elevado – os 20% da população mais rica –, 99% possui estudos primários, 95% cursou o ciclo básico e 70% o bachalerado. Entretanto, no quintil mais baixo, 86% da população cursou a primária, 41% realizou estudos de ciclo básico e apenas 8% cursou o bachalerado.
"Estes resultados colocam algumas dúvidas sobre a justiça ou a equidade buscada pelas leis de escolarização compulsiva que não sejam acompanhadas por políticas complementares que garantem igualdade de resultados educativos para os estudantes de todos os grupos socioeconômicos", conclui a especialista.
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Estudar não é rentável para os mais pobres - Instituto Humanitas Unisinos - IHU