13 Janeiro 2011
A primeira Intifada surgiu Gaza em 1987, depois de um acidente de trânsito, muito suspeito aos olhos dos palestinos, provocado por um veículo militar israelense. Na Jordânia, são os torcedores de uma equipe de futebol alinhado com as tribos autóctones que gritam contra a rainha Rania, precisamente por causa da sua origem palestina. E em Túnis, o suicídio de um desesperado, que se incendiou vivo, no dia 17 de dezembro, acendeu a mecha.
A reportagem é de Juan Miguel Muñoz, publicada no jornal El País, 13-01-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Nas autocracias árabes, existem poucos canais para canalizar as reivindicações sociais e atenuar a amargura de grande parte de seus habitantes. E as revoltas fermentam. Lenta, mas inevitavelmente. E costumam surpreender pela sua espontaneidade, e às vezes dureza. Foi o que aconteceu em Túnis, onde os partidos de oposição se veem forçados a lutar sem que se possa ouvir a sua voz.
O Fórum Democrático pelo Trabalho e as Liberdades - FDTL, o Partido Democrático Popular e o Ettajdid são os três partidos opositores legalizados. Legalizados, mas desprezados pelo poder. Nos meios de comunicação, afetos ao regime, eles estão ausentes até nestas semanas decisivas para o futuro tunisiano. São partidos de centro-esquerda, alguns, como o FDTL, associado à Internacional Socialista.
Se um dia decidissem fazer uma convocação ao desacato, se complicariam. "Esses partidos não aparecem nos meios de comunicação e sofrem graves problemas, inclusive para distribuir seus jornais. Sem dúvida, carecem de ajudas financeiras do governo, nem se beneficiam da publicidade oficial. Inclusive edições inteiras são detidas quando abordam assuntos conflitivos", afirma Neji Bghouri, presidente do Sindicato dos Jornalistas, um dos coletivos mais perseguidos nestes dias.
As manifestações não respondem a um plano orquestrado a partir do exterior, como afirmou o presidente Zine el Abidine Ben Ali, nem estão vinculadas a movimento terrorista algum – em 2002, o atentado contra a sinagoga de Yerba, onde reside uma comunidade judaica que não se esconde diante dos seus vizinhos, foi o último ataque em um país que recém sofreu com ataques terroristas –, nem a organizações islâmicas. A herança do presidente Habib Burghiba, defenestrado há mais de 23 anos pelo atual líder, é palpável nas ruas. O sistema educativo fomenta o laicismo, e Ben Ali seguiu os passos de seu antecessor. "Os islamistas? Eles não estão presentes absolutamente nesta revolta", indica Askri, um jovem formado, que ganha míseros 130 euros por mês de salário trabalhando 14 horas por dia.
Ben Ali tolerou durante pouvos anos o partido islamista En Nahda (Renascimento), que luta pela democracia e que é, seguramente, o mais moderado do seu gênero no mundo árabe e muçulmano. Mas, em 1991, foi ilegalizado. E, em 1992, o diretor do jornal Al Fajr, Hamadi Jebali, foi condenado a 16 anos de prisão por "agredir para tentar mudar a natureza do Estado".
Rashid Ghannouchi, líder do An Nahda, reside exilado em Londres. Exemplo desse legado do laicismo é Rahma, uma jovem jornalista que se confessa crente. Sobre a cabeça, o véu. Mas no cérebro uma ideia assimilada em seus anos de escola, como quase todo o tunisiano. "O povo de Túnis é muito progressista. No colégio, nos ensinam que a religião e a política devem estar separadas". E Rahma está de acordo.
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Uma revolta sem líderes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU