02 Dezembro 2021
"A frequentação à ágora e ao areópago por Paulo torna-se, portanto, uma metáfora para toda tentativa inteligente de introduzir o anúncio evangélico nos canais da vida cultural dos homens. Portanto, não se trata de colocar vendas para conhecer apenas a Bíblia ou o Credo, mas também é necessário estar em contato com as expressões de cada cultura humana", escreve Romano Penna, em artigo publicado por L'Osservatore Romano, 30-11-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
A viagem do Papa Francisco à Grécia não pode deixar de relembrar a viagem feita por São Paulo, por volta do ano 50, de norte a sul do país com várias etapas em Filipos, Tessalônica, Bereia, Atenas, Corinto. Também temos suas importantes epístolas para os filipenses, os tessalonicenses e os coríntios.
Curiosamente, não escreveu aos atenienses, mas o relato de Lucas nos Atos dos Apóstolos (cf. Atos 17, 16-34) documenta um discurso proferido precisamente em Atenas e desprovido de analogias com a sua estada em outras cidades. Justamente este discurso merece particular atenção, não só porque proferido na metrópole grega mais carregada de história, mas também porque, além da sua orientação, é interessante o lugar onde aconteceu, isto é, o areópago, o famoso conselho administrativo da cidade que já tinha processado Sócrates em 399 a.C.
Na verdade, a intervenção de Paulo no areópago foi ocasional. De fato, ele teria preferido um contato não tanto elitista ou seletivo, mas geral e possivelmente mais misto. Em Atenas, Paulo havia estabelecido dois pontos para sua atividade evangelizadora: a sinagoga, conforme sua própria matriz judaica, e sobretudo a ágora, ou seja, a praça, onde poderia encontrar pessoas de todos os tipos. Justamente na praça ele encontrou duas reações diferentes: alguns qualificaram-no negativamente como um "charlatão" (spermològos), outros mais desejosos por compreender seu pensamento convidaram-no para o lugar mais reservado do areópago.
Pois bem, dito de forma resumida, o discurso de Paulo ao areópago propõe duas instâncias concretas e exemplares, que ainda hoje exigem uma retomada do mesmo estilo. A primeira diz respeito ao contato direto com “os outros, os diferentes”, talvez procurando-os onde eles estão, superando todo fechamento contra um estagnado senso de autossuficiência. A segunda instância é corolário da anterior e se baseia na citação do poeta grego Arato sobre a relação natural com Deus: “Pois somos também sua geração” (At 17,28); esse comportamento simpatético expressa a necessidade da inculturação do evangelho como um simples componente da encarnação.
A frequentação à ágora e ao areópago por Paulo torna-se, portanto, uma metáfora para toda tentativa inteligente de introduzir o anúncio evangélico nos canais da vida cultural dos homens. Portanto, não se trata de colocar vendas para conhecer apenas a Bíblia ou o Credo, mas também é necessário estar em contato com as expressões de cada cultura humana.
No entanto, é preciso também lidar com o que podemos chamar de alteridade do Evangelho, na medida em que é irredutível a uma religiosidade natural. O anúncio de suas especificidades, como a ressurreição de Jesus e sua perspectiva escatológica, no areópago encontrou uma oposição inesperada, mas inevitável: "Acerca disso te ouviremos outra vez" (Atos 17,32). O importante, porém, é manter a fé no Evangelho da graça e da liberdade, pois certamente não é a negação que pode demonstrar a falsidade do anúncio. Como escreveu Dietrich Bonhoeffer, as testemunhas da Palavra são mais fracas do que os propagadores de uma ideia e sofrem com a Palavra, desde que sua fraqueza seja aquela da própria Palavra e nunca a abandonem.
O importante é considerar a experiência de Paulo como uma metáfora para todas as ocasiões e lugares possíveis de confronto entre Evangelho e cultura. No entanto, deve-se observar que, se ao areópago só se pode chegar mediante convite ou por um cortês chamado, nem sempre e nem para todos é possível acessá-lo. Na ágora, por outro lado, por natureza mais aberta, Paulo podia falar com qualquer um que encontrasse.
O areópago evoca a ideia de um ambiente reservado e até aristocrático, enquanto a ágora propõe a ideia de um ponto de encontro popular, democrático e comum. Afinal, é a partir da ágora que se começa: o que ganha audiência na ágora, mais cedo ou mais tarde, acaba num areópago. Afinal, a Galileia havia sido a ágora de Jesus e o Sinédrio de Jerusalém seu areópago que, entretanto, o havia condenado. É verdade que nem sempre se pode falar a todos indistintamente, e se no final do discurso de Paulo pelo menos duas pessoas como Dionísio e Damaris se uniram a Paulo e se tornaram crentes (Atos 17,34), é um sinal de que o empenho apostólico sempre tem algum resultado.
Pois bem, hoje também o cristão é chamado a dar testemunho da sua fé numa ágora tão vasta como toda a sociedade, na qual certamente emergem âmbitos mais detalhados. O importante não é usufruir privadamente da própria fé, mas confrontá-la sem prevaricação e oferecê-la com alegre humildade. Nesse sentido, os Atos dos Apóstolos nunca terminaram e para cada batizado sempre valem as palavras dirigidas pelo Senhor a Paulo depois de Damasco, ou seja, ser um instrumento eleito para levar o nome do Senhor diante dos gentios (cf . Atos 9,15)
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São Paulo em Atenas entre ágora e areópago - Instituto Humanitas Unisinos - IHU