Por: Jonas | 03 Outubro 2012
Faltando poucos dias para uma nova sessão do “Átrio dos Gentios” em Assis, Itália, a agência Zenit conversou com o cardeal Gianfranco Ravasi (foto), presidente do Pontifício Conselho para a Cultura. Como se sabe, esta edição, que se realizará nos dias 5 e 6 de outubro, terá como título “Deus, esse desconhecido. Diálogo entre crentes e não crentes”, e contará com a presença do presidente italiano Giorgio Napolitano.
A entrevista é de Salvatore Cernuzio, publicada no sítio Religión Digital, 02-10-2012. A tradução é do Cepat.
Eis a entrevista.
O Átrio dos Gentios tem sido um evento de pré-evangelização, que criou um terreno fértil para o próximo Sínodo dos Bispos, dedicado justamente à nova evangelização. O que você espera da próxima sessão de outubro, em Assis?
Além do fato de que o próprio Sínodo cita o Átrio dos Gentios, no Instrumentum Laboris, o que nós esperamos é que a apresentação da fé se desenvolva de tal forma que seja a mais compreensível possível, não apenas para crentes, mas também para o horizonte cultural em geral. Ou seja, que não seja somente autorreferencial ou ligada a fórmulas que, embora valiosas, são obsoletas. Aqui está a importância da comunicação da fé, que é aquilo que, em certo sentido, nós também fazemos, mas sem querer evangelizar.
Qual poderia ser uma fórmula efetiva para ganhar nesse mar da indiferença, que, segundo o que foi dito por você, é a atitude mais perigosa no mundo de hoje?
Acredito que para superar a “névoa” da superficialidade, da banalidade, da indiferença em geral, existem duas vias. Uma delas é a adotada por algumas Igrejas estadunidenses, sobretudo protestantes, que propõe o essencial, o mínimo indispensável, comprometendo-se especialmente com o lado da caridade, do voluntariado e do compromisso social. Este é sem dúvida um componente importante, mas em minha opinião é insuficiente porque a Igreja não é uma “agência de caridade”.
E a outra?
A outra forma, no entanto, é a das verdades últimas, ou seja, a coragem de colocar sobre a mesa, numa linguagem compreensível, os temas da vida, da morte, do bem, do mal, da justiça, do sofrimento, do amor. Todos aquelas perguntas, por assim dizer, que estão em todas as pessoas, e que afloram quando se atravessa por um sofrimento como, por exemplo, o de um familiar que morre com câncer ou, inclusive, quando alguém se apaixona; ou quando se está em contato com a beleza, e assim sucessivamente. Estas perguntas devem ser propostas, novamente, com uma linguagem incisiva e culturalmente eficaz. É a única maneira para fazer a humanidade encontrar uma resposta. Somente assim a superficialidade experimentaria uma sacudida, como um “eletrochoque”.
No encontro de Assis acontecerá um diálogo entre o presidente Giorgio Napolitano e você. O que representa a figura de um presidente da República, no diálogo entre crentes e não crentes?
Representa dois componentes fundamentais: por um lado, encarna a figura da Itália em todas as suas dimensões e de um país com grande tradição cristã. É a voz de um país que sempre tem em vista a tradição cultural, a temática religiosa. Não é possível entrar numa pinacoteca ou numa cidade sem se dar de cara com as catedrais, os monumentos, as pinturas que evocam o sagrado. Por outro lado, o presidente Napolitano é uma grande personalidade, que tem proposto novamente os valores; inclusive em meio à degradação cultural, social e política. Ele insiste com frequência, especialmente entre os jovens, sobre o tema dos grandes valores. É aí onde se cria uma sintonia: quando ambos começamos a nos interrogar sobre as questões chaves para a própria sociedade.
Dias atrás, o ministro da educação italiano, Francesco Profumo, falou sobre uma revisão de temas como a religião e a geografia, já levando em conta a forte presença nas escolas de estudantes de diferentes culturas e religiões. Qual é a sua opinião em relação a esse assunto?
Em primeiro lugar, acredito que seja importante renovar o método de ensino. Pensemos, hoje em dia, a forma como se realiza a comunicação. Já não é com o papel escrito ou o lápis, como na minha infância, mas com a tecnologia e outras formas diferentes. Inclusive, é necessária uma renovação no conteúdo! Há componentes que são fundamentais e que não podem ser ignorados, não apenas à religião, mas também à ciência. Ao mesmo tempo, há novas perguntas. Pensemos nos problemas da bioética, um termo que, há 50 anos, nem sequer existia. Portanto, acredito que o ensino da religião, na forma correta, sobre a base do Evangelho e dos grandes ensinamentos cristãos que sempre são transmitidos, deve ser engatado com a mudança da sociedade e com a evolução dos novos tempos e da cultura.
Na perspectiva de uma transmissão inovadora e, ao mesmo tempo, essencial da cultura, como se integra um evento inteiramente dedicado a Dante, como o que você anunciou para o dia 12 de novembro, na Igreja de Jesus, em Roma?
Tudo está na linha daquilo que dizia. A tão alta e gloriosa herança que temos, não pode ser considerada uma coisa do passado, marginal ou para se jogar ao lixo. É uma das bases mais fecundas no absoluto. Recordemos, no entanto, que o método é fundamental, no sentido de que um evento de tal profundidade cultural não deve ser apresentado como uma operação filológica, mas como um estímulo sobre o que construir para além. A melhor expressão desta ideia são as palavras do filósofo Bernardo de Chartres: “Somos anões sobre as costas de gigantes, mas justamente por isso conseguimos ver mais longe”.
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“É necessário apresentar a fé de uma forma compreensível para a cultura atual”, afirma o cardeal Ravasi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU