08 Janeiro 2017
De acordo com a Companhia de Jesus, "Silêncio" é um excelente filme que não deixa ninguém ficar indiferente.
O filme Silêncio estreou na Espanha no dia 6 de janeiro. Baseado no romance histórico do escritor japonês católico Shüsaku Endö, é um projeto pessoal de Scorsese, que levou vinte anos para se concretizar. O filme se passa nos duros anos de perseguição do cristianismo, que chegou ao Japão pelas mãos de São Francisco Xavier e dois companheiros jesuítas, em 1549. Muitos jesuítas e leigos inacianos que já o assistiram consideraram-no como um excelente filme, carregado de espiritualidade e de profundidade e que, apesar de sua crueza, não nos deixa indiferentes.
A reportagem é publicada pelo sítio espanhol Jesuítas, 04-01-2017. A tradução é de Henrique Denis Lucas.
Jay Cocks, roteirista que já trabalhou com Scorsese em A Época da Inocência e Gangues de Nova York, assina a adaptação do romance para a grande tela, estrelada por Liam Neeson (A Lista de Schindler), Andrew Garfield (A Rede Social, Até o último homem), Adam driver (Star Wars Episódio VII: o despertar da força, 'Girls'), Tadanobu Asano (Thor, Ichi - o assassino) e Ciarán Hinds (Estrada para a perdição).
A apaixonante história de sacrifício e fé que é narrada, transporta o espectador para a segunda metade do século XVII. Dois jovens jesuítas viajam para o Japão em busca de um missionário, seu mentor, que depois de ser perseguido e torturado, renunciou à sua fé. Eles próprios viverão o suplício e a violência que os japoneses exercem sobre os cristãos. Como pano de fundo, paira o silêncio de Deus diante do martírio que sobrecarrega um dos protagonistas, silêncio que faz referência ao título da novela e do filme.
Para melhor preparar os atores e tornar seus personagens críveis, Scorsese procurou a ajuda dos jesuítas. O norte-americano James Martin SJ foi assessor do diretor durante toda a filmagem. O jesuíta espanhol Alberto Núñez foi consultor técnico do set de filmagem e a sua missão foi a de preparar os atores acerca das formas de proceder de um jesuíta, assim como supervisionar as cenas de caráter religioso. Por sua vez, dois jesuítas dos Estúdios Kuancgchi de Taipei, o americano Jerry Martinson, e o italiano Emilio Zanetti, também estiveram no set, sendo que este último inclusive participou como figurante. Além disso, o ator Andrew Garfield fez um retiro espiritual para melhor interiorizar a espiritualidade inaciana.
Cena do filme Silêncio (Foto: Dilvugação)
O escritor japonês Shüsaku Endö (1923-1996) publicou o romance Silêncio em 1966 e foi reconhecido no mesmo ano com o Prêmio Tanizaki, um dos mais prestigiosos reconhecimentos literários japoneses. É o trabalho mais conhecido de seu autor e é frequentemente citado como sua obra-prima. Shüsaku Endö é um dos grandes escritores japoneses do século XX, com a particularidade de ser um cristão católico, em um país onde a população cristã é inferior a 1%. A religião é um tema presente em várias de suas obras.
O personagem central do romance é baseado na figura histórica de Cristóvão Ferreira, um missionário jesuíta português do início do século XVII, que durante a época de perseguição contra os cristãos, depois de sofrer terríveis torturas, converteu-se em um apóstata.
A publicação do livro causou uma grande comoção no Japão, onde até então nunca havia sido tratada de maneira tão brutal a perseguição sofrida pelos cristãos.
O cristianismo chegou ao Japão com o jesuíta São Francisco Xavier, em 1549. As conversões foram abundantes nesses dois primeiros anos em que Xavier permaneceu no Japão, antes de partir para seu tão aguardado destino, a China, lugar onde se daria a sua morte, logo na chegada. Em poucas décadas, a partir de muito trabalho, surgiu uma Igreja próspera, quando em 25 de julho de 1587 o governador Hideyoshi decretou o exílio dos jesuítas. A partir de 1600, tornou-se uma Igreja clandestina, perseguida e castigada, repleta de mártires, mas que conseguiu manter-se, oculta, por 250 anos.
Em 1590 a Companhia contava no Japão com 140 jesuítas, entre japoneses e estrangeiros, que estavam ilegalmente em solo japonês. A partir de 1600, com uma situação política crítica, começaram as execuções de vários cristãos de destaque. A situação piorou com a chegada da administração de Tokugawa, em Edo (atual Tóquio), em 1603, quando a perseguição dos cristãos tornou-se muito mais severa. Naquele tempo o número de católicos no Japão era aproximadamente 400 mil e no começo do período foram martirizadas diversas dezenas de milhares. Um total de 93 jesuítas deram suas vidas pela fé: três deles foram canonizados (Pablo Miki, Juan de Goto e Diego Kisai), 37 beatificados e os demais tiveram suas causas de beatificação introduzidas.
Cena do filme Silence (Foto: Dilvugação)
Durante 250 anos, 50 mil "católicos ocultos" de Nagasaki e Goyo, no norte de Kyshu, mantiveram a fé na clandestinidade e a sustentaram de geração em geração. Os pais batizavam e educavam seus filhos na fé, ensinando-lhes a doutrina cristã e as orações em latim, sem sacerdotes para administrar os sacramentos, e com transmissões orais da Bíblia. A preservação da fé durante estes séculos é um milagre de fidelidade da Igreja japonesa.
Até 1908, os jesuítas não retornaram ao Japão. Os primeiros foram três religiosos procedentes dos Estados Unidos, Alemanha e China. A província jesuíta da Alemanha Oriental, desde 1933, e a de Toledo (na Espanha), desde 1934, começaram a colaborar com a missão, enviando jesuítas e outras formas de assistência. Anos mais tarde, outra província espanhola se incorpora nos esforços, a Hispânia Bética (Andaluzia e Ilhas Canárias).
Dois missionários jesuítas espanhóis no Japão foram Superiores-Gerais da Companhia de Jesus, o Padre Arrupe (1965-1985) e o P. Adolfo Nicolás SJ (2008-2016).
Atualmente residem no Japão cerca de 200 jesuítas, 30% deles nativos. A educação é um dos pilares do seu trabalho. Contam com casas de retiro espiritual, centros pastorais, paróquias, escolas e a Universidade Sofia. Em Nagasaki, a Companhia conta com o Museu dos Mártires. Centrado na história cristã do Japão, apresenta o testemunho de seus mártires. Na colina em que se encontra e nos seus arredores, morreram cerca de 600 cristãos de muitas nacionalidades: deles, 45 eram jesuítas. Há alguns anos atrás, o museu foi elevado a Santuário Diocesano.
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Jesuítas "abençoam" o filme de Scorsese sobre a perseguição no Japão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU