01 Dezembro 2021
“O processo de nomeação dos bispos católicos permanece extremamente arcaico e demasiadamente secreto. Isso precisa ser mudado”, escreve Isabelle de Gaulmyn, vaticanista, em artigo publicado por La Croix, 30-11-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Tempos difíceis para os bispos!
Para aqueles que costumam ter a voz complacente que tem caracterizado a relação dos fiéis católicos com a hierarquia até então, é preciso dizer que isso está mudando.
Os bispos na França estão agora sendo direta e fortemente criticados pelos “católicos comuns” após a publicação do Relatório Sauvé, o qual trouxe à luz sérias falhas na forma que os líderes da Igreja no país têm lidado com os casos de abuso sexual.
Mais que isso, os católicos estão abertamente desafiando a legitimidade dos seus bispos. Os leigos não toleraram mais os excessos de um poder solitário.
Eles também querer ter voz e, em particular, eles querem ser uma parte do processo que decide quem se torna um bispo.
Porque todo o paradoxo está aí: na Igreja, o bispo é todo-poderoso.
Não importa quão brutal é fazer esse questionamento, isso é meramente um reflexo contra um sistema de governo onde o poder está concentrado nas mãos de um homem que têm as chaves de todas as dioceses.
Se um bispo comete erros ou se ele não assume a tarefa, é a totalidade da comunidade católica que tem que pagar as consequências.
E a Igreja local é permanentemente penalizada.
Dada a importância do cargo, escolher o homem errado pode acabar sendo desastroso.
A nomeação dos bispos é sem dúvida um dos procedimentos mais arcaicos da Igreja. É ridículo pensar que o Papa pode indicar todos individualmente.
Se levarmos em conta que existem mais de 5 mil bispos no mundo, podemos ver que mesmo um Papa que nunca dorme nunca poderia cumprir essa tarefa.
Na verdade, os bispos são escolhidos pelo núncio papal – o embaixador do Papa em um país – ou por cardeais ou bispos influentes em Roma. Ou por uma combinação das opções acima.
O processo de seleção dos candidatos permanece sigiloso, até ultraconfidencial, já que é protegido pelo famoso “segredo pontifício”.
Isso significa que quem for consultado para essas consultas não deve contar a ninguém que foi contatado. Eles não devem divulgar os critérios pelos quais o candidato é examinado, nem as perguntas que foram feitas a ele.
É preciso obedecer ao segredo pontifício, sob pena de excomunhão, a pena mais grave da Igreja Católica.
Portanto, no final, são principalmente bispos e padres que são consultados.
O questionário que recebem visa garantir que o candidato a bispo não tenha defeitos notáveis.
Ele deve ser totalmente ortodoxo na doutrina, nunca ter falado a favor da ordenação de homens casados (muito menos mulheres), ser “emocionalmente equilibrado”, ter uma vida de oração autêntica e assim por diante.
Em suma, o objetivo é mais evitar casos problemáticos do que fazer uma escolha baseada em critérios positivos que revelem uma capacidade real de exercer responsabilidades futuras.
O sistema de escolha dos bispos nunca foi revisado após o Concílio Vaticano II (1962-65). Permanece clerical e sem transparência.
Claro, o primeiro entre eles – o bispo de Roma – é eleito.
É certo que este processo eleitoral ocorre no segredo do conclave. Mas envolve debates e discussões reais em um processo colegiado que pode dar origem a várias rodadas de votação.
No entanto, quando se trata de escolher os bispos diocesanos, os fiéis católicos – os mais afetados pela escolha – não têm absolutamente nenhuma palavra a dizer.
Não estamos pedindo à Igreja que organize eleições em todas as dioceses! Mas entre um processo democrático aberto e uma política de nomeação centralizada monolítica, um meio-termo deve ser possível.
No mínimo, a Igreja poderia apresentar um guia de boas práticas.
A peculiaridade religiosa da instituição não justifica a forma anacrônica com que nomeia seus líderes espirituais.
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Uma escolha crucial: como a Igreja seleciona seus bispos? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU