30 Agosto 2017
Polêmicas no país devido ao apelo em favor dos Rohingyas durante o Angelus. A maioria dos birmaneses é contrária ao reconhecimento de seus direitos. Os católicos acolheram as palavras do papa com assombro e agora temem por sua segurança. A crise humanitária no estado de Rakhine é uma questão muito sensível para a sociedade. A Igreja convida para a imparcialidade e ressalta a contribuição da visita do pontífice ao processo de pacificação nacional.
A informação é publicada por AsiaNews, 29-08-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.
A Igreja birmanesa expressa alegria e esperança pela próxima visita apostólica do Papa Francisco a Mianmar, mas no país não se aplacam as polêmicas causadas pelo apelo em favor dos Rohingyas lançado pelo Papa durante o Angelus do último 27 de agosto. A maioria budista da população critica duramente o convite do Papa à oração pelo reconhecimento dos direitos da minoria muçulmana, malvista pela maioria dos birmanes. Muitos católicos acolheram suas palavras com assombro e agora temem por sua segurança durante a viagem.
Alguns analistas argumentam que o influente exército birmanês explora o conflito para afirmar cada vez mais seu poder, mas na população se espalhou um sentimento de medo por possíveis infiltrações islâmicas no país.
A maior parte da opinião pública da Birmânia critica especialmente o uso pelo Papa Francisco da palavra "Rohingya". Uma vez que essa minoria étnica não é reconhecida como uma das 135 etnias oficiais, em Mianmar é costume referir-se a ela com a expressão "muçulmanos do Rakhine", da região em que residem. Até mesmo as agências das Nações Unidas, quando operam em solo birmanês, aceitam utilizar essa definição.
Em resposta às polêmicas suscitadas pelo apelo do Papa, a Igreja Católica convida a olhar com imparcialidade para a delicada situação humanitária no Rakhine e ressalta a importante contribuição que a visita apostólica do Papa Francisco pode representar para o difícil processo de pacificação nacional.
D. Raymond Sumlut Gam, Bispo de Bhamo e ex-diretor da Caritas Mianmar, declarou à AsiaNews: "O Papa é o ícone da paz. Nós birmanes precisamos urgentemente de paz. As questões de Mianmar estão se tornando muito complicadas. O problema dos Rohingyas é muito evidente nos dias de hoje. O Papa reza pelos muçulmanos Rohingyas e fala sobre os seus direitos e sobre assistência. O Santo Padre é uma pessoa muito apaixonada. No entanto, é necessário conhecer os detalhes de tais eventos. Existem várias notícias relatadas por ambos os lados [do governo e os Rohingyas], e todas as notícias não são fáceis de confirmar".
Nos últimos dias, na região fronteiriça estouraram novos confrontos. A violência já custou a vida de 12 oficiais das Forças Armadas e 104 militantes islâmicos, além de uma crise humanitária que levou à evacuação de mais de 4 mil residentes não-muçulmanos e a fuga para o Bangladesh de cerca de 3 mil Rohingyas. O exército e os grupos armados islâmicos acusam-se mutuamente pelo início das hostilidades.
"Preocupa-me - prossegue o bispo - que hoje o problema da Rohingyas é muito delicado do ponto de vista político e que a escolha de palavras do Papa poderia ter um impacto negativo sobre outras pessoas. Temos medo de que o papa não tenha informações suficientemente precisas e faça declarações que não refletem a realidade. Como Santo Padre, ele gostaria de construir a paz. Preocupa-se por todos, independentemente da sua identidade religiosa, como irmãos e irmãs em Cristo. Afirmar que os Rohingyas são 'perseguidos' pode, no entanto, criar graves tensões em Mianmar. Espero que a visita e a presença do Papa Francisco sejam apreciadas para todas as partes envolvidas".
Padre Mariano Soe Naing, porta-voz da Conferência Episcopal de Mianmar (CBCM) e diretor do Instituto de Comunicação Social (CBCM OSC), declara: "Estamos muito satisfeitos com a notícia da visita papal, que esperamos possa promover o processo de paz.
Há rumores de que o Santo Padre vai visitar o Rakhine e os Rohingyas. Isso é errado. Caso seja preciso levar o Santo Padre para se encontrar com o nosso povo que sofre, vamos levá-lo aos campos de refugiados dos Kachin [etnia de maioria católica - ndr],onde muitas vítimas da guerra civil foram despejadas de suas casas. O papa vai trazer cerca de 100 jornalistas. Essa visita será noticiada pela comunidade internacional. Após a visita papal, haverá muitas vantagens, especialmente no campo das relações diplomáticas de Mianmar".
"Em relação ao uso do termo 'Rohingya', minha opinião é que, para mostrar respeito ao povo e ao governo de Mianmar, o uso da expressão aceita pelas instituições é mais apropriado. Se o papa usar esse termo, vamos ficar preocupados com a sua segurança durante a visita", conclui o padre Mariano.
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Rakhine, os católicos temem tensões pelas palavras do Papa sobre os Rohingyas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU