07 Fevereiro 2017
O sítio Vatican Insider, 03-02-2017, publicou alguns trechos de um artigo do filósofo, político e acadêmico italiano Rocco Buttiglione, sobre a exortação apostólica Amoris laetitia, do Papa Francisco.
Buttiglione é ex-ministro italiano por duas vezes, parlamentar europeu e profundo conhecedor do pensamento e do magistério de São João Paulo II.
A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Detivemo-nos sobre a filosofia de Wojtyla porque pensamos que ela ajuda a entender o Magistério de São João Paulo II mais em profundidade e a evitar interpretações unilaterais. É conhecida a batalha de São João Paulo II contra a ética da situação e, mais em geral, contra a nova teologia moral. Devemos concluir que ele foi simplesmente um defensor do objetivismo na ética e, portanto, deve ser identificado com uma posição tradicionalista? Não. Mesmo à luz do que já dissemos até agora, fica claro que ele propôs uma revolução na teologia moral que deveria superar e englobar novamente em si a ética da situação. Essa revolução não foi compreendida e foi rejeitada por muitos teólogos moralistas que falavam em nome da “virada antropológica na teologia moral”. Eles se opuseram ao ensinamento do papa. A proposta de São João Paulo II foi substancialmente rejeitada ou, pelo menos, permaneceu mal compreendida por parte de muitos “tradicionalistas”, que viram nela somente a confirmação das próprias posições sobre a objetividade da ética, mas passaram em silêncio o seu aspecto inovador. Justamente por isso, o Magistério de São João Paulo II ainda contém muitas potencialidades não expressadas. Parece-me que o Papa Francisco, com a exortação apostólica pós-sinodal Amoris laetitia, se situa exatamente na linha dessas potencialidades não expressadas. (…)
Agora, talvez, compreendemos melhor a abordagem do Papa Francisco e o erro de alguns dos seus críticos. Os críticos pressupõem um sujeito cristão bem formado, em que as paixões são inteiramente sujeitas à razão, que vive em uma sociedade que facilita ou, pelo menos, não impede a percepção da justa ordem dos valores e dos bens morais. O papa vê uma humanidade dolorida, feita em grande parte de vidas danificadas, mas à qual é preciso comunicar a alegre notícia de que Deus os ama e os chama à comunhão com Ele e com todos os homens. Às vezes, esses homens não são cristãos, de fato, e é preciso fazer as contas com as suas culturas, com o conjunto de valores e de desvalores que são próprias de cada uma delas. (…)
Muitos críticos da Amoris laetitia a opõem à Veritatis splendor. A mesma coisa é feita por alguns supostos defensores que a consideram como uma espécie de revanche da teologia da situação contra São João Paulo II. Equivocam-se uns e equivocam-se os outros. O erro nasce do fato de não considerar que o Papa Francisco se coloca no campo não da justificação do ato, mas das circunstâncias atenuantes subjetivas que diminuem a responsabilidade do agente. Isso é próprio do equilíbrio da ética católica e distingue a ética realista de São João Paulo II da ética objetivista de alguns adversários do Papa Francisco. (…)
Certamente, nada mudou do ponto de vista da teologia do matrimônio. O papa não diz, ao contrário do que pretendem os mais insensatos dos seus críticos (e até mesmo alguns dos seus falsos defensores): agora, os divorciados em segunda união estão admitidos à comunhão. Ele diz, no máximo, que agora estão admitidos à confissão. Vão ao confessor, digam as suas razões, se tiverem, e o confessor, junto com o penitente, avaliará. Ontem, os divorciados em segunda união eram pecadores de tipo particulares, quase excomungados (não excomungados, mas também não admitidos à comunhão, a menos que se comprometessem a viver “como irmãos e irmãs”). Agora, tornaram-se pecadores comuns. (…)
O texto completo, em italiano, está disponível aqui.
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"Aprofundando Wojtyla, entende-se a Amoris laetitia." Artigo de Rocco Buttiglione - Instituto Humanitas Unisinos - IHU