Por: André | 27 Agosto 2013
A referência do movimento estudantil chileno responde a dois embates. “Por um lado, somos criticados por ‘esquerdizar’ o programa de Bachelet, e, por outro, pretendem nos acusar por supostas traições aos princípios da esquerda”.
Fonte: http://bit.ly/18WBpPT |
A reportagem é de Christian Palma e publicada no jornal argentino Página/12, 26-08-2013. A tradução é de André Langer.
Tornou-se conhecida no mundo inteiro quando, em 2011, liderou o renascimento do movimento estudantil como presidente da Federação de Estudantes da Universidade do Chile. Com seu look simples, que inclui piercing no nariz e jeans surrado, conseguiu aglutinar as massas de jovens cansados dos abusos do sistema. Mas não era apenas um rosto bonito. Camila Vallejo convencia e convocava com um discurso forte, coerente e, sobretudo, crítico do modelo econômico que ainda impera no Chile, amplificado por um governo de direita que não foi capaz de sintonizar com as demandas da população, mas que também golpeou a Concertación, que governou o Chile durante 20 anos.
O tempo passou, e ela – como outros líderes dessa época – assumiu o evidente: uma carreira política. Vallejo é hoje candidata a deputada pelo Partido Comunista pela populosa comuna de La Florida, em Santiago. Essa posição deu pé para que seus detratores, de todos os setores, a atacassem principalmente por formar parte do pacto Nova Maioria – que substituiu a Concertación – e por dar seu apoio à candidatura presidencial de Michelle Bachelet.
Aproveitando os grandes acessos ao seu blog, a ex-líder estudantil saiu ao encontro das críticas e descartou que isso signifique uma “traição” aos princípios da esquerda. Neste ponto, deixou claro que a aliança política que apóia a ex-presidente socialista é diferente da que em seu momento teve a Concertación. “A Nova Maioria é um espaço aberto, não como foi a Concertación durante os 20 anos anteriores em que o debate foi fechado pelo consenso neoliberal e pelo acordo de manter a institucionalidade política de Pinochet. Essa disputa, hoje, se abriu novamente, e em grande medida somos nós os responsáveis por essa situação, junto com uma série de outros atores e personagens, muitos dos quais acabaram por se retirar da Concertación e muitos outros que permaneceram”, sustentou Vallejo.
Nesta linha, Vallejo, que apresenta vários meses de gravidez, defendeu que o PC foi vítima de “ruidosas críticas que provêm tanto da direita, como da esquerda”, as quais, na sua opinião, não têm uma sustentação real. “Por um lado, somos criticados por ‘esquerdizar’ o programa de Bachelet e de sermos o elemento de desestabilização social, e, por outro, pretendem nos acusar por supostas traições aos princípios da esquerda, ao movimento social e, particularmente, ao movimento estudantil. O debate sofreu, muitas vezes, da falta de elementos de fundo e ficou recheado de preconceitos, desinformação e oportunismo eleitoral”, assegurou. Acrescentou que “é evidente que a discussão centrada em se apoio ou não a Bachelet, depois se votei ou não nela, em seguida se vou pousar para fotografia com ela e se meu sorriso foi ou não sincero no momento da foto, além de extremamente superficial e pouco séria, é uma discussão que não contribui nem responde aos desafios históricos que se aproximam. A política é muito importante para teatralizá-la com esta fogueira de observações vazias”.
Camila Vallejo garantiu, além disso, que “agora podemos dizer que a educação gratuita e de excelência, a nova Constituição ou um novo sistema de pensões já não são demandas que se deva ou se possa defender apenas a partir das manifestações de rua”.
“O atual cenário político nos diz que o nosso país não é mais o mesmo. O movimento estudantil e social do qual temos sido parte fundamental desde muito antes de 2011 – sendo profundamente político – conseguiu, pela primeira vez desde o retorno da democracia, instalar com força e amplitude a consciência sobre as perversidades do modelo neoliberal, mercantilizador da vida e o espúrio de uma institucionalidade política antidemocrática que requer com urgência ser superada”.
Em suas palavras, “se a Concertación produziu um consenso neoliberal que encontrou apoio majoritário no Chile, dado que a maioria foi ganha para as políticas neoliberais, hoje essa maioria podemos e devemos disputá-la para convencê-la e ativá-la no caminho para gerar as mudanças e transformações que o Chile necessita”.
“Hoje, estamos novamente em condições de propiciar uma grande aliança social e política, que resguarde a independência e a autonomia dos movimentos sociais, mas que possibilite a construção e a aplicação conjunta de um programa de transformação social, baseado na democratização do país, na promoção e salvaguarda de nossos direitos fundamentais e no progressivo desmantelamento do modelo neoliberal, principal responsável pela desigualdade estrutural que sofremos”.
Apesar desse apoio ao caminho apresentado pela Nova Maioria e que tem – ao menos nas pesquisas – as principais chances de ganhar as eleições presidenciais e parlamentares de novembro, Camila Vallejo destacou que o fato de que o PC e ela formarem parte da Nova Maioria “não significou renúncia alguma às nossas ideias, nem mudança nos elementos de fundo do nosso programa. As exigências e propostas que levamos ao comando foram as mesmas que propusemos nas ruas, que defendemos em 2006, 2011, 2012 e 2013, que provêm do movimento estudantil, sindical e da população em que estamos inseridos”.
“Devemos recalcar com justa razão e com toda a legitimidade dada pela nossa centenária luta pela democracia e pelos direitos sociais, particularmente contra o modelo neoliberal e os abusos do mercado imperante no Chile pós-ditadura, que nos reconhecemos parte de todos aqueles que hoje entendem, analisam e acusam as responsabilidades das gestões dos governos da Concertación em muitos dos problemas que nos oprimem em nossa sociedade atual e se propuseram como horizonte superar este modelo socioeconômico e construir uma sociedade verdadeiramente democrática. A questão, no entanto, está em como nos tornaremos responsáveis hoje para avançar rumo a esta superação”, concluiu.
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Camila Vallejo caminha ao lado de Bachelet - Instituto Humanitas Unisinos - IHU