04 Dezembro 2025
O teólogo Michael Seewald, de Münster, considera um Concílio Vaticano III inútil no momento. "Faria sentido que 5.500 homens decidissem sobre assuntos relativos ao futuro, enquanto as mulheres só podem participar em caráter consultivo?", questionou o teólogo em entrevista à revista "Publik-Forum". A Igreja e a sociedade mudaram fundamentalmente desde o Concílio Vaticano II, especialmente na compreensão do ministério e dos papéis de gênero. Isso precisa se refletir na estrutura da Igreja antes que um novo concílio seja convocado.
A reportagem é publicada por Katholisch.de, 03-12-2025.
Além disso, é importante notar que um concílio é "mera extensão do papado", já que o papa controla a convocação, os temas e a validade das decisões, prosseguiu Seewald. Historicamente, os concílios nunca foram debates isentos da influência papal; contudo, continuam sendo um importante mecanismo de correção à pretensão papal de poder absoluto que se desenvolveu ao longo dos últimos séculos.
Seewald acredita que o modelo atual de liderança da Igreja, que se baseia na autoridade, está chegando ao fim. Em vez de poder legal, ela precisa adquirir "autoridade epistêmica" que também reconheça sua própria falibilidade. "Sob João Paulo II e Bento XVI, testemunhamos uma afirmação cada vez maior da autoridade magisterial", afirma Seewald. "Esta é uma maneira profundamente perturbadora e até destrutiva de exercer a autoridade magisterial." Seewald vê a sinodalidade como uma tentativa de escapar desse impasse. Resta saber se ela conseguirá combinar a escuta atenta do presente com a profundidade teológica. Seewald espera "que isso mude no futuro".
Seewald: se Jesus tivesse morrido na cama, seu impacto teria se perdido
Além disso, o teólogo se manifestou contra as imagens romantizadas de Jesus. O impacto histórico de Jesus está inextricavelmente ligado à sua execução violenta, enfatizou Seewald: "Se Jesus tivesse morrido na cama, não saberíamos seu nome hoje e não diríamos uma palavra sobre ele." É precisamente o fracasso de Jesus que constitui uma parte significativa de seu fascínio, continuou Seewald. "O fascínio por Jesus reside precisamente no fato de ele ser um indivíduo que falhou e não estar entre aqueles que morrem velhos e cansados da vida na cama." Ao mesmo tempo, o teólogo alertou contra o foco excessivo na cruz na doutrina cristã da salvação. Ele considera a noção de que a morte de Jesus deva ser entendida como um sacrifício necessário ou uma espécie de resgate teologicamente problemática – é "melhor manter uma distância intelectual" de tais ideias.
Seewald nasceu em Saarbrücken em 1987. Estudou teologia católica, ciência política e filosofia em Tübingen, Pune (Índia) e Frankfurt am Main. Recebeu seu doutorado pela Universidade Ludwig Maximilian de Munique em 2011, seguido de sua habilitação quatro anos depois, também em Munique. Em 2016, Seewald ocupou uma cátedra visitante de dogmática e propedêutica teológica em Bonn, e desde 2017 é professor e diretor do Seminário de Dogmática e História do Dogma na Universidade de Münster.
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