05 Novembro 2025
O homem de 34 anos emigrou para Nova York aos 7 anos de idade e se tornou um defensor dos esquecidos. Seu pai é professor na Universidade Columbia, sua mãe é uma diretora de cinema de sucesso e sua esposa foi conhecida em um aplicativo de namoro.
A reportagem é de Paolo Mastrolilli, publicada por La Repubblica, 05-11-2025.
Um muçulmano nascido em Uganda há 34 anos, que emigrou para Nova York aos 7 anos. Filho de uma família intelectual da classe média alta – seu pai era professor da Universidade Columbia e sua mãe, uma cineasta de sucesso –, ele se tornou o defensor dos esquecidos, dos humilhados e dos ofendidos. Conheceu sua esposa, Rama Duwaji, por meio de um aplicativo de namoro, e casou-se com ela na Prefeitura, à qual ele chegou de metrô. Ao ser eleito prefeito da maior cidade dos Estados Unidos, citou o líder indiano Jawaharlal Nehru e o ex-prefeito de Nova York, Fiorello La Guardia, prometendo mudar a face da cidade com "a agenda mais ambiciosa para enfrentar a crise do custo de vida".
Cada vírgula na biografia de Zohran Mamdani explica por que ele jamais deveria ter chegado onde chegou ontem à noite e, ao mesmo tempo, por que somente ele poderia ter liderado e vencido essa insurreição contra a classe política e econômica que sempre dominou Nova York e os Estados Unidos. Ele também espera ter mostrado o caminho que poderia permitir aos democratas recuperar a relevância, senão reconquistar a Casa Branca, colocando as classes média e trabalhadora de volta ao centro de sua agenda.
Quando o encontramos, não por coincidência durante o desfile do Dia do Trabalho, ele explicou sua lógica desta forma, sabendo que seu principal oponente seria o ex-governador Andrew Cuomo: "A comunidade ítalo-americana é uma parte maravilhosa do que torna Nova York tão especial, e é uma comunidade histórica. Mas sabemos que grande parte dessa história está em perigo, porque nossa cidade está se tornando cada vez mais cara. Há tantas pessoas que, sem escolha, estão sendo expulsas de Nova York. Então, não importa o quanto celebremos os monumentos ou a história, se perdermos as pessoas que a tornaram tão especial."
Como podemos traduzir essa mensagem em termos políticos concretos? "Nosso objetivo é tornar a cidade acessível. Fazer com que todos entendam que a sustentabilidade econômica não é apenas um problema para os jovens ou para um casal que aspira a formar uma família. É também uma emergência para a população idosa de Nova York, onde vemos tantas pessoas com renda fixa que não têm dinheiro extra para o aluguel ou para qualquer aumento nas contas de água ou luz. Devemos garantir que elas possam permanecer em suas casas; esse é o nosso objetivo."
Daí seu revolucionário programa de cinco pontos. O primeiro é o congelamento dos aluguéis em um milhão de apartamentos com aluguel estabilizado em Nova York, ou seja, aqueles oferecidos a um "aluguel justo". Isso não afetaria o orçamento anual da cidade, de aproximadamente US$ 116 bilhões, mas preocupa proprietários e investidores, que já estão deixando a cidade. Em seguida, ele propõe a construção de 200 mil unidades habitacionais acessíveis na próxima década.
O segundo ponto é a creche gratuita, essencial para que os pais trabalhem e seus filhos cresçam bem: um custo de US$ 6 bilhões.
O terceiro são ônibus públicos rápidos e gratuitos, porque sem transporte, apenas os ricos se locomovem: um custo de US$ 800 milhões.
O quarto são cinco supermercados financiados pela cidade, que pagará US$ 60 milhões em aluguel e contas de serviços públicos, para manter os preços baixos e garantir alimentos acessíveis e de alta qualidade para todos. Zohran promete, então, aumentar o salário mínimo para US$ 30 por hora até 2030.
O custo total do programa é estimado em US$ 7 bilhões por ano, cobertos por um aumento de US$ 9 bilhões na arrecadação de impostos, obtido através do aumento do imposto corporativo para 11,5% e do aumento de 2% no imposto para aqueles que ganham mais de US$ 1 milhão por ano. Assim, ocorre uma transferência de riqueza dos ricos para os pobres.
Com essas promessas, Mamdani conseguiu primeiro atrair a atenção dos eleitores e depois conquistar sua confiança, apesar da suspeita e dos boatos de que ele era muito de esquerda, muito radical, muito perigoso devido à sua postura crítica em relação a Israel e à ideia, posteriormente abandonada, de cortar o financiamento da polícia. Um presente para os republicanos, que agora poderão usá-lo como espantalho nas eleições de meio de mandato do ano que vem.
Trump tentou impedi-lo, acusando-o de ser comunista e apoiando seu rival Cuomo. Ele respondeu assim:
"Afinal, se alguém pode mostrar a uma nação traída por Donald Trump como derrotá-lo, é a cidade que o gerou. E se existe alguma maneira de aterrorizar um déspota, é desmantelando as próprias condições que lhe permitiram acumular poder. Não é só assim que paramos Trump; é assim que pararemos o próximo. Então, Donald Trump, já que sei que você está assistindo, tenho três palavras para você: Aumente o volume. Vamos responsabilizar os maus proprietários porque os Donald Trumps da nossa cidade se acomodaram demais em se aproveitar de seus inquilinos. Vamos acabar com a cultura de corrupção que permitiu que bilionários como Trump sonegassem impostos e explorassem isenções fiscais. Vamos apoiar os sindicatos e expandir as proteções trabalhistas porque sabemos, assim como Donald Trump, que quando os trabalhadores têm direitos inabaláveis, os patrões que tentam extorqui-los se tornam muito pequenos. Nova York continuará sendo uma cidade de imigrantes: uma cidade construída por imigrantes, impulsionada por imigrantes e, a partir de hoje à noite, liderados por um imigrante. Então ouça-me, Presidente Trump, quando digo isto: para atingir qualquer um de nós, terá que passar por cima de todos nós."
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