07 Julho 2025
Bento XVI, o último pontífice a tirar férias lá, sempre amou aquela “pequena cidade rodeada pela beleza da criação” a cerca de trinta quilômetros de São Pedro, o lago vulcânico que desenha um oval entre as colinas Albanas, o clima ameno dos Castelli Romani que no verão o reabastecia de serenidade e descanso.
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada por Corriere della Sera, 05-07-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Não foi por acaso que há quatro séculos os Papas a frequentaram. Não que eles a tivessem descoberto, na verdade. Nas terras papais de Castel Gandolfo, ainda existem os restos da vila que o imperador romano Domiciano mandou construir no final do século I. O fato de a área ser cobiçada por sua localização é demonstrado pelo mito do nascimento de Alba Longa, a "cidade-mãe" de Roma, que o filho de Eneias fundou naquelas paragens após a destruição de Troia e as peregrinações cantadas por Virgílio, como escreveu o historiador grego Estrabão no quinto livro de sua Geografia: "Quando Eneias e Anquises morreram, Ascânio construiu Alba no Monte Albano, tão distante de Roma quanto Ardeia".
Tudo isso, aparentemente, não chegou a impressionar Francisco. Bergoglio evitava tirar férias; durante doze anos, passou o verão em Santa Marta e, desde 2016, abriu o Palácio Apostólico à visitação, incluindo o apartamento pontifício. Por isso, o retorno do Papa a Castel Gandolfo é de certa forma um acontecimento. Leão XIV chegará lá neste domingo à tarde, após o Angelus, e ficará por duas semanas, até 20 de julho. No momento, o Palácio permanece aberto ao público e "a decisão sobre seu futuro cabe ao Papa", explica Andrea Tamburelli, diretor das Vilas Pontifícias. "Enquanto isso, estamos realizando a manutenção ordinária e extraordinária de todo o local". Assim, Prevost ficará hospedado na vizinha Villa Barberini, uma joia do século XVII que era reservada ao secretário de Estado e que se tornou parte das Vilas Pontifícias, um complexo extraterritorial de 55 hectares, após os Pactos de Latrão de 1929. Na tarde de quinta-feira, Leão XIV fez sua última visita.
No último mês de reforma e obras, foi adicionada uma quadra de tênis, do qual o Papa é praticante. "João Paulo II mandou construir uma piscina, e há também uma pista de boliche ali perto", sorri o Cardeal Marcello Semeraro, que foi bispo de Albano por dezesseis anos e três pontífices antes de se tornar prefeito do Dicastério dos Santos. Já entrou para a história a imagem de Semeraro entre os "dois Papas", na manhã de 23 de março de 2013, quando Francisco foi visitar seu antecessor, que havia se retirado para Castel Gandolfo desde a noite em que renunciou ao pontificado, às 20h de 28 de fevereiro, num voo de helicóptero do Vaticano transmitido ao vivo para o mundo inteiro. Bergoglio retornou para a festa da Assunção, em 15 de agosto, e foi só.
"No início, pensei que fosse uma forma de discrição em relação a Bento XVI, para que se sentisse livre para ficar sem constrangimentos. Mas então o próprio Francisco me disse para não me preocupar, não fazia parte de sua mentalidade sair de férias, ele preferia descansar em casa."
O Papa Emérito também retornou logo ao Vaticano. Pensava-se então que, se Francisco não ia, ele também não queria ficar, "mas não é isso", assegura Semeraro: "Dependia do seu irmão, Georg Ratzinger, que ia visitá-lo todos os verões e era mais velho, tinha problemas de saúde e se sentia mais confortável no mosteiro do Vaticano". O fato é que, a partir daquele momento, tudo mudou. Sabia-se que "a escolha de Francisco era temporária", mas não é como se agora "tudo pudesse ser desmantelado de uma hora para outra", suspira Semeraro. O Papa retornará ao seu Palácio? "Espero que sim".
O primeiro a se hospedar lá, em 1626, foi Urbano VIII Barberini. A Porta Pia, em 1870, fez com que fosse abandonada por sessenta anos. Os Papas voltaram a passar férias de verão após o Tratado de Latrão. “Todos adoravam. Pio XI também queria criar ali uma fazenda que fosse um modelo para a época. Na área dos observatórios astronômicos mais antigos, ele criou uma espécie de claustro para que pudesse passear mesmo em dias de chuva. Pio XII passava longos meses lá, mesmo fora do verão: em 1949, ele proclamou a Virgem Fidelis padroeira dos Carabinieri com um documento assinado em Castel Gandolfo em 11 de novembro, e ele morreu em Castel Gandolfo em 1958, em 9 de outubro. O Papa Montini já ia para lá como arcebispo de Milão porque era amigo de Emilio Bonomelli, o diretor que organizou todo o complexo como é hoje. João Paulo II amava tanto Castel Gandolfo que não permitiu intervenções estruturais que o impedissem de ir aonde quisesse. Certa vez, calculamos que na residência de verão, somando as várias estadias, ele passou nada menos que quatro anos”.
Certamente não foram anos fáceis para Castel Gandolfo. Sim, ele sofreu tanto no plano espiritual quanto material. A presença do Papa era motivo de alegria cristã, para os habitantes e os peregrinos: o Angelus, as audiências... E, claro, também foi difícil para todas as atividades comerciais que se beneficiavam da chegada dos peregrinos. No mês passado, Leão já havia visitado o local por algumas horas. "Lembrei-lhe que a igreja de Castel Gandolfo é dedicada a São Tomás de Vilanova, um de seus coirmãos, porque outrora era governada pelos agostinianos. Estou feliz que o Papa retorne. Foi muito bom vê-lo no Jardim da Virgem Maria, rezando diante da Nossa Senhora e do lago de Pio XI."