80% das vítimas foram mortas em casa. Limpeza étnica no norte de Gaza

Foto: UN News

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25 Novembro 2024

Palestina. Os dados da ONU sobre mortes desde 7 de outubro de 2023 mostram a face da ofensiva israelense: tornar o enclave impróprio para a vida. Dos 400.000 palestinos da área norte, 60.000 permanecem, sem ajuda.

A reportagem é de Chiara Cruciati, publicada por Il Manifesto, 24-11-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.

“Cerca de 80% das vítimas confirmadas são pessoas mortas em edifícios residenciais”. Esse dado, divulgado por um novo relatório da ONU, não é apenas um número: é um espelho do tipo de ofensiva que as autoridades israelenses decidiram realizar em Gaza. Eles disseram isso nas horas imediatamente sucessivas ao ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, que matou 1.100 israelenses: não há civis inocentes em Gaza. Daí o bombardeio em massa de edifícios residenciais, ou seja, as casas.

O objetivo militar é político: tornar o enclave palestino impróprio para a vida, forçar o maior número possível de pessoas a sair e substituí-las por colonos israelenses no norte. A outra consequência do ataque às casas é um número de mortos sem precedentes nas guerras pós-1945: ontem, subiram para 44.176 em 13 meses (120 nas últimas 48 horas), a que deve ser adicionado um número indefinido de desaparecidos, cerca de 10.000, uma flutuação devido à descoberta de corpos há muito desaparecidos e novos cadáveres sob os escombros. Um balanço real é impossível, em Gaza, caíram todas as redes sociais normais de comunidade e vizinhança; nas casas que ainda estão de pé, vivem famílias deslocadas de todas as partes da Faixa.

Ontem, a aviação israelense atacou de norte a sul. No sul, em Khan Younis, o exército publicou uma nova ordem de evacuação no X, enquanto no centro os ataques se intensificaram, especialmente no campo de refugiados de Nuseirat, cenário de muitos dos piores massacres dos últimos meses. Ontem, a mesquita al-Farooq foi atingida. No campo de al-Bureij, três pessoas foram mortas, uma criança e seus pais; em Beit Lahiya, na mira novamente o único hospital em funcionamento do norte, o Kamal Adwan, sob ataque desde o início de outubro: duas pessoas foram mortas por tiros israelenses disparados contra a entrada norte.

“Um cerco muito duro está em andamento, nada de comida, água, ajudas, enquanto as forças israelenses continuam a atacar o hospital”, conta a jornalista Hind Khoudary. “A entrada foi atingida, assim como o telhado, os tanques de água e o sistema de oxigênio. Não há equipes de socorro e há pessoas ainda presas sob os escombros”. As explosões de sexta-feira, relatou Hussam Abu Safia, diretor do Kamal Adwan, feriram 12 membros do pessoal e causaram sérios danos “ao gerador elétrico, às redes de oxigênio e água e aterrorizaram os pacientes, inclusive mulheres e crianças”.

De acordo com os dados da agência humanitária da ONU, OCHA, ainda haveria 60.000 palestinos no norte, dos 400.000 presentes antes do assédio iniciado em 6 de outubro último. A expulsão forçada foi realizada com a força, conforme denunciado por investigações jornalísticas e associações internacionais após o lançamento (embora oficioso) do chamado Plano dos Generais.

Ontem à tarde, o porta-voz das brigadas do Hamas al Qassam, Abu Obeida, anunciou a morte de uma refém israelense no norte de Gaza, atribuindo a responsabilidade a um ataque israelense. Tel Aviv parece não estar mais falando de reféns, com as vozes críticas do país lendo no Plano dos Generais o abandono definitivo dos cem que ainda estão em Gaza. Entre elas, os manifestantes que protestaram novamente ontem em frente à residência do presidente Herzog.

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