"Quero recordar que o protagonista do Sínodo é o Espírito Santo. Sugiro que levem consigo os textos de São Basílio, que nos preparou o Padre Davide Piras, e continuem meditando-o, porque isso pode ajudá-los. Quero agradecer o trabalho de todos e de cada um: cardeal Grech, não dormiu à noite; cardeal Hollerich, mestre dos noviços; Nathalie Becquart e Luis Marín de San Martín, Giacomo Costa, Riccardo Battocchio, Giuseppe Bonfrate, Irmã Maria Grazia Angelini, Timothy Radcliffe, que nos manifestaram um saber espiritual conosco, e aos escondidos, aqueles que estão aqui atrás, que não vemos e que possibilitaram tudo isso. Obrigado de coração a todos. Muchas gracias." Com estas palavras o Papa Francisco encerrou a primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, na noite de sábado, 28-10-2023. A XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos foi realizada no Vaticano entre 04 e 29 de outubro. A segunda sessão será em 2024.
Ao apresentar o documento síntese da Assembleia, o cardeal Jean-Claude Hollerich, arcebispo de Luxemburgo, o comparou a "uma pequena semente, mas cheia de futuro", fazendo alusão à parábola evangélica. "Uma pequena semente, mas cheia de futuro, que poderá crescer graças à obra do Espírito Santo e à generosa colaboração de todos na sua ação misteriosa. A esperança é que os meses que nos separam da segunda Sessão da Assembleia sejam um tempo de graça e de amadurecimento, para o bem da Igreja e para a vida do mundo." O Relatório Síntese orientará o caminho eclesial até à segunda e última sessão do Sínodo sobre a Sinodalidade, marcada para outubro de 2024.
O Relatório Síntese está organizado em três partes:
1) “O rosto da Igreja sinodal”, que apresenta os princípios teológicos que iluminam e fundamentam a sinodalidade.
2) “Todos os discípulos, todos os missionários”, que trata dos sujeitos que, nos diversos níveis, formam o Povo de Deus e que são chamados, cada um por sua vez, a assumir a sinodalidade como estilo eclesial concreto.
3) “Tecendo laços, gerando comunidades” aborda os processos e organismos que, numa lógica sinodal, permitem o intercâmbio entre as Igrejas e o diálogo com o mundo.
Em seu comentário, publicado no National Catholic Reporter em 25-10-2023, o jornalista Michael Sean Winters antecipou algumas das impressões e sentimentos compartilhados por grupos que nutriam expectativas distintas acerca dos pontos levantados no Instrumentum laboris, documento que serviu de base para o trabalho dos participantes do Sínodo sobre a Sinodalidade.
Do lado progressista, exemplificou, "o jesuíta Pe. James Martin disse aos meus colegas Christopher White e Joshua McElwee que estava 'decepcionado, mas não surpreso' porque o documento final não mencionava questões LGBT'. 'Havia opiniões muito divergentes sobre o tema', disse Martin. 'Gostaria, no entanto, que algumas dessas discussões, que foram francas e abertas, tivessem sido capturadas na síntese final'."
Do lado conservador, acrescentou, "o antigo prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal Gerhard Müller, é um dos muitos conservadores preocupados com o fato de todo o processo estar a desviar a Igreja. 'Na realidade, eles estão a desenvolver um entendimento que não é coerente com a fé católica', disse ele ao National Catholic Register na última semana de reuniões".
Na avaliação de Winters, contudo, o encontro evidenciou o que há de diferente no pontificado de Francisco: "É o convite a pensar profundamente sobre a máxima atribuída a Santo Agostinho: no essencial, unidade; em questões duvidosas, liberdade; em todas as coisas, caridade".
Para o teólogo pastoralista e padre austríaco Paul M. Zulehner, professor emérito da Universidade de Viena, "a sinodalização da Igreja Católica deu um passo enorme" com a realização da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos. No entanto, sublinha, "ainda há trabalho a ser feito sobre questões conhecidas, que agora passaram a fazer parte do léxico oficial". Segundo ele, "a etapa que acabamos de concluir é uma etapa importante no caminho sinodal da Igreja universal desejado pelo Papa Francisco. Além disso, não se tratou de um dos habituais sínodos dos bispos, mas sim de um sínodo dos bispos alargado, expandido em uma assembleia eclesial original: um Sínodo do Povo de Deus, no qual não só os bispos, mas também os batizados, mulheres e homens, tiveram um lugar e uma voz. Só isso já pode encorajar aquelas Igrejas locais que, como a alemã, desejam ter uma espécie de 'parlamento eclesial' permanente e, portanto, institucionalizar a sinodalidade".
Timothy Radcliffe destacou o espírito do Sínodo: "Estamos aprendendo a tomar decisões juntos, a escutar uns aos outros.”
Em artigo publicado na página eletrônica do Instituto Humanitas Unisinos - IHU ontem, 31-10-2023, o teólogo italiano Andrea Grillo destacou os desafios de criar consenso sobre pontos delicados. "É preciso oferecer razões mais fortes, mais profundas e mais convincentes. A simples enumeração de 'posições diferentes' não dá razão das argumentações nas quais as posições se assentam e do horizonte eclesial e espiritual que as alimenta. Não ter o instinto de rebater é uma virtude a ser amadurecida, mas que pode degenerar em vício se a orientação comum for paralisada pelo jogo das opiniões diferentes". Nesta manhã, 01-11-2023, Grillo fará uma avaliação do encontro na videoconferência intitulada "A primeira Sessão do Sínodo sobre a Sinodalidade 2023. Análises e reflexões". O evento será transmitido na página do IHU e no Canal do IHU no YouTube às 10h. O texto base da palestra está disponível aqui.
Desde 2021, o Instituto Humanitas Unisinos - IHU tem publicado inúmeras análises acerca do Sínodo sobre a Sinodalidade e, particularmente, nesta semana, tem destacado a publicação de artigos e entrevistas que expressam não só as posições divergentes, mas as razões pelas quais teólogos e teólogas defendem suas teses. Entre eles, destaca-se o artigo de Consuelo Vélez, teóloga colombiana, que expressa a insatisfação de alguns cristãos com a condução de determinados pontos.
No artigo intitulado "Documento final do Sínodo: uma reforma eclesial... que não chega", ela disse que "não há muito a ser dito em relação ao Documento Síntese da Assembleia Sinodal", mas destacou alguns aspectos, entre eles:
"O facto de os padres e as mães sinodais terem podido falar, exprimindo estas divergências, não significa que não existam visões muito diferentes e que o caminho pareça demasiado longo para chegar a um consenso."
"Quando se fala em diaconato, continua a divisão ou polarização que parece intransponível. Já foram propostas duas comissões e nenhuma solução foi encontrada e talvez tenhamos que esperar por esta terceira vez."
Outra posição que tem repercutido é a entrevista do Cardeal Müller, prefeito emérito da Congregação para a Doutrina da Fé. Em resposta às perguntas de Eduardo Pentin, do National Catholic Register, o cardeal Müller comparou o Sínodo sobre a Sinodalidade a "uma reunião sinodal anglicana", que "está sendo usado por alguns participantes como um meio para preparar a Igreja Católica a aceitar ideologias contrárias às Escrituras e à Tradição". Entre as questões abordadas, ele criticou as imagens utilizadas para ilustrar o que seja a Igreja:
"Alguns têm esta imagem de uma 'pirâmide invertida' de governação, mas no centro desta pirâmide está a vontade pessoal do Papa e dos seus conselheiros e colaboradores. Esta pode ser uma imagem para deixar clara às crianças, mas uma 'pirâmide' ou 'poliedro' não é uma imagem bíblica da Igreja. Estas são imagens que saem da geometria matemática. Em vez disso, deveriam olhar para as imagens bíblicas da Igreja na Lumen Gentium: o pastor e o rebanho, e todas estas imagens de uma vinha e assim por diante."
"Alguns oradores tinham uma ideia sociológica da Igreja, uma compreensão naturalista da Igreja, mas não tinham a compreensão teológica. Eles estão sempre falando do Espírito, mas o Espírito não é um fluido. O Espírito na Igreja é a Terceira Pessoa da Trindade. Ele é uma Pessoa. E nunca podemos falar do Espírito Santo sem o Filho e o Pai. Sempre e em todos os momentos falamos do Espírito do Pai e do Filho. Quase nunca foi mencionado Jesus Cristo - apenas de forma pedagógica, de formas que transformam as parábolas e o seu significado. Jesus não condenou a mulher em adultério, por exemplo. As intervenções falaram da nossa relação com Jesus, mas não como Jesus como a Palavra de Deus, dada a nós, de uma vez por todas."
Algumas análises acerca das impressões sobre a conclusão da primeira sessão do Sínodo sobre a Sinodalidade, publicadas na página eletrônica do IHU nos últimos dias, estão disponíveis abaixo.
Para dar continuidade ao debate sobre esta temática, neste mês o IHU promove uma série de eventos que, diretamente ou indiretamente, abordaram aspectos da discussão sinodal. A seguir, publicamos a programação das atividades a serem realizadas em novembro.
Data: 01-11-2023, quarta-feira | 10h
Videoconferência: A primeira Sessão do Sínodo sobre a Sinodalidade 2023. Análises e reflexões.
Palestrante: Prof. Dr. Andrea Grillo, do Pontifício Ateneu Santo Anselmo (Roma)
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Data: 14-11-2023, terça-feira | 10h
Videoconferência: A Opção Francisco e a(as) herança(s) do Concílio Vaticano II
Palestrante: Prof. Dr. Gilles Routhier, da Faculdade de Teologia e Estudos Religiosos da Universidade de Laval (Québec)
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Data: 16-11-2023
Videoconferência: Mulher, Igreja e Sinodalidade
Palestrante: Profa. Dra. Olga Consuelo Véles, da Pontificia Universidad Javeriana (Colômbia) | Profa. Dra. Ivenise Santinon (PUC-Campinas) | 10h
O link estará disponível em breve na página de eventos do IHU
Data: 23-11-2023, quinta-feira | 10h
Videoconferência: A Opção Francisco e o Sínodo sobre a Sinodalidade. Esperanças e desafios.
Palestrante: Profa. Dra. Marinella Perroni, do Pontificio Ateneo Sant'Anselmo (Roma)
Acesse aqui
Data: 29-11-2023, quarta-feira | 10h
Videoconferência: A Opção Francisco e o cristianismo como estilo em face à mudança epocal
Palestrante: Prof. Dr. Christoph Theobald, da Faculdade de Teologia do Centre-Sèvres (Paris)
Acesse aqui
Os três eventos realizados em preparação para o Sínodo sobre a Sinodalidade, com ênfase na análise do Instrumentum Laboris que orientou a primeira sessão sinodal, entre os meses de julho e novembro, estão disponíveis abaixo.
Data: 20-07-2023
Videoconferência: Instrumentum Laboris Sínodo 2021-24. Primeiras impressões, perspectivas e desafios
Palestrantes: Flavio Lazzarin (Comissão Pastoral da Terra - CPT) | Profa. Dra. Alzirinha Souza (PUC Minas e ITESP) | Prof. Dr. Dom Joaquim Mol (Bispo auxiliar em Belo Horizonte)
Data: 26-07-2023
Videoconferência: Instrumentum Laboris Sínodo 2021-24. Primeiras impressões, perspectivas e desafios
Palestrantes: Prof. Dr. Faustino Teixeira (IHU) | Pe. Edson Thomassim (Diocese de Novo Hamburgo, São Leopoldo/RS) | Profa. Dra. Cleusa Maria Andreatta (IHU)
Data: 09-10-2023
Videoconferência: Sínodo sobre a Sinodalidade 2023. Primeiras impressões
Palestrantes: Prof. Dr. Geraldo Luiz De Mori (FAJE) | Pe. Luis Miguel Modino Martínez (Assessor de Comunicação da CNBB Regional Norte - 1) | Leci Nascimento (Presidente do Conselho Nacional do Laicato do Regional Leste II)
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