18 Outubro 2023
O químico Vincenzo Balzani, professor emérito da Universidade de Bolonha, mantém uma coluna quinzenal onde aborda brevemente questões relacionadas ao mundo da ciência e seu papel na sociedade. Retomamos aquela dedicada à tenacidade, também em âmbito eclesial, do negacionismo climático.
A coluna é publicada por Bolonha7, encarte do jornal Avvenire, 15-10-2023.
A mudança climática é um dos temas mais discutidos nos congressos científicos e nos debates públicos. Há três pontos polêmicos: a) houve uma mudança climática nas últimas décadas? b) Se sim, é um fenômeno gerado pela atividade humana? c) Se sim, é controlável?
A ciência deu respostas claras a essas questões: está em curso uma mudança climática progressiva causada pelas emissões de gases do efeito de estufa gerados pela utilização de combustíveis fósseis e, portanto, para combatê-la é necessário abandoná-los e utilizar a energia de fontes renováveis: sol, vento e água.
Essa transição energética é tecnicamente possível e já está em curso, mas avança lentamente porque é dificultada por fortes interesses econômicos e políticos.
Com o avanço dos conhecimentos científicos, que demonstram a necessidade da transição energética, desenvolveu-se uma forte campanha negacionista que visa defender os interesses e as posições ideológicas que se sentem ameaçados. Foi assim que um fenômeno científico como a mudança climática se tornou um tema de propaganda política, em que os resultados da ciência são questionados e argumentos irrelevantes e informações inverídicas são introduzidos na discussão.
Os negacionistas argumentam que o debate sobre a mudança climática ainda está em curso; na verdade, 98% dos cientistas consideram-no concluído. O aumento gradual da temperatura do globo é atribuído pela ciência ao efeito estufa causado pelo CO2 produzido em decorrência do uso crescente de combustíveis fósseis, enquanto para os negacionistas é um fenômeno natural ligado à energia que vem do Sol.
Essa interpretação é facilmente refutável, uma vez que desde 1960 a temperatura do globo continua a aumentar apesar da irradiância do Sol continuar a diminuir.
Os negacionistas afirmam que os combustíveis fósseis trazem riqueza e bem-estar, esquecendo-se de dizer que a mudança climática e a poluição causam danos à saúde e provocam, só na Itália, cerca de 60.000 mortes prematuras todos os anos. Insistem também no fato de a transição energética ser dispendiosa, enquanto os especialistas das instituições econômicas concordam em avaliar que os benefícios da transição serão muito maiores do que os custos necessários para a levar a termo.
O negacionismo é também greenwashing, ou seja, a ênfase dada pelas indústrias petrolíferas à sua atividade negligenciável no campo das energias renováveis para esconder o seu empenho cada vez maior de o contrastar.
Segundo os negacionistas, o crescimento econômico, o desenvolvimento tecnológico e a substituição parcial dos combustíveis fósseis pela energia nuclear bastam para resolver o problema da hipotética mudança climática.
Concluindo, ao misturar verdade e mentira, utilizando dados manipulados e argumentos ideológicos difíceis de destrinchar, os negacionistas propõem uma narrativa falsamente otimista da mudança climática, em contraste com a narrativa preocupada e consciente dos cientistas.
O confronto entre teorias opostas, típico das discussões que acontecem nos talk shows, sobre temas como a mudança climática tem o efeito de servir de megafone para a desinformação.
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O negacionismo que resiste. Artigo de Vincenzo Balzani - Instituto Humanitas Unisinos - IHU