17 Outubro 2023
“Devemos retomar um mínimo de humanidade nesta situação e não deixar que o ódio cegue o nosso raciocínio, as nossas perspectivas, a nossa maneira de pensar." Assim se manifesta o cardeal franciscano Pierbattista Pizzaballa, patriarca latino de Jerusalém. Ordenado bispo e nomeado Administrador Apostólico do Patriarcado Latino de Jerusalém em 2016, tornou-se patriarca quatro anos depois. Em 7 de outubro ainda estava na Itália, depois de ter recebido a insígnia do cardeal em 30 de setembro, quando, ocorreu o massacre do Hamas no sul de Israel. "É uma tragédia que me causa grande dor pessoal. Ninguém estava preparado, certamente não nessa dimensão, caiu sobre nós de repente."
A entrevista é de Nello Del Gatto, publicada por La Stampa, 16-0-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Você disse que a dor dos palestinos não pode justificar essa barbárie. Que significado têm as imagens de terroristas do Hamas que, em nome de Deus, zombam dos corpos torturados dos reféns?
Quando essas coisas acontecem nos perguntamos: ‘Onde está Deus?’ e talvez seja melhor ficar sem Deus se faz essas coisas. A verdade é que deveríamos nos perguntar: ‘Onde está o homem?’ não onde está Deus porque tais coisas é o homem que faz e como o homem muitas vezes manipula a realidade, ele também manipula Deus para justificar a sua própria visão e a própria perspectiva, o que neste caso é horrível.
A sua diocese inclui Israel, os Territórios Palestinos, a Jordânia e Chipre. A idade média dos fiéis, mas em geral da população, é bastante baixa. Como se faz para evitar que eles se voltem para o fundamentalismo?
Em primeiro lugar, é preciso ter uma abordagem da situação que seja integral, significa que não se pode trabalhar apenas no aspecto religioso, mas também é preciso ver o aspecto social, humano e econômico. Temos que devolver aos jovens perspectivas de vida. Se diante deles não houver absolutamente nada, é claro que os fundamentalismos com suas persuasões fáceis são muito atraentes. Além disso, a mensagem não será transmitida se não houver uma testemunha credível no local, não necessariamente sacerdotes, religiosos, ou de alguma forma pessoas que em suas vidas tinham esse desejo de beleza, de bem.
Em Gaza a situação é particularmente grave nos dias atuais. Você pediu corredores humanitários. Como está vivendo a situação?
Todos os dias sinto a nossa comunidade católica ali, tentando dar-lhes conforto. É uma situação muito difícil, você se sente impotente. Estou em contato também com as diversas chancelarias, autoridades italianas e com a Secretaria de Estado para tentar ver o que pode ser feito concretamente numa situação tão dramática que não deixa muitas possibilidades de movimento para os cristãos, para os refugiados, para os reféns. Dizem que precisam evacuar, mas para onde? Todos os crentes do mundo e não, e aqueles que se preocupam com esta terra devem tornar-se advogados perante os seus governos e a diplomacia para que se trabalhe no sentido de uma desescalada da situação que já é grave e que poderia ter ficado ainda pior.
Em entrevista à TV2000 assim que desembarcou de Roma, o senhor disse que há algo no mundo islâmico que nutre um pensamento de terrorismo, há uma dimensão de ódio profundo do Hamas em relação a Israel que não é justificável. Como se pode debater com o mundo muçulmano a partir de São Francisco que o fez nestas terras 800 anos atrás?
A mistura entre religião e política é sempre prejudicial. Ler a situação através desse filtro é sempre muito problemática e cria barreiras. O que devemos fazer agora e partir dos fracassos cujas consequências estamos vivendo justamente nestes dias e entender, acima de tudo, o que não devemos fazer. A primeira coisa é não misturar política e religião; depois começar pela humanidade comum. Devemos começar especialmente com as gerações mais jovens. O perigo é que as gerações mais jovens fiquem imbuídas desse fundamentalismo religioso que é o mais prejudicial de todos.
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“Nossos pensamentos estão com os reféns, estamos negociando os corredores humanitários”. Entrevista com Pierbattista Pizzaballa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU