17 Outubro 2023
"A dinâmica do Sínodo para tomar uma decisão é: ouvir a todos, fazer discernimento com a ajuda do Espírito Santo todos juntos e depois proceder para as decisões de parte de alguns (os bispos) juntamente com o Prótos, o papa", escreve Enzo Bianchi, monge italiano, em artigo publicado por La Repubblica, 16-10-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Durante o processo sinodal em curso em Roma, que pela primeira vez na história envolve todos os componentes do povo de Deus, estão aflorando muitas tensões. Só pode ser assim, como demonstrado por todos os sínodos que já se realizaram, desde o primeiro testemunhado pelos Atos dos Apóstolos em Jerusalém.
Na verdade, a necessidade de celebrar um sínodo se impõe precisamente quando está ameaçada a unidade na Igreja ou entre as igrejas.
No caminho atual, afloraram cada vez mais como temas de discussão e conflito as possíveis mudanças no desempenho dos ministérios e no exercício da autoridade, entre as quais a concessão do diaconato para as mulheres e sua admissão à ordem presbiteral; ou temas relativos à ética moral que requer uma nova compreensão e novas leituras de situações humanas muito reais, como o vínculo entre pessoas do mesmo sexo, o reconhecimento do gênero, etc. Este é um sínodo desejado pelo Papa Francisco sobre a “sinodalidade” para explorar, adquirir e chegar a praticar na vida eclesial o estilo de “caminhar juntos”, para poder construir a koinonía segundo a vontade do Senhor. Finalmente, o Sínodo enfrenta a pergunta essencial: sínodo, o que você é? Depois de décadas de pesquisa, chegou a hora de sua definição.
Em sua intervenção no sínodo, o Metropolita Ortodoxo Jó da Pisídia, do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, afirmou que para as igrejas ortodoxas o Sínodo é “uma reunião deliberativa de bispos, não uma assembleia consultiva de clero e leigos. Não pode haver um sínodo sem um primaz e não pode haver um primaz sem um sínodo”. Mas também admitiu que na história houve exceções e que teólogos que eram simples fiéis participaram dos sínodos juntamente com os bispos.
O Papa Francisco amadureceu um sínodo diferente, introduzindo algumas novidades: em primeiro lugar, transformou um evento num processo, depois admitiu a esse processo não só os bispos, mas também outros homens e mulheres batizados e deu a todos a possibilidade de se expressarem para tender para a unidade. Mas aqui está a acusação: Francisco desprestigiou o Sínodo, reduzindo-o a uma assembleia de igreja. Na verdade, Francisco deixa intacto o Sínodo como órgão episcopal, que legisla como um grupo de alguns bispos reunidos em torno de um Primaz (o Prótos) e, portanto, toma decisões para toda a Igreja.
Não deliberam os leigos que no Sínodo também votaram, mas sim os bispos e o Primaz. Assim, os leigos (toda a Igreja) estão envolvidos e os bispos e o Papa conservam a sua exousía, a sua autoridade. Certamente este sínodo terá uma forma nova inédita, mas a substância não muda em relação ao primeiro sínodo de Jerusalém, no qual os apóstolos e o Espírito Santo decidiram. Afinal, assim é a dinâmica para tomar uma decisão: ouvir a todos, fazer discernimento com a ajuda do Espírito Santo todos juntos e depois proceder para as decisões de parte de alguns (os bispos) juntamente com o Prótos, o papa.
Essa práxis é tão antiga quanto a Igreja. Os monges sempre a praticaram com os capítulos: todos são ouvidos, começando pelos mais jovens, e depois ao abade, com o conselho, cabe a decisão final.
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Por que Francisco renova o Sínodo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU