01 Setembro 2023
A Conferência dos Bispos Católicos dos EUA lamentou a poluição e a injustiça que enchem os rios e riachos do país numa mensagem para o Tempo da Criação de 2023, emitida enquanto a administração Biden enfraquecia as regras que regem as vias navegáveis dos EUA para cumprir uma decisão recente do Supremo Tribunal.
A reportagem é de Brian Roewe, publicada por National Catholic Repórter, 31-08-2023.
O Arcebispo Borys Gudziak e o Bispo David Malloy, presidentes dos comitês nacionais e internacionais de justiça e paz da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA, escreveram em um comunicado divulgado em 29 de agosto que muitas das bacias hidrográficas nos Estados Unidos há muito são fontes vitais de vida, beleza, conexão e crescimento econômico. Mas as suas correntes também transportaram cargas mais prejudiciais.
"Os abundantes cursos de água do nosso país trouxeram explorações agrícolas produtivas e urbanizações prósperas. No entanto, juntamente com a prosperidade econômica e a engenhosidade, os nossos cursos de água foram preenchidos com poluição, contaminação e lixo, trazendo injustiça aos povos, criaturas e ecossistemas. Temos de mudar!" eles escreveram em uma reflexão sobre o tema do Tempo da Criação deste ano, “Deixe fluir a Justiça e a Paz”.
Os dois presidentes das conferências episcopais apelaram a essa mudança na forma de conversão ecológica, tanto nos estilos de vida pessoais como nas políticas públicas em torno da justiça ambiental e das alterações climáticas.
“A conversão ecológica dos corações e as mudanças nos estilos de vida são importantes para nós como indivíduos e para a nossa santidade, mas são as decisões de políticas públicas sobre os impactos coletivos que mudarão significativamente o curso do nosso futuro ambiental”, disseram os bispos.
A mensagem da Conferência dos Bispos dos EUA foi divulgada no mesmo dia em que a Agência de Proteção Ambiental dos EUA e o Exército dos EUA emitiram uma regra final e reduzida definindo as "águas dos Estados Unidos" que reduziu significativamente quais bacias hidrográficas são protegidas pela Lei de Água Limpa de 1972. Funcionários da EPA disseram que a medida foi resultado de uma decisão tomada em maio pelo Supremo Tribunal dos EUA, que limitou as zonas húmidas regulamentadas àquelas com ligações contínuas ao nível da superfície a grandes massas de água navegáveis.
A nova regra poderia remover as proteções federais para 1,2 milhão a 4,9 milhões de milhas dos riachos efêmeros do país, que fluem após eventos de precipitação, e até 63% da área de áreas úmidas, de acordo com um relatório do The Washington Post citando um funcionário da EPA.
O rio foi escolhido como símbolo do Tempo da Criação deste ano, um período ecumênico que vai de 1º de setembro, Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, até 4 de outubro, festa de São Francisco de Assis. Os organizadores convidaram os cristãos “a juntarem-se ao rio da justiça e da paz”, falando em nome das comunidades mais afetadas pelas alterações climáticas e pela perda de biodiversidade. Os eventos incluem serviços de oração, simpósios educacionais e um evento que endossa um tratado global de não proliferação de combustíveis fósseis. Os participantes também são convidados a orar pela ação dos líderes mundiais na cimeira climática das Nações Unidas, COP28, em Doha, Qatar, em dezembro.
Desde 2019, o Papa Francisco incentiva os católicos a participarem na celebração da época. Na sua própria mensagem, divulgada em Maio, o papa apelou aos líderes mundiais para que cessassem a “loucura” da extração de novos combustíveis fósseis e “pusessem fim à guerra sem sentido contra a criação”.
Em sua audiência geral na Praça São Pedro na quarta-feira (30 de agosto), Francisco anunciou que emitirá no dia 4 de outubro uma exortação apostólica atualizando sua encíclica histórica Laudato Si', sobre o cuidado da casa comum para refletir sobre a condições climáticas extremas enfrentadas por vastas partes do mundo.
As mudanças climáticas exacerbaram os desafios colocados pela água em todo o país. Na Costa do Golfo da Flórida, os moradores se prepararam quando o furacão Idalia atingiu a costa na quarta-feira, depois de se transformar rapidamente em uma tempestade de categoria 3. Embora os cientistas climáticos sejam cautelosos em associar as alterações climáticas a uma única tempestade, os padrões de águas oceânicas cada vez mais quentes, incluindo em torno da Florida, fornecem combustível para que os furacões se intensifiquem mais rapidamente.
No Ocidente, 40 milhões de pessoas em sete estados enfrentam uma crise hídrica iminente à medida que o Rio Colorado seca devido ao uso excessivo e a uma seca histórica. Em outros lugares, lagos como o Lago Powell e o Grande Lago Salgado de Utah caíram para níveis perigosamente baixos, em alguns casos revelando navios outrora afundados e restos humanos.
Os bispos na sua declaração disseram que a nação “deve prosseguir a rápida descarbonização” como parte de “uma revolução energética”, a fim de abordar seriamente as alterações climáticas, como através dos investimentos históricos em energia limpa da Lei de Redução da Inflação que a Conferência dos Bispos dos EUA endossou. Mas esses esforços não podem ser conduzidos “nas costas dos pobres e desfavorecidos”, tanto no país como no estrangeiro, disseram.
"Reconhecemos que esta busca ocorre no meio das ameaças complexas de um mundo cada vez mais multipolar, com guerras e ameaças de guerras e outras considerações críticas de justiça para a nossa casa comum e para os mais vulneráveis. Este dilema clama por maior discernimento e ação para abordar ambos 'o grito da terra e o grito dos pobres'", escreveram os prelados dos EUA.
Juntamente com o envolvimento na vida cívica, que disseram ser essencial para a ecologia integral, os bispos exortaram os católicos a procurarem a simplicidade nas suas vidas, especialmente nos EUA, onde “enfrentamos uma tentação perene de viver além das nossas necessidades”, mesmo quando as disparidades de rendimento aumentam entre os economicamente ricos e pobres.
“Um estilo de vida ecológico não tem a ver com pauperismo ou austeridade, mas com um convite à modéstia e à simplicidade que aumenta a nossa liberdade de viver como devemos, independentemente dos nossos meios econômicos”, disseram os bispos. “Viver de forma simples permite que tanto os pobres como os ricos compartilhem uma solidariedade comum entre si e com a criação, lembrando de onde vêm todos os recursos”.
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