03 Agosto 2023
Em 02-08-2023, o mundo consumiu todos os recursos que a Terra pode fornecer para um ano. Este “dia da sobrecarga” recuou cinco dias em relação a 2022, mas sobretudo graças a uma alteração no seu cálculo.
A reportagem é de Fanny Marlier, publicada por Reporterre, 02-08-2023. A tradução é do Cepat.
Por trás do efeito do anúncio, esconde-se uma imagem ainda sombria. Este ano, a quarta-feira de 2 de agosto é marcada mundialmente com ferro em brasa: trata-se do Dia da Sobrecarga.
Determinada pelos cálculos da ONG Global Footprint Network, esta data soa o fim da disponibilidade de recursos que a Terra pode fornecer para um ano inteiro. Em resumo, para além deste dia, vivemos do crédito ecológico.
Um recuo devido a um cálculo melhor
Em 2022, o Dia da Sobrecarga aconteceu no dia 28 de julho, cinco dias antes deste ano. Mas, na realidade, “o progresso representa menos de um dia”, explica a ONG em nota de imprensa. Os quatro dias restantes são resultado de um método de cálculo diferente, “mais preciso e que corrige as superestimativas”.
Para Jean-Louis Bergey, coordenador da prospectiva da Agência de Transição Ecológica (Ademe), “um dia a mais ou a menos é a mesma coisa em termos puramente matemáticos”. Com a guerra na Ucrânia e suas consequências na produção de cereais “sem dúvida houve um pouco menos de importação e, consequentemente, de consumo”.
O consumo de quase dois planetas Terra
Para calcular esta data fatídica, os especialistas estadunidenses comparam a pegada ecológica dos países com a biocapacidade do planeta, ou seja, a superfície disponível para produzir recursos e absorver os resíduos. A média mundial chegou então a 1,7, o equivalente a quase dois planetas para cobrir o consumo atual da humanidade.
A pegada ecológica que engloba as emissões de gases de efeito estufa tem crescido continuamente ao longo de vários anos, enquanto a biocapacidade da Terra está diminuindo. “O que pesa muito na balança são as emissões de gases de efeito estufa ligadas aos combustíveis fósseis, enfatiza Jean-Louis Bergey. Em seguida vêm a pesca e a agricultura”.
Nos últimos cinco anos, a data do Dia da Sobrecarga estagnou. “É difícil determinar até que ponto esse fenômeno se deve à desaceleração econômica ou a esforços deliberados de descarbonização. De qualquer forma, a redução da sobrecarga é muito lenta”, insistem os especialistas da Global Footprint Network.
Para atingir a meta do IPCC de reduzir as emissões de carbono em 43% em todo o mundo até 2030 em comparação com 2010, o Dia da Sobrecarga teria que ser reduzido em dezenove dias por ano nos próximos sete anos.
Segurança alimentar em risco
O “excesso persistente” está levando a consequências cada vez mais graves, como “ondas de calor incomuns, incêndios florestais, secas e inundações, com o risco de comprometer a produção de alimentos”, insiste Steven Tebbe, chefe da Global Footprint Network.
Em um comunicado, o WWF alerta para a ameaça que pesa sobre o futuro abastecimento de água doce que põe em risco a segurança alimentar: “A agricultura responde por 70% do uso de água doce [no mundo]”, observa a ONG. Em resposta, isso exige a intensificação da transição da agricultura para a agroecologia (cobertura do solo, agrofloresta, etc.).
Os raros períodos em que a situação não piorou são aqueles marcados por recessões econômicas: aquela ligada à crise do petróleo na década de 1970, depois em 2008 após a crise dos subprimes.
Em 1970, o dia da sobrecarga ecológica foi estimado em 29 de dezembro. Depois, em 9 de outubro em 1995, em 23 de setembro em 2000 e em 7 de agosto em 2010. Este ano, a França atingiu seu próprio dia da sobrecarga em 5 de maio, como tem acontecido desde 2017. Se toda a humanidade vivesse como os franceses, seriam necessários o equivalente a 2,9 planetas Terra para atender às necessidades de todos.
Estados Unidos e Canadá não passam nem março
Entre os países que mais vivem de crédito estão o Catar – cujo dia de sobrecarga está marcado para 10 de fevereiro – Luxemburgo (14 de fevereiro), Canadá e Estados Unidos (13 de março).
Países em desenvolvimento como a China (2 de junho) ou o Brasil (12 de agosto) têm uma pontuação um pouco melhor, mas seu consumo em constante crescimento deve aumentar sua diferença.
Atualmente, apenas três países mantêm o consumo adaptado aos seus recursos: Jamaica (20 de dezembro), Equador (6 de dezembro) e Indonésia (3 de dezembro).
Dos 189 países analisados pela ONG, 51 (localizados em sua grande maioria na África e na Ásia) não figuram neste triste ranking, mantendo-se a sua pegada ecológica por habitante inferior à biocapacidade global.
Estamos falando, entre outros, de Guiné-Bissau, Suriname, Congo, Quênia, Índia, Nepal, Paquistão e Filipinas. Países poupados por este dia da sobrecarga, mas que, no entanto, carregam o peso das consequências do aquecimento climático devido à atividade de outros países.
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Dia da Sobrecarga da Terra: consumimos quase dois planetas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU