19 Mai 2023
O artigo é de José Antonio Pagola, teólogo, publicado por Religión Digital, 15-05-2023.
Mateus não quis terminar sua narrativa evangélica com a história da Ascensão. Seu evangelho, escrito em condições difíceis e críticas para as comunidades crentes, pedia um fim diferente do de Lucas.
Uma leitura ingênua e equivocada da Ascensão poderia criar naquelas comunidades o sentimento de orfandade e abandono diante da partida definitiva de Jesus. É por isso que Mateus termina seu Evangelho com uma frase inesquecível de Jesus ressuscitado: "Saiba que estou sempre com você, até o fim do mundo".
Esta é a fé que sempre animou as comunidades cristãs. Não estamos sozinhos, perdidos no meio da história, abandonados às nossas próprias forças e ao nosso pecado. Cristo está conosco. Em momentos como os que vivemos hoje, é fácil que os crentes caiam no lamento, no desânimo e no derrotismo. Parece que nos esquecemos de algo que precisamos lembrar com urgência: ele está conosco.
Os bispos, reunidos por ocasião do Concílio Vaticano II, constataram a falta de uma verdadeira teologia da presença de Cristo na sua Igreja. A preocupação de defender e especificar a presença do Corpo e do Sangue de Cristo na Eucaristia pode ter levado inconscientemente a esquecer a presença viva do Ressuscitado no coração de toda a comunidade cristã.
No entanto, para os primeiros crentes, Jesus não é um personagem do passado, um falecido que é venerado e adorado, mas alguém vivo, que anima, vivifica e enche com o seu espírito a comunidade crente.
Quando dois ou três crentes se reúnem em seu nome, ele está no meio deles. As reuniões de crentes não são assembleias de homens órfãos tentando encorajar uns aos outros. No meio deles está o Ressuscitado, com seu sopro e força dinamizadora. Esquecê-lo é arriscar enfraquecer nossa esperança pela raiz.
Ainda há algo mais. Quando encontramos um homem necessitado, desprezado ou abandonado, encontramos aquele que quis solidarizar-se com ele de forma radical. É por isso que a nossa atual adesão a Cristo não se verifica em lugar melhor do que na ajuda e na solidariedade com os necessitados. "Tudo o que você fez com um desses pequeninos, você fez isso comigo".
O Senhor ressuscitado está na Eucaristia alimentando nossa fé. Ele está na comunidade cristã infundindo seu Espírito e promovendo a missão. Está nos pobres movendo nossos corações à compaixão. É todo dia, até o fim do mundo.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Jesus não é um personagem do passado, um falecido que é venerado e adorado, mas alguém vivo. Artigo de José A. Pagola - Instituto Humanitas Unisinos - IHU