3º domingo da Páscoa – Ano A – Encontrar Jesus ressuscitado pelo caminho e convidá-lo para a vida

(Foto: Reprodução)

Por: MpvM | 21 Abril 2023

A reflexão é de Mariana Aparecida Venâncio. Ela possui graduação em teologia pelo Centro Universitário UniAcademia de Juiz de Fora - ES/JF (2016), especialização em sagrada escritura pelo Centro Universitário Claretiano (2018), mestrado em Letras (literatura Brasileira) pelo CES/JF. É doutoranda em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), com pesquisa sobre Bíblia como Literatura. Assessora da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética da CNBB.

 

 

Leituras do dia

1ª leitura: At 2,14.22-32
Salmo: Sl 15(16),1-2a.5.7-8.9-10.11 (R. 11ab)
2ª leitura: 1Pd 1,17-21
Evangelho: Lc 24,13-35

 

As leituras reservadas para este domingo têm sua centralidade no testemunho a respeito de Jesus. Na primeira leitura (At 2,14.22-32) ouvimos o anúncio de Pedro à multidão, a respeito de Jesus. O Evangelho (At 2,14.22-32) é a conhecida narrativa do caminho de Emaús, que fazem Jesus e os discípulos tristes. A memória de Lucas é também um registro da centralidade do anúncio Pascal na missão das primeiras comunidades, que naturalmente deram ênfase, no ensinamento sobre Jesus, aos momentos decisivos do mistério de sua encarnação – paixão, morte e, principalmente, ressurreição de Jesus. Não é estranho que os Evangelho tenham dedicado maiores narrativas a esses momentos da vida de Jesus, uma vez que eles sustentam a fé das primeiras comunidades, desde o encontro com Jesus que, passando pela morte, ressurgiu, até o aprofundamento de um pensamento sobre o significado de sua presença e da salvação que ele oferece em si, que tem todo o seu fundamento sobre a ressurreição.

Nós somos a comunidade dos que anunciam o Cristo morto e ressuscitado, por isso vemos nossas comunidades naquelas do Novo Testamento, que ouviram o testemunho de Pedro, de tantos discípulos anônimos e mais tarde dos Evangelhos e, se encantando por esse anúncio, decidiram dar continuidade a essa bela missão do anúncio.

É a mística desse mesmo anúncio que hoje deve chamar nossa atenção, porém. Em Emaús, é o próprio Jesus quem se coloca a caminho junto com aqueles dois discípulos desanimados. É essa mesma a situação daqueles dois: estão sem ânimo, sem um espírito segundo o qual caminhar. Durante a conversa, Jesus os faz olhar para o conjunto da Escritura e os faz ver com novos olhos tudo o que eles, como discípulos de Jesus, com certeza já haviam ouvido muitas vezes. É uma nova forma de compreender anúncios antigos, porque é o próprio Jesus quem lhes abre os olhos e a inteligência. Aqui está o primeiro passo para nós, anunciadoras e anunciadores: é Jesus quem deve anunciar em nosso ministério. Como se faz isso? Quando pretendemos anunciar a partir d'Ele. É ele mesmo a sabedoria a partir da qual o Antigo Testamento se abre a nós, não como simples material de exegese, mas como primeira forma como Deus falou conosco, humanidade. Quando a partir dele lemos a Escritura e quando em atenção à Palavra dele anunciamos a Escritura, aí sim nosso anúncio revelará a voz dele que sempre de novo continua a falar com os que o buscam. Por aí começa a busca por uma vida nova, por esses mistérios se dá também a descoberta dessa vida nova, que tem seu fundamento no amor de Cristo, conforme o ensinamento da carta de Pedro (1Pd 1,17-21).

Após o caminho de vários quilômetros, ao chegarem a seu povoado, aqueles discípulos de Emaús o convidam a ficar com eles. Sem saberem, eles levam ao seu povoado o próprio Jesus. Na Eucaristia celebrada, eles o reconhecem e então compreendem o caminho que eles fizeram. É a imagem de uma iniciação cristã verdadeira e eficaz, segundo passo para que compreendamos nossa missão: aquele que pelo caminho se encontra com Jesus e sente o coração arder, anseia por uma companhia dele que se faça cotidiana e, assim, o convida para a vida. Mas a abertura para que Jesus esteja presente em minha vida cotidiana necessariamente o traz para a vida da minha comunidade, do entorno, do povoado. Aqueles que nunca ouviram falar de Jesus recebem sua presença só porque eu decidi convidá-lo a viver comigo. Não devemos negligenciar este encontro que se faz missão. Quando deixamos que nossa vida se transforme pelo encontro que fizemos com Jesus, aí necessariamente é ele a transformar o meu entorno também: com meus esforços, posso ajudar que esse anúncio transcenda minha vida, a começar por não ocultar só para mim a graça e o dom que recebi com este encontro verdadeiro.

O terceiro passo é entender que, na Eucaristia, reconhecemos o Senhor verdadeiramente. Acabamos de celebrar a semana santa e agora celebramos este tempo de significativa alegria e esperança que é o Tempo Pascal. Que alegria dessas experiências em comunidades verdadeiras que nos ajudam a encontrar e entender o mistério de Cristo e sentir-nos participantes deste mistério! Aí a celebração da Eucaristia deixa de ser para nós um ritual vazio e se torna experiência, que fazemos junto com aqueles que nos são irmãos e que nos ajudam a encontrar o maior irmão: nessa celebração verdadeira nosso coração arde, a Escritura se abre à nossa inteligência e o Espírito nos anima a uma nova missão. Dessa nova missão, a alegria e o entusiasmo serão os primeiros sinais, o rosto visível de alguém, que finalmente, entendeu e encontrou o Cristo, Ressuscitado. É com Jesus que viveremos em plenitude o anúncio do Salmo 15: Junto de vós, felicidade sem limites.

Desejo a você a alegria desse encontro. A quem, como os discípulos a caminho de Emaús, se sente desanimada, desencontrada, desejo a serenidade de buscá-lo, a disposição para ouvir Jesus de novo – devemos ouvi-lo sempre. É só quando o conseguimos ouvir de verdade que um caminho na direção da alegria se faz possível. Que o Espírito nos confirme nesse propósito!

Uma boa celebração a você!

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