13 Abril 2023
"Como outras capacidades humanas, a empatia é aprendida. Em primeiro lugar, voltando a ter a experiência concreta do outro. É somente no exercício da exposição ao rosto do outro - colocando-nos ao lado dos tantos 'Cristos abandonados', como disse o Papa Francisco no Domingo de Ramos - que podemos alimentar aquelas atitudes de que precisamos desesperadamente para estancar o sangramento de mal a que parece destinada a sociedade contemporânea. Não seria esta a primeira educação que precisamos voltar a praticar?", escreve o sociólogo e economista italiano Mauro Magatti, professor da Universidade Católica de Milão, em artigo publicado por Avvenire, 12-04-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
As imagens de uma guerra na Ucrânia cruel e sangrenta que parece não ter fim e de outros conflitos igualmente intermináveis; os corpos de homens, mulheres e crianças afogados nas águas do Mediterrâneo; as notícias chocantes de muitos massacres familiares; a violência gratuita e sem sentido de gangues juvenis nas periferias da marginalidade e do desespero.
Vivemos em uma época que, apesar do bem que está em ato, parece estar se transformando em uma espiral do mal. O que está acontecendo?
Dois grandes pensadores do século passado – Hannah Arendt e Zygmunt Bauman – ao tentar entender um acontecimento tão dramático como o Holocausto – um extermínio em massa programático e racionalmente organizado –argumentaram que algumas das características típicas da era industrial – impessoalidade, burocratização, objetificação – havia semeado as premissas culturais sobre as quais aquela enorme crueldade histórica depois teve condições de se desenvolver.
Que seja claro: o mal não é uma questão sociológica. Desde sempre habita o coração do homem. Mas as formas e a intensidade com que se manifesta estão ligadas a condições histórico-culturais. E há momentos em que o mal se adensa e parece quase assumir o controle.
Por isso, para evitar voltar a se encontrar onde não queremos, é bom recorrer à lição de Arendt e Bauman apresentando algumas perguntas ao tempo em que vivemos.
A empatia é a capacidade de "colocar-se no lugar do outro", de se identificar com o outro, de entender seu estado de espírito, de experimentar seus próprios sentimentos e emoções. Disso resulta ser movidos pela dor do outro até chegar a cuidar dele.
Sabemos que, como ensina a parábola do bom samaritano, a passagem não é automática: assumir a responsabilidade é sempre um salto sem garantia. Mas é claro que essa abertura ao outro – sobre a qual se funda aquele bem necessário que é a solidariedade social – corre o risco de não acontecer quando é a qualidade das nossas relações que se deteriora. A ponto de não sentir mais a dor do mundo e se tornar capaz de "digerir" qualquer crueldade.
O boletim diário dos assassinados, das catástrofes em que estão encurraladas inteiras populações, das dores e até das torturas infligidas a tantos homens e mulheres em todo o mundo, revela tensões e desconfortos profundos. Aos quais não podemos dar resposta porque estamos conectados, mas sozinhos, interdependentes, mas desvinculados.
A "globalização da indiferença", denunciada insistentemente pelo Papa Francisco é o terreno ideal sobre o qual o mal, sem mais resistência, pode proliferar. E na época digital, o entorpecimento da empatia ocorre silenciosamente nos três níveis da nossa vida cotidiana. Em primeiro lugar, numa sociedade onde a relação com o outro é continuamente evocada mas, ao mesmo tempo, cuidadosamente evitada, a empatia se enfraquece a ponto de quase se extinguir. Isso é confirmado pelas pesquisas experimentais: a distância do local de sofrimento alheio enfraquece a probabilidade de uma resposta ativa. Atrás de uma tela, (quase) tudo se torna tolerável. Na solidão do olhar, no final o que cresce é o ódio ao diferente.
O problema é que, a cada dia que passa, nos acostumamos a olhar cada vez mais distraidamente para as tantas histórias dramáticas que vemos representadas. A ponto de não conseguir mais nos sentirmos envolvidos nem mesmo diante de uma carnificina como aquela na costa de Steccato di Cutro.
Em segundo lugar, tudo é demasiado rápido. As notícias nos assaltam e as imagens passam voando.
Torna-se difícil conseguir se deter um pouco diante de algo. Não há mais tempo para interiorizar o drama alheio. Para ter um tempo com ele. Para sentir afeto e amor. Ver tanto sem nunca ser verdadeiramente tocado, constrói uma crosta em nós que nos isola ainda mais do mundo e de suas dores. Tornando-nos, dia após dia, um pouco mais desumanos.
Por fim, há a tendência à equivalência generalizada. Nos noticiários um massacre é seguido pelas notícias sobre a previsão do tempo, enquanto as imagens do front de guerra são colocadas no mesmo plano dos resultados da Liga dos Campeões. Mas a total equiparação das notícias que têm peso e significado radicalmente diferentes prejudica a nossa percepção da realidade e enfraquece a nossa consciência: parece que não há mais nada pelo que valha a pena comprometer-se. Algo pelo qual realmente lutar.
Disso, portanto, a pergunta que deveria nos inquietar: para onde vai uma sociedade sem empatia?
Os sinais não são tranquilizadores. E por isso é importante tentar inverter a tendência.
Como outras capacidades humanas, a empatia é aprendida. Em primeiro lugar, voltando a ter a experiência concreta do outro. É somente no exercício da exposição ao rosto do outro - colocando-nos ao lado dos tantos "Cristos abandonados", como disse o Papa Francisco no Domingo de Ramos - que podemos alimentar aquelas atitudes de que precisamos desesperadamente para estancar o sangramento de mal a que parece destinada a sociedade contemporânea. Não seria esta a primeira educação que precisamos voltar a praticar?
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Não ao eclipse da empatia. Os desafios do mal e as tendências a inverter. Artigo de Mauro Magatti - Instituto Humanitas Unisinos - IHU