04 Abril 2023
Francisco lembra o sem-teto que morreu recentemente na área do Vaticano: “Penso naquele homem dito 'de rua', alemão, que morreu sob a colunata, sozinho. Ele é Jesus para cada um de nós. Muitos precisam da nossa proximidade, tantos abandonados”. Depois, não falta o apelo à paz na "Ucrânia martirizada".
A reportagem é de Domenico Agasso, publicada por "La Stampa", 03-04-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Sessenta mil lotam a Praça São Pedro para acolher o Papa Francisco após os dias de internação na policlínica Gemelli. Uma grande multidão assiste aos ritos do Domingo de Ramos presididos pelo Pontífice. Bergoglio fazia muita questão de estar presente: durante sua internação por “bronquite infecciosa”, ele insistiu para retornar ao Vaticano o mais rápido possível. E seu pensamento na homilia vai especialmente aos "abandonados, os cristãos de hoje...": enumera e denuncia situações de indigência e fragilidade no mundo, dos "migrantes" considerados "números" às "crianças não nascidas", abortadas.
Confidencia: “Também eu preciso que Jesus me acaricie”. No Angelus agradecerá “pela participação” e a proximidade das pessoas nas horas de seu mal-estar “e também por suas orações, que vocês intensificaram nos últimos dias".
Os cardeais e prelados presentes em Roma participam da missa. Francisco chega no papamóvel até o obelisco para o rito da Bênção das palmas. Ainda está se recuperando, portanto, por cautela, veste um casaco branco sobre o qual foi colocada a estola vermelha para a liturgia. Chega ao adro de carro. Então caminha usando uma bengala, em passos lentos, mas sem a cadeira de rodas, até a cadeira onde se sentará para ouvir a história da Paixão do Senhor. Saiu anteontem do hospital, mas tem forças para ficar duas horas e meia na praça para celebrar a missa com que começa a Semana Santa. Uma função longa e exigente, com a Procissão das Palmas e o Evangelho mais extenso do ano. O Pontífice irá até o fim, e depois realizará, sorrindo, até um passeio no papamóvel para cumprimentar os fiéis, chegando até a via della Conciliazione.
No início, a voz de Jorge Mario Bergoglio é fraca, ligeiramente ofegante. Mas o Papa vai em frente e profere o sermão, centrado na passagem bíblica de hoje em que Jesus pergunta: “Meu Deus, Deus meu, por que me abandonaste?” "Eu também preciso que Jesus me acaricie e se aproxime de mim - diz o Papa – e para isso vou procurá-lo nos abandonados, naqueles que estão sozinhos”. Cristo “deseja-nos cuidemos dos irmãos e das irmãs que mais se assemelham a Ele, e Ele no ato extremo de dor e solidão. Hoje existem muitos "Cristos abandonados”.
Bergoglio cita “povos inteiros explorados e deixados à própria sorte; pobres que vivem nas encruzilhadas de nossas estradas e cujos olhares temos medo de cruzar; migrantes que não são mais rostos, mas números; reclusos rejeitados, pessoas categorizadas como problema”. E existem também "muitos Cristos invisíveis abandonados, escondidos, que são descartados com luvas brancas: crianças não nascidas, idosos deixados sozinhos – pode ser seu pai, sua mãe talvez, seu avô, sua avó, abandonados nos institutos geriátricos – doentes que não recebem visitas, portadores de deficiência ignorados”; e também, jovens com “um grande vazio interior sem que ninguém escute realmente seu grito de dor. E eles não encontram outro caminho senão o suicídio”. Eis que “Jesus abandonados nos pede para ter olhos e coração para os abandonados”.
Francisco lembra o sem-teto que morreu recentemente no perímetro do Vaticano: “Penso naquele homem dito 'de rua', alemão, que morreu sob a colunata, sozinho. Ele é Jesus para cada um de nós. Muitos precisam da nossa proximidade, tantos abandonados”. Depois, não falta o apelo à paz na Ucrânia martirizada.
Na Quinta-feira Santa, Bergoglio celebrará a missa in Coena Domini no cárcere juvenil de Casal del Marmo, uma cerimônia "privada" que será transmitida em streaming ao vivo, como explica o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni. O Pontífice presidirá todos os ritos do Tríduo Pascal com a ajuda de um cardeal celebrante no altar.
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O retorno de Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU