22 Março 2023
Alarme da MSF: refugiados impedidos de passar da Argélia ao Níger, deixados sem assistência. Alarm phone Sahara: muitos depois desaparecem no ar. A Europa aposta em Túnis, na hipótese de alargar as vias legal de entrada.
A reportagem é de Paolo Lambruschi, publicada por Avvenire, 18-03-2023.
Existem milhares de pessoas largadas do "Ponto zero" no Saara e já estão no limite de suas forças. Quase 5 mil migrantes foram impedidos de passar da Argélia para o Níger desde o início de janeiro, com base em um acordo de 2014.
Abandonado no deserto. Mulheres, crianças, menores, homens, nigerianos e de diferentes países da África subsaariana ocidental – ligados pela mesma grande pobreza - estão bloqueados em Assamaka, a Lampedusa do Saara nigeriano, em condições de extrema insegurança, sem acesso aos cuidados de saúde, proteção, abrigo e itens de primeira necessidade.
Uma emergência nunca vista em nove anos de rejeições. Esse é o alerta lançado ontem pelos Médicos Sem Fronteiras, pedindo à Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) para fornecer proteção imediata.
Como muitas vezes denunciaram os "whistleblowers" (aqueles que "apitam", que soam o alarme, ndr) do Alarm phone Sahara, a organização que monitora as rotas migratórias do deserto usando como sentinelas aqueles que há séculos percorrem as trilhas de areia, as deportações de africanos irregulares da Argélia continuam de maneira violenta e em grande escala, às vezes resultando na morte de imigrantes largados no meio da noite no meio do nada, incapazes de se orientar para Assamaka, a primeira cidade da Nigéria, onde se localiza o ambulatório dos MSF e um centro de trânsito da OIM.
Muitos desaparecem. As sentinelas declararam, por exemplo, que, dos 1.124 deportados para o "Ponto zero" na noite de 29 Em outubro de 2022, apenas 818 foram registrados em Assamaka. O destino das outras 306 pessoas permanece um mistério. E permanece sem nome a pessoa que morreu no deserto durante a deportação de 3 de novembro.
Um total de 24.250 migrantes da Argélia foram mandados de volta em 2022 de acordo com o Alarm phone Sahara que, somados aos dos primeiros meses de 2023, perfazem quase 30 mil pessoas. A Argélia, graças aos recursos energéticos, tornou-se há anos um imã de fluxos. Mas aqueles que não estão com os papéis em ordem são rastreados durante as batidas policiais nos locais de trabalho, nas residências ou na rua e depois roubados, maltratados e amontoados em caminhões que transportam os infelizes ao "Ponto Zero", de onde devem então chegar a Assamaka a pé, percorrendo cerca de vinte quilômetros. “A gravidade dos abusos é indiscutível. Os testemunhos dos nossos pacientes e suas condições físicas e mentais comprovam o inferno sofrido durante a expulsão”, denunciou Jamal Mrouch, chefe da missão dos Médici Sem Fronteiras no Níger.
O Centro de Saúde Integrada apoiado pelos MSF em Assamaka está superlotado, com milhares de pessoas que buscam abrigo na estrutura para fugir dos mais de 40 graus durante o dia e do frio à noite.
Eles dormem amontoados em todos os cantos, incluindo áreas de descarte de lixo, arriscando doenças e infecções cutâneas e comendo alimentos cheios de areia. “Uma situação sem precedentes que exige uma resposta humanitária urgente da Comunidade econômica dos estados da África Ocidental, de onde vem a maioria dessas pessoas - conclui Mrrouch - . É nosso dever chamar a atenção para essa grave falta de assistência e sobre os riscos para a saúde dos migrantes, incluindo crianças, abandonados no deserto de Assamaka".
Enquanto isso, na Tunísia, a UE decidiu "redobrar seus esforços" para combater a imigração ilegal que explodiu em 2023, levando a Tunísia a substituir a Líbia como o país de primeira partida (60% das chegadas à Itália vêm de lá). Isso é afirmado por um relatório do Serviço de Ação Externa da UE relançado pela Ansa, que terminará na mesa dos ministros das Relações Exteriores na reunião do conselho na segunda-feira.
O documento propõe uma missão contra os traficantes, o aumento da cooperação para a gestão das fronteiras, para os repatriamentos voluntários, para melhorar as capacidades nas operações de busca e resgate (Sar), bem como a expansão das vias de entrada legais. O documento menciona com “preocupação” a retórica do presidente Saïed contra os migrantes. Quatro organizações para os direitos humanos - Anistia Internacional, Euromed Rights, Human rights watch e Icj Mena - pediram aos chanceleres dos 27 países que pressionem o governo da Tunísia para inverter a rota antidemocrática que levou à prisão de opositores e jornalistas por incentivar as partidas.
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“Milhares sozinhos no deserto do Níger”. Tunísia, plano da UE contra os traficantes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU