13 Março 2023
Um grupo de católicos na Bélgica reagiu fortemente a um livreto recente que afirma que a única forma de matar o clericalismo na Igreja é eliminando o sacerdócio.
A reportagem é de Anne-Quitterie Jozeau, publicada por La Croix International, 09-03-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A insistência de um grupo de católicos leigos na Bélgica de que suprimir o sacerdócio ordenado é a única forma de acabar com o clericalismo foi recebida com uma feroz refutação por parte de outro grupo de leigos no país.
“Não, não queremos uma Igreja sem padres”, disse o segundo grupo em um artigo publicado no dia 4 de março no jornal La Libre Belgique.
O artigo – que foi escrito por Frédéric Close, um magistrado aposentado, e coassinado por outras 19 pessoas – foi uma resposta a um livreto de 60 páginas publicado em 15 de fevereiro, intitulado “Devolvamos a Igreja ao Povo de Deus! Acabemos com o clericalismo". Esse livrinho foi escrito por nove católicos que trabalham no setor de saúde da Diocese de Liège.
“A fim de suprimir o clericalismo, o clero deve ser suprimido”, disseram, sem rodeios.
Seu livreto, que foi visto como um sinal emblemático do mal-estar que muitos católicos belgas sentem em relação ao sacerdócio, condenava a crise dos abusos sexuais clericais. Denunciava a falta de “verdadeiras relações igualitárias e, portanto, fraternas entre os padres e os cristãos ao seu redor”. Também defendia que o cristianismo introduziu “a superação e a anulação de todo o culto, as funções e o sacerdócio sagrados”, dizendo que o cristianismo eliminou a distinção entre sagrado e profano.
Mas o artigo do La Libre Belgique refutou isso. “Uma Igreja sem padres – e, portanto, sem sacramentos – ainda pertence à Igreja de Pedro?”, perguntaram seus autores. Eles disseram que a própria sugestão de eliminar os padres levaria a outros problemas.
“Assumindo que ‘sem padres’ é possível comportar-se como filho (ou filha) de Deus e irmão (ou irmã) dos seres humanos, não é de se temer sobretudo que a sede de poder dos leigos seja amanhã maior do que a do clero hoje?”, perguntaram.
Jean de Codt, também magistrado belga, disse que assinou a carta para “ressaltar que o sacerdócio é uma dimensão essencial da Igreja e que o padre é indispensável para celebrar a missa, oferecer o sacramento da reconciliação e abençoar os casamentos”.
O artigo do jornal não foi o único contra-ataque ao livreto provocativo. Um abaixo-assinado intitulado “Querem matar o sacerdócio” já foi assinado por mais de 1.700 pessoas.
O bispo Jean-Pierre Delville, de Liège, também se manifestou contra o livreto e sua sugestão de que o clericalismo só pode ser encerrado com o fim do sacerdócio.
“Essas palavras são consideradas injustas e ofensivas por muitos padres, diáconos e leigos católicos”, disse ele em um comunicado publicado em 17 de fevereiro no site da diocese. “Eu as percebo como totalmente falsas quando penso na dedicação que vi nos padres e em outros agentes de pastoral da nossa diocese durante os quase 10 anos de meu episcopado”, acrescentou.
“As questões iniciais levantadas pelos autores são muito relevantes, mas as respostas são formuladas de forma grosseira”, disse o bispo de 71 anos.
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Polêmica na Bélgica após grupo exigir uma “Igreja sem padres” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU