02 Março 2023
A guerra no leste europeu dividiu famílias e parentes que vivem na cidade ucraniana de Kharkiv e na cidade fronteiriça russa de Belgorod, a 80 Km de distância. “Uma parte da família está lá, a outra está aqui, isso foi e ainda é muito difícil. Algumas famílias se separaram, elas nem se falam mais. Essas rupturas nas famílias são um problema sério, porque levará décadas para superá-las”.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
A descrição é do bispo da Igreja Evangélica Luterana Alemã (DELKU) na Ucrânia, Pavlo Shvarts. Kharkiv tem cerca de 1 milhão de pessoas e a maior parte da cidade está em pleno funcionamento. A exceção é a parte norte da cidade, que sofreu muito com a guerra, com os ataques de foguetes e outras armas, descreveu.
A Federação Luterana Mundial (FLM) instalou na cidade o que está sendo denominado de “pontos de calor”, um ginásio esportivo de escola onde as pessoas podem se aquecer, carregar seus celulares. “Às vezes também há acesso à internet ou existe a possibilidade de comer alguma coisa”, explicou o bispo, em entrevista ao serviço de imprensa do organismo ecumênico internacional.
Como igreja, disse, “organizamos reuniões e cultos para que as congregações funcionem como grupos de autoajuda onde as pessoas se apoiam. Ao mesmo tempo, envolvemos as pessoas em nossas atividades para que elas não sintam que estão apenas recebendo esmolas, mas também possam fazer algo em troca, como a entrega ou distribuição de suprimentos de emergência para outras pessoas”.
A DELKU é uma igreja pequena e alguns de seus membros fugiram para outras cidades do país ou exterior. “Tentamos manter contato com ambos os grupos, mas também receber novas pessoas em nossas comunidades. Separamos rigorosamente a ajuda humanitária que prestamos dos serviços que prestamos, pois não queremos que as pessoas se sintam obrigadas a comparecer aos serviços”, explicou Schvarts.
Mas há moradores que já estão voltando à cidade sob as mais diversas razões. Alguns, porque suas casas não foram destruídas, e podem dar continuidade às atividades laborais. Mesmo porque alugar uma casa fora dos limites de Charkiw é caro. Outro motivo é simplesmente a vontade de voltar à cidade natal. “Ouço diferentes relatos”, relatou, casos de depressão e a dor emocional de encarar a situação de guerra e destruição.
Além do ponto de calor, a DELKU oferece aulas de informática, aulas para crianças, e ajuda alunos e alunas nos seus trabalhos escolares. “A fé em Jesus Cristo é a motivação mais importante para o nosso trabalho. A fé chama a não sermos indiferentes e ajudar outras pessoas, mas com cautela e previsão. Queremos evitar a criação de novos problemas, por exemplo, gastando em coisas que as pessoas não precisam ou que as fariam perder sua independência e esperar que alguém sempre cuide delas”, explicou.
De qualquer forma, definiu, “é difícil processar tudo o que está acontecendo”.
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Guerra divide famílias na fronteira russa-ucraniana - Instituto Humanitas Unisinos - IHU