Sinodalidade, um estilo de vida da Igreja: “É preciso mais espaço para as mulheres”

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12 Fevereiro 2023

Um ato de amor pela Igreja, apesar “das feridas que ela infligiu”. Uma consciência renovada de que é possível encontrar-se, escutar-se e dialogar a partir das respectivas diferenças. A adoção do modelo sinodal como “estilo de vida da Igreja, de discernimento comunitário e dos sinais dos tempos”. O documento com as “recomendações conclusivas” que encerrou a primeira parte da Assembleia Sinodal Continental da Europa, em Praga, na República Tcheca, não contém apenas a síntese dos trabalhos que, desde domingo passado até o dia 9, envolveram presencialmente 200 delegados das Conferências Episcopais de toda a Europa, mas também propõe uma agenda de temas sobre os quais é preciso “intensificar os esforços”.

A reportagem é de Riccardo Maccioni, publicada em Avvenire, 10-02-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Para citar os mais imediatos, “o acompanhamento das pessoas feridas, o protagonismo dos jovens e das mulheres, a abertura a aprender com as pessoas marginalizadas”. Com efeito, o estilo sinodal “permite também enfrentar as tensões em uma perspectiva missionária, sem ficar paralisado pelo medo, mas haurindo a partir disso a energia para continuar ao longo do caminho”.

Duas dificuldades em particular vieram à tona em Praga. A primeira impele a criar unidade na diversidade, fugindo da tentação da uniformidade. A segunda, ao contrário, vincula “a disponibilidade à acolhida como testemunho do amor incondicional do Pai por seus filhos com a coragem de anunciar a verdade do Evangelho em sua integralidade”.

No documento, há uma constante referência ao encontro entre os diferentes que se expressa na valorização do diálogo ecumênico e inter-religioso, mas sem esquecer a necessidade de que cada comunidade olhe para dentro de si mesma “para dar concretude à igualdade na dignidade de todos os membros da Igreja, fundada no batismo que nos configura como filhos de Deus e membros do corpo de Cristo, corresponsáveis pela única missão de evangelização confiada pelo Senhor à sua Igreja”.

A aprovação do texto com as recomendações conclusivas ocorreu após quatro dias de oração e de trabalhos intensos, durante os quais foram apresentados 39 relatórios nacionais sobre as perguntas do documento preparatório e cujo debate continuou em 13 grupos, enriquecidos com a participação online de 270 delegados das Conferências Episcopais nacionais, divididos, respectivamente, em 12 assembleias.

Um compromisso coletivo foi sublinhado pelo presidente do Conselho das Conferências Episcopais da Europa – CCEE, o arcebispo Gintaras Grušas, segundo o qual “experimentamos o que significa ser uma família, uma Igreja feita de leigos e consagrados, homens e mulheres, sacerdotes e bispos. E pudemos experimentar isso em nível europeu”.

No entanto, ainda há muito trabalho a fazer. Prova disso é a lista daquilo que o documento define como “algumas prioridades a serem enfrentadas”. Uma agenda que, sem designar classificações de importância, parte do compromisso de “aprofundar a prática, a teologia e a hermenêutica da sinodalidade” e conclui com a exigência de “renovar o sentido vivo da missão, para voltar a levar o Evangelho ao sentimento do povo”, “caminhando junto com as pessoas, em vez de falar delas ou para elas”.

Há também um forte convite a “enfrentar o significado de uma Igreja totalmente ministerial” e a “tomar decisões concretas e corajosas sobre o papel das mulheres e sobre seu maior envolvimento em todos os níveis, inclusive nos processos de tomada de decisão”.

Em nível eclesiológico, pede-se para “explorar as formas para um exercício sinodal da autoridade” e para esclarecer “em que nível” as decisões devem ser tomadas. Por fim, olhos abertos sobre as “tensões em torno da liturgia”, de modo a “voltar a compreender sinodalmente a Eucaristia como fonte da comunhão”. Tudo isso tornando todo o povo de Deus protagonista, devendo ser formado na sinodalidade, na consciência de quem são os prediletos do Evangelho.

"O Espírito", afirma o documento, "nos pede para escutar o grito dos pobres e da terra na nossa Europa, e em particular o grito desesperado das vítimas da guerra, que pedem uma paz justa".

Até domingo, a assembleia continuará com a presença exclusiva dos presidentes das Conferências Episcopais nacionais, chamados a reler colegialmente essas jornadas de Praga. Uma experiência marcada por luzes, muitas, e algumas sombras. Em todo o caso, como afirma o texto aprovado no dia 9, tudo a partir do senso de pertença à Igreja, bela na riqueza de sua variedade. E a ser amada apesar dos sofrimentos que provocou e pelos quais deve “pedir perdão para poder verdadeiramente passar para a reconciliação, para a cura da memória e para a acolhida das pessoas feridas”.

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