COP15 Biodiversidade: “Existe o risco de se tornar uma casca vazia”

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21 Dezembro 2022

O filósofo Bourg: "Acordo com valor simbólico, mas por enquanto não há medidas para movimentar realmente as coisas".

A entrevista com Dominique Bourg é de Daniele Zappalà, publicada por Avvenire, 20-12-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

“É um acordo de princípio com um valor simbólico, mas por enquanto faltam as medidas de acompanhamento necessárias para realmente movimentar as coisas”. Assim define o fruto da COP15 no Canadá o filósofo Dominique Bourg, professor honorário em Lausanne e um dos mais conhecidos autores europeus sobre desafios ecológicos, a que dedicou obras fundamentais. Na França, foram publicados neste ano os livros Science et prudence (Puf) e Chaque geste compte (Gallimard), escritos respectivamente com N. Bouleau e J. Chapoutot.

Eis a entrevista.

Como você avalia a COP15?

Além dos anúncios oficiais gerais, como 30% de áreas protegidas, infelizmente temo que os resultados futuros corram o risco de serem decepcionantes, como por exemplo o fato de que ainda não se chegou a um acordo sobre um ponto concreto fundamental como o uso de agrotóxicos e em geral sobre o que realmente destrói os habitats. Parece estar se perfilando um novo acordo vazio que não adere à realidade concreta, tendo, por assim dizer, malhas demasiado largas para poder dar resultados vinculantes.

No entanto, fala-se de progresso...

Depois de tais anúncios, somente os meses seguintes permitem verificar o que há de concreto. Dos 30% de áreas protegidas, sabemos que já existem algumas e há anos vemos que a proteção nelas é, na realidade, mínima. Textos mais detalhados que poderiam tornar a proteção mais efetiva ainda não estão na agenda. Mas conhecemos bem as razões subjacentes pelas quais não há avanço. Dizem respeito principalmente à transformação da economia mundial em um sistema com características cada vez mais predatórias em relação aos recursos.

Os 30% anunciados permitem pelo menos fortalecer quem luta pelos ecossistemas?

Oferece um horizonte de ação, sim. Certamente é melhor do que nada. Mas caso se quisesse seriamente defender 30% das áreas de terra, seria efetivamente necessário adotar medidas e mobilizar recursos realmente enormes. Meios que não se veem no momento. Por esse motivo, como por outros, temo que continue sendo um simples objetivo compartilhado, e não a pedra angular de um acordo real. Hoje, conhecemos as principais causas da extinção progressiva das populações vivas, como a fragmentação dos habitats e o uso de agrotóxicos.

Além disso, acabamos de ultrapassar o limite planetário de acúmulo de microplásticos nos oceanos, ao cruzar a barreira biológica celular. Mas o acordo não menciona isso. E tudo o que poderia dar credibilidade ao objetivo do 30% permanece vago por enquanto, assim como o que poderia ao menos permitir uma nova dinâmica nas políticas de conservação.

Graças a esta COP, a biodiversidade saiu do cone de sombra em que estava?

Sim, estamos começando a falar mais sobre isso no debate público e isso é positivo. Há, sem dúvida, uma maior atenção nessas questões, mesmo que sejam muito mais difíceis de definir do que o clima, porque a evolução do mundo vivo não pode ser facilmente modelada. O tema entrou na agenda pública e é um avanço real, mas infelizmente entrou um pouco tarde.

A Europa está se mostrando à altura?

Em palavras, sim. Mas a própria Europa não é isenta de contradições. Sobre os agrotóxicos, por exemplo, o Conselho de Ministros da Europa acaba de reduzir as medidas tomadas pela Comissão, coincidindo justamente com a COP15. Portanto, não é surpreendente que em Montreal não se tenha feito nenhum progresso nessa questão. Hoje, o executivo europeu parece muito mais vulnerável à ação dos lobbies do que a Comissão.

A “geração Greta” foi parcialmente ouvida?

Não exatamente. É verdade que esses jovens já estão presentes midiaticamente, mas de fato, ao mesmo tempo, as mobilizações em defesa do meio ambiente continuam a ser criminalizadas, como também constato na Suíça.

Sobre a biodiversidade, o que pode alimentar a esperança?

Já o fato de os Estados terem se sentido obrigados a compartilhar um objetivo positivo. No que diz respeito à opinião pública, percebe-se agora na obrigação de não sair de mãos vazias. Há uma sensibilidade crescente na sociedade, a par de uma pressão mediática ligeiramente mais forte, ainda que ainda aquém do que nos dizem os estudos científicos muito sombrios publicados até agora. 

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