14 Dezembro 2022
Uma primeira vez histórica: após o primeiro pontífice romano em um templo valdense (aconteceu com o Papa Francisco em Turim em 2015), eis o primeiro pastor valdense na basílica romana de São Pedro! A data é 22 de novembro passado, e o pastor é Paolo Ricca, convidado a falar em uma Lectio Petri (lição de Pedro) junto com um teólogo ortodoxo, Dimitrios Keramidas, e o católico Dario Vitali, tendo como moderadora a teóloga católica Cettina Militello (e também essa presença feminina é digna de nota).
O comentário é do pastor italiano Luca Maria Negro, presidente da Federação das Igrejas Evangélicas na Itália (FCEI), publicado por Riforma, semanário das igrejas Evangélicas Batistas Metodistas e Valdenses, 16-12-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Ricca começou destacando a novidade do convite: “É certamente a primeira vez na história milenar desta Basílica que é dada a palavra a um pastor da igreja valdense, em liberdade e fraternidade. É um fato absolutamente novo, uma daquelas coisas novas que Deus cria na história do seu povo... É a Igreja ecumênica, ou seja, a Igreja de todos os cristãos, que avança e toma forma, que se torna visível.”
Também o cardeal Gianfranco Ravasi, um dos promotores da iniciativa, havia frisado essa novidade na vigília do encontro: “Pela primeira vez a basílica de São Pedro – lugar que simboliza de forma absoluta a primazia de Pedro – receberá um representante do Protestantismo e da Ortodoxia, em diálogo entre si e com um teólogo católico sobre um tema que poderia parecer um motivo de divisão para as três confissões”, escreveu no site da Diocese de Roma. E o tema era justamente o primado de Pedro.
Como Ricca enfrentou isso? Não apresentou hipóteses de um reconhecimento do primado papal pelo lado protestante, mas com originalidade e ao mesmo tempo com fidelidade aos textos bíblicos propôs uma "multiplicação" do ministério petrino: precisamos de tantos pequenos “Pedros”! O “Tu és Pedro” pronunciado por Jesus (Mateus 16, 18) é, de fato, o eco da afirmação feita pouco antes pelo porta-voz dos apóstolos: “Tu és o Cristo” (16, 16). As duas afirmações são inseparáveis. Pedro – explicou Ricca – na realidade se chamava Simão. Jesus muda seu nome: “Agora serás chamado Pedro, porque tu és uma pedra e sobre esta pedra construirei a minha igreja”.
A razão está no fato de que Pedro é o primeiro a reconhecer Jesus como o Cristo, o Messias esperado. Mas se Pedro é o primeiro, não é o único: “Também nós, com as nossas contradições, fomos chamados a uma tarefa maior do que nós mesmos, como a de Pedro. Pergunto-me se Jesus não queira fazer de nós muitos pequenos ‘Pedros’, ou seja, pequenas pedras domésticas sobre as quais ele, Jesus, quer construir a sua Igreja".
Por que "pedras domésticas"? Porque, concluiu Ricca, “a Igreja cristã não nasceu nas basílicas, nasceu nas casas; a primeira forma da igreja cristã é a igreja doméstica. Então esta poderia ser a Lectio Petri hoje: Jesus precisa de muitos pequenos ‘Pedros’ para a sua Igreja, numa Europa amplamente secularizada, e também nesta cidade”.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Ricca: uma primeira vez histórica - Instituto Humanitas Unisinos - IHU