"Aqui está a relevância da mudança de que precisamos: uma mudança de mentalidade pastoral que toque 'cada coisa'. A esse respeito, portanto, não seria inteiramente natural ter que registrar, mesmo que apenas em um nível inconsciente, um certo temor e terror nos crentes e em seus pastores que os bloqueiam operacionalmente?", escreve o teólogo italiano Armando Matteo, professor de Teologia Fundamental da Pontifícia Universidade Urbaniana e subsecretário adjunto da Congregação para Doutrina da Fé, em artigo publicado por Vita Pastorale, novembro de 2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Leia também, em português, o primeiro, o segundo, o terceiro, o quarto, o quinto, o sexto, o sétimo e o oitavo artigos da série.
Coluna "Opção Francisco", publicada mensalmente pela revista italiana Vita Pastorale . (Foto: Reprodução)
O empenho dos crentes neste momento da história em imaginar um novo modelo de contato com seus contemporâneos para fazer surgir neles o desejo de Jesus parece inteiramente consequente. O modelo ainda vigente é influenciado por uma análise de disponibilidade para aquele desejo específico de homens e mulheres que simplesmente não existem mais. Falo de nossos pais e nossos avós. Nossa maneira de viver as expressões humanas é agora milhões de vezes diferente daquela deles.
É urgente mudar. E é justamente sobre este ponto que é bom refletir, pois é justamente aqui que abordamos as razões que podem explicar a difundida indiferença com que a comunidade católica está acolhendo e traduzindo operacionalmente o magistério de Francisco.
Com efeito, sempre que o tema da mudança é evocado, não podemos deixar de ter devidamente em conta o sentimento de temor que ela evoca. Já a experiência humana mais elementar nos ensina sobre isso. Não é bastante complexo perder alguns quilinhos? Não é particularmente desafiador desistir dos cigarros? Claro que falamos de coisas complexas e desafiadoras! E o são precisamente porque envolvem uma mudança radical na orientação da vida de alguém. Atingir esses objetivos requer uma nova maneira de gerir as coisas. E isso muitas vezes é assustador e nos leva ao fracasso.
Mudar, portanto, mas nunca é fácil ou imediato. Essa verdade resulta ainda mais rica em consequências para aquela mudança de mentalidade pastoral que é o coração da Opção Francisco. Tal operação é recomendada juntamente com o reconhecimento da ineficácia de uma mentalidade pastoral que tem atrás de si séculos de história e, sem ambiguidade, de sucesso na orientação dos homens e das mulheres das gerações passadas para a fé cristã.
Não se trata, portanto, de uma mudança entre muitas, mas de uma mudança de considerável relevância, como Francisco nunca deixa de recordar quando, na Evangelii gaudium 27, declara: "Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo atual que à autopreservação".
Aqui está a relevância da mudança de que precisamos: uma mudança de mentalidade pastoral que toque "cada coisa". A esse respeito, portanto, não seria inteiramente natural ter que registrar, mesmo que apenas em um nível inconsciente, um certo temor e terror nos crentes e em seus pastores que os bloqueiam operacionalmente?
Apesar disso, é preciso reiterar que a opção de Francisco é a mais pertinente para dar um futuro ao cristianismo e um cristianismo para o futuro. E se o medo não é infundado, o antídoto para o medo não está longe de nós: é exatamente aquela disponibilidade ao gesto do sonho, com a qual começava a citação do Papa Francisco citada acima.
O olhar que Armando Matteo tem - agora está claro - é um olhar puramente ocidental. No entanto, é preciso dizer que, além da resistência natural à mudança, falta um planejamento saudável na Igreja. Vou dar um exemplo. Quantas energias e recursos foram gastos na iniciação cristã (catecismo) e quantas, ao contrário, são gastas na catequese dos adultos? A Itália, como todo o Ocidente, é um país em morte demográfica. De que adianta uma pastoral inteiramente centrada nas crianças e nos adolescentes quando estes, em algumas décadas, serão uma "raridade" (digo isso de forma provocativa)? Existem indicações para uma saudável planificação pastoral, mas não querem ser vistas nem apreendidas. Certamente a transição para outro tipo de pastoral não é simples, mas algo já pode ser iniciado agora. Continua a ser realizado uma pastoral substancialmente idêntica a 20/30 anos atrás. Uma mudança de mentalidade é, sem dúvida, necessária. Mas o querer ir para atrás, como o chama Francisco, parece prevalecer e digo isso com pesar porque "sempre foi feito assim" e não pode ser feito de outra forma (ao que parece).