07 Dezembro 2022
"Naquele ponto, não estaremos mais interessados em questionar as razões da migração. Estaremos obcecados com uma única preocupação: como convencer os migrantes a nos salvar", escreve Meraf Villani, em artigo publicado no site da revista África e reproduzido por Settimana News, 05-12-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Mais de 80% dos migrantes africanos não deixam seu continente. Apenas uma pequena parte tenta chegar à Europa. E, ao contrário dos clichês e de uma específica propaganda, os imigrantes na Itália não vêm das camadas mais baixas de suas sociedades de origem ou dos países mais pobres.
Um clichê descreve os migrantes como pessoas extremamente pobres, vidas de Países quebrados, na busca desesperada de uma maneira de garantir a sobrevivência. A realidade é diferente. Os imigrantes geralmente não vêm das camadas mais pobres de seu país de origem, mas das classes médias, ainda que frágeis ou em risco de empobrecimento.
Emigrar custa caro. O investimento para chegar à costa italiana pode ultrapassar dez mil dólares. Os mais pobres não têm recursos suficientes. E a escolaridade de quem chega à Itália é, em média, boa, em relação aos padrões dos países de origem.
Os migrantes deslocam-se porque aspiram a melhorar suas condições: a esperança e as ambições contam mais do que o desespero.
Não só isso: se compararmos a lista dos países que fornecem o maior número de emigrantes para a Itália, mas também em maior escala, com os rankings mundiais baseados no Índice de Desenvolvimento Humano, descobrimos que os países mais desafortunados, como os da África subsaariana, participam muito pouco das migrações internacionais.
Acima de tudo, enviam poucos emigrantes para o Ocidente desenvolvido. O ranking das primeiras comunidades africanas na Itália – que no total não representam mais de 15% dos imigrantes – é liderado pelo Marrocos, seguido pelo Egito, Nigéria, Senegal e Tunísia. Países africanos mais pobres não têm comunidades de imigrantes significativas.
A este propósito, deve-se recordar que apenas uma percentagem mínima de pessoas forçadas ou levadas a deixar o seu próprio país tenta chegar à Europa. Dos 35 milhões de migrantes subsaarianos registrados no ano passado, apenas uma minoria de 6 milhões de pessoas deixou o continente.
Grande parte atravessou as fronteiras, mas muitas vezes apenas para se deslocar para um país vizinho (Nigéria, Costa do Marfim, Senegal, Etiópia, África do Sul e Quênia representam os principais polos regionais de atração). Claro, uma variável a levar em consideração é a instabilidade política, que pode gerar migrações em massa.
Basta pensar no que aconteceu na Líbia e na Tunísia na época da chamada Primavera Árabe, que provocou a queda de regimes graníticos, abrindo fases de profunda incerteza e insegurança. Hoje as guerras no Sahel, Tigré, norte de Moçambique e leste do Congo geram milhões de deslocados e refugiados.
E cada vez mais fenômenos climáticos extremos, como enchentes ou secas, levam as pessoas a deixar suas casas para se refugiar em outro lugar. A insegurança alimentar causada pela emergência climática está afetando especialmente os cinturões do Sahel e do Chifre da África, contribuindo ainda mais para pressionar as frágeis economias locais.
O boom populacional está fadado a aumentar a pressão do homem sobre o meio ambiente. Até 2050, a população africana duplicará, chegando a 2,5 bilhões (1 em cada 4 habitantes do mundo). Só a Nigéria será habitada por 450 milhões de pessoas.
Terras férteis e fontes de água se tornarão cada vez mais escassas em relação às necessidades crescentes. Novas pessoas decidirão emigrar. Principalmente se as desigualdades sociais forem ulteriormente exacerbadas.
Os dados do Banco Mundial são eloquentes: um subsaariano ganha em média 1.700 dólares por ano, enquanto a renda média dos cidadãos da zona euro é de 37.400 euros. No mesmo período em que a África duplicará sua população, a Itália se despovoará (segundo o Istat, o país está destinado a perder seis milhões de habitantes) e envelhecerá (mais da metade de seus cidadãos estarão em idade de aposentadoria).
Naquele ponto, não estaremos mais interessados em questionar as razões da migração. Estaremos obcecados com uma única preocupação: como convencer os migrantes a nos salvar.
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África: o que leva as pessoas a migrar? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU