19 Agosto 2022
"Apostolado do padre James Martin e da irmã Jeannine Gramick com os LGBT+ é a linha de apostolado que o papa tem demonstrado apoio".
O artigo é de Luís Corrêa Lima, sacerdote jesuíta, professor da PUC-Rio e autor do livro Teologia e os LGBT+: perspectivas históricas e desafios contemporâneos (Ed. Vozes), publicado por Dom Total, 17-08-2022.
O papa Francisco escreveu novamente ao padre jesuíta norte-americano James Martin, conhecido por seu trabalho com os LGBT+. Uma novidade importante nesta carta é a referência explícita ao “Outreach 2022”, um evento cujo folheto o papa recebeu semanas antes. Trata-se da Conferência do Ministério Católico LGBTQ, planejada para se realizar na Universidade de Fordham, em Nova Iorque, nos dias 24 e 25 de junho, mês do Orgulho LGBT+. Francisco felicita Martin por conseguir realizá-la presencialmente e conclui: “Encorajo-vos a continuar trabalhando na cultura do encontro, que encurta distâncias e nos enriquece com as diferenças, tal como fez Jesus, que se aproximou de todos”.
Sobre a realização da Conferência, participantes testemunharam que todo o evento foi edificante e criou um ambiente em que católicos LGBT+, pais e aliados se reunissem, criassem comunidade e se sentissem bem-vindos em um espaço eclesial seguro. Constatam que há muito poucos espaços na Igreja onde eles podem ser plenamente quem são, expressando sua pertença sem reservas. Sentiram-se à vontade para discutir problemas e oposições que enfrentam neste ministério. Comentaram que muitos na liderança da Igreja possuem uma compreensão incompleta de quem são os católicos LGBT+ e de que necessidades têm, especialmente quando estes não são brancos, homens e privilegiados.
Um dos depoimentos mais marcantes e encorajadores foi o da irmã Jeannine Gramick, fazendo um balanço de seus 50 anos neste ministério. É uma vida de muita luta que enfrentou muitos anos de duras oposições, incluindo condenações eclesiásticas. Ela disse:
“Cada pessoa tem a responsabilidade de contar sua história, mas contar nossas histórias pode ser muito assustador. Muitas pessoas LGBTQ sentiram medo durante grande parte de suas vidas. O que minha família vai dizer se eu contar minha história? Os paroquianos que me conhecem ainda me respeitarão e não me excluirão? Contar nossas histórias envolve risco. Pode significar pular de um galho sem ninguém para nos amparar se cairmos.
[...] Deus cuida de nós se confiarmos, mesmo quando tivermos medo de falar ou realizar ações que acreditamos serem corretas, embora possam não garantir um resultado bem-sucedido. Proclamar a nossa verdade, especialmente quando ocupamos uma posição minoritária, seguindo por onde acreditamos que Deus nos chama, mesmo que o caminho pareça sombrio, enfrentando uma situação injusta na igreja ou na sociedade – essas e outras circunstâncias parecem nos levar para além de onde ‘pessoas sensatas’ vão.
Mas Deus está sempre conosco. Somos chamados a arriscar subir e ir àqueles galhos de árvores porque é aí que encontraremos uma recompensa frutífera. Eu colhi este fruto em 2021, quando o papa Francisco me escreveu parabenizando-me pelos meus 50 anos de ministério com os LGBTQ”.
O apostolado do padre James Martin e da irmã Jeannine Gramick com os LGBT+ é a linha de apostolado que o papa tem demonstrado apoio. Nesta mesma linha está a Rede Global de Católicos Arco-íris e a Rede Nacional de Católicos LGBT. Assim se promove a cultura do encontro que nos enriquece com as diferenças, a exemplo de Jesus que se aproximou de todos.
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O Papa e o Apostolado com os LGBT+. Artigo de Luís Corrêa Lima - Instituto Humanitas Unisinos - IHU